Mercado de criptomoedas enfrenta pressão vendedora enquanto economia global desacelera
O Bitcoin registrou queda de aproximadamente 2% nas últimas 24 horas, negociando próximo a US$ 87 mil nesta terça-feira (16 de dezembro), em um contexto de volatilidade crescente nos mercados financeiros globais. A criptomoeda não conseguiu se manter acima dos suportes recentes, estendendo uma sequência de perdas que já dura quatro dias.
Saídas massivas de ETFs pressionam Bitcoin
Um dos principais fatores por trás da queda é o fluxo negativo de fundos de investimento. Saídas líquidas de ETFs de Bitcoin atingiram US$ 357,6 milhões — o maior valor desde 20 de novembro — sinalizando uma mudança no sentimento dos investidores institucionais. Analistas apontam que esses fluxos estão exercendo pressão significativa sobre o preço da principal criptomoeda.
Os níveis técnicos críticos a serem observados são o suporte em US$ 84 mil a US$ 85 mil. Caso esse nível seja rompido, analistas alertam para uma possível queda até US$ 74 mil, o que representaria um teste dos mínimos do ano.
Ethereum acompanha fraqueza do mercado cripto
O Ethereum, segunda maior criptomoeda por capitalização de mercado, acompanhou a fraqueza geral do setor, sem apresentar sinais de força independente frente à pressão vendedora em Bitcoin. A correlação entre as duas principais criptomoedas permanece elevada, refletindo o comportamento do mercado como um todo.
Economia global desacelera e afeta sentimento de risco
A pressão sobre os ativos de risco, incluindo criptomoedas, está diretamente ligada aos sinais de desaceleração econômica observados nos últimos dias. Nos Estados Unidos, o PMI composto preliminar caiu para 53,0 em dezembro, ante 54,2 em novembro — o menor nível desde junho. Esse indicador reflete a queda em novos pedidos tanto no setor industrial quanto de serviços.
O PMI de serviços dos EUA caiu para 52,9 em dezembro, enquanto o PMI industrial ficou em 51,8, sinalizando que o crescimento da atividade empresarial está perdendo força antes das festas de fim de ano.
Brasil e América Latina enfrentam desafios econômicos
No Brasil, o cenário também é desafiador. O Ibovespa caiu abaixo dos 160 mil pontos após a divulgação da ata do Copom, enquanto o dólar subiu 0,23%, cotado a R$ 5,4228. Apesar de uma queda de 12,25% no ano, a moeda americana permanece pressionada por remessas de lucros e queda nos preços do petróleo.
A Selic atingiu 15% — o maior nível desde 2006 — encarecendo o crédito e reduzindo o consumo. Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), a economia da região crescerá apenas 2,4% em 2025, com o Brasil em 2,5%. Esses números refletem a fraqueza da demanda interna e a incerteza global.
Geopolítica e tarifas de Trump ampliam incerteza
O contexto geopolítico também contribui para a volatilidade nos mercados. As políticas de tarifas impostas pela administração Trump visam restaurar a hegemonia econômica dos EUA, mas geram impactos diretos no comércio internacional. Para o Brasil, isso pode forçar uma maior aproximação com a China, alterando fluxos comerciais e negociações.
A nova estratégia de segurança nacional dos EUA, divulgada no início de dezembro, criou tensões adicionais com instituições europeias, gerando oscilações geopolíticas que afetam investimentos transatlânticos e acordos comerciais.
Regulação de criptomoedas nos EUA em transição
No front regulatório, há sinais de mudança na abordagem das autoridades americanas. A votação do projeto de lei CLARITY Act, que definiria a estrutura de mercado para criptomoedas, foi adiada para 2026. Isso deixa em aberto a questão sobre qual agência — SEC ou CFTC — terá autoridade regulatória sobre o mercado à vista de criptomoedas.
Paul Atkins, presidente da SEC, alertou que criptomoedas e blockchains podem se tornar “ferramentas poderosas de vigilância” se reguladas de forma inadequada, pedindo equilíbrio entre aplicação da lei e proteção de privacidade. Relatórios indicam que a SEC tem reduzido ações contra empresas de cripto, com quase 60% dos casos sendo dispensados ou adiados.
A FDIC também propôs a primeira regra de stablecoin a emergir da legislação americana, sinalizando que a regulação específica avança por vias administrativas.
O que esperar nos próximos dias
Analistas recomendam monitorar atentamente os seguintes fatores:
- Fluxos de ETFs: Entradas ou saídas contínuas podem determinar a direção do preço do Bitcoin
- Dados macroeconômicos: Relatórios econômicos dos EUA podem ampliar a volatilidade
- Níveis técnicos: Suporte em US$ 84 mil-85 mil e resistência em US$ 89 mil-90 mil
- Desenvolvimentos geopolíticos: Mudanças nas políticas comerciais podem afetar o sentimento de risco global
Conclusão
O Bitcoin enfrenta um período desafiador, com pressão vendedora vindo de múltiplas frentes: saídas de ETFs, desaceleração econômica global, incertezas geopolíticas e mudanças nas políticas comerciais. Enquanto isso, o mercado aguarda clareza regulatória nos EUA e sinais de estabilização econômica. Investidores devem permanecer atentos aos níveis técnicos críticos e aos desenvolvimentos macroeconômicos que podem determinar a próxima direção do mercado de criptomoedas.