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A necessidade faz o ladrão: Solend rouba conta de usuário, mas volta atrás e devolve

chave de arrombar cadeado com logo da Solend

O protocolo de liquidez, Solend, construído na Solana aprovou uma proposta de roubar a conta de uma baleia, mas com o preço subindo e a ameaça de liquidação passando, voltaram atrás “com o rabo entre as pernas” e devolveram a conta para seu dono. Entenda o que isso significa em termos de segurança e descentralização.

O caso envolve mais uma vez uma situação de liquidação de posição alavancada, como estamos vendo acontecer com diversas empresas de “boa reputação” no mercado que estão tomando atitudes desesperadas e antiéticas em meio à queda de preço, que vem gerando perdas e risco de insolvência.

Saiba mais:

Comentei aqui sobre o efeito “castelo de cartas” que está acontecendo.

Proposta SLND1 – Solend rouba conta de baleia

Fazendo jus ao ditado popular “a necessidade faz o ladrão”, em meio a um momento de puro desespero, o protocolo de liquidez de Finanças ‘Descentralizadas’ (DeFi), Solend, criou uma proposta de governança de emergência que foi votada durante o final de semana.

A proposta tinha o objetivo de aprovar uma “atualização de contrato inteligente” que daria, à equipe de desenvolvedores da Solend, poder absoluto para confiscar fundos e contas de usuários da plataforma, em situações que eles descrevem como “emergenciais”. Mais ou menos como funciona uma “lei marcial” em um país, que confere poder absoluto e arbitrário para os governantes – que jamais seriam aprovados em uma “situação normal”.

Não preciso dizer o quanto isso é péssimo e cria premissas perigosíssimas, evidenciando uma falha de segurança no uso futuro da plataforma, já que “situações emergenciais” são subjetivas e arbitrárias.

Um dos principais pontos que garantem a segurança das finanças descentralizadas e a grande vantagem em relação ao sistema tradicional, é exatamente combater a arbitrariedade e não depender da “confiança” em uma ou outra instituição que pode ser corrompida ou se transformar em um ladrão, de acordo com a necessidade.

Entenda o que aconteceu com a Solend

Na proposta, eles explicam que têm tentado estabelecer contato com uma baleia, detentora da maior posição de empréstimo em SOL na plataforma, desde o dia 13 de junho, sem sucesso.

No dia 18 de junho, sábado, publicaram, no Twitter, uma mensagem on-chain enviada para o usuário, na tentativa de influenciar a decisão da baleia sobre seu próprio dinheiro.

“Manter os fundos dos usuários seguros é a principal prioridade da Solend. Por favor, reduza sua posição de tal forma que seu limite de liquidação seja inferior a US$ 18,50 nas próximas 24 horas, ou teremos que explorar outras opções.”

Mensagem da Solend ampliada, conforme traduzido acima.

A mensagem é literalmente uma ameaça de: “faça, com seu dinheiro, o que nós mandamos; ou teremos que tomar outras medidas [como roubar, por exemplo]”.

O risco existia, conforme descrito na proposta de governança SLND1 da Solend, porque a posição da baleia tinha as seguintes características:

  • Total depositado em SOL para empréstimo: 5,7M SOL (US $170M);
  • Total conseguido como empréstimo: $108M USDC
  • Preço de liquidação da SOL: US $22,30

O que significa que o usuário conseguiu $108 milhões de USDC emprestado no Solend, ao deixar 5,7 milhões de SOL como colateral. Caso o preço SOL/USDC atingisse o valor de US $22,30 (que passou perto com a queda do final de semana), a posição seria encerrada e as SOLs depositadas seriam vendidas automaticamente na Exchange Descentralizada (DEX).

Da mesma forma como vem acontecendo com o BTC, uma venda deste tamanho (responsável por mais de 20% dos fundos do protocolo), faria com que o preço da Solana (SOL) despencasse ainda mais. O que poderia gerar uma série de liquidações em cascata, derrubando o preço mais e mais, em efeito dominó.

Claro que isso seria ruim para os investidores, mas este é um dos riscos em criar uma economia toda baseada em alavancagens e empréstimos e, quem joga este jogo, deve(ria) estar ciente dos riscos.

Por mais caótica que seja a situação, ninguém nunca deveria ser capaz de confiscar os fundos de outra pessoa em nenhuma plataforma financeira, mas muito menos em um ecossistema descentralizado e criptografado. Apenas os donos da chave privada podem decidir sobre seus fundos. Esta é a premissa máxima e inviolável das criptomoedas.

O roubo da conta, segundo a proposta, teria o objetivo de vender os fundos do usuário através de Operação de Balcão (OTC), para minimizar os impactos no preço.

Nova proposta SLND2 – Solend

Por incrível que pareça, o investidores da Solend decidiram abrir mão de sua segurança e descentralização e, no domingo, votaram de forma positiva sobre a proposta, autorizando a Solend a roubar a conta da baleia com 97,5% de aprovação.

Votação com 97,5% de aprovação para Solend roubar a baleia. 1.155.431 votos sim contra 30.101 votos não.
Fonte: SLND1

No entanto, o mercado e a opinião pública nas redes sociais se demonstraram bastante contrários à primeira decisão de roubo (ainda bem). Com os preços voltando a subir, a “ameaça” mais urgente de liquidação acabou sendo postergada, o que deu a oportunidade da equipe da Solend voltar atrás na decisão anterior.

Eles emitiram uma nova proposta de governança, a SLND2, votando para invalidar a anterior, que também foi aprovada.

O que isso mostra sobre o projeto é que a governança do projeto não respeita decisões, contratos inteligentes e regras básicas. Sendo instáveis em sua governança e podem mudar decisões a qualquer momento.

Saiba mais: “Sistemas descentralizados são muito democráticos” – segundo CTO da Ripple, sobre Solend

O risco de investimento na plataforma aumenta muito com este cenário e a recomendação é que os investidores se mantenham longe. Os fundos dos usuários estão em risco enquanto estiverem depositados na custódia da Solend.

Proposta da SLND2, conforme link. 99,8% de aprovação.
Fonte: SLND2

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