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EUA e China caminham para uma guerra fria de tecnologia

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A guerra pelas informações, China ameaça EUA

A prisão de uma importante executiva da Huawei aumenta a importância da intensificação da batalha entre os Estados Unidos e a China pela supremacia tecnológica. A Huawei é uma das maiores fabricantes mundiais de smartphones e equipamentos de rede. Está no centro das ambições da China reduzir sua dependência de tecnologia estrangeira e se tornar uma potência de inovação por si só. A verdade é que nesse momento, de forma indireta, a China ameaça EUA, tomando um passo adiante na guerra pela informação.

O país está injetando centenas de bilhões em seu plano “Made in China 2025″, que visa tornar a China uma líder global em setores como robótica, carros elétricos e chips de computador. A introdução da tecnologia sem fio 5G, que depende da Huawei, é uma das principais prioridades.

Os Estados Unidos, entretanto, deixaram claro que pretendem empurrar de volta contra o crescente poder tecnológico da China, a fim de manter o domínio americano. “No século 20, aço, carvão, automóveis, aviões e navios – e a capacidade de produzir coisas em massa – eram as fontes do poder nacional”, disse James Andrew Lewis, diretor do Programa de Políticas Tecnológicas do Centro para Estratégias.  “As fundações da segurança e do poder são diferentes hoje em dia. A capacidade de criar e usar novas tecnologias é a fonte da força econômica e da segurança militar”.

É através dessa ótica que alguns no governo chinês vêem a prisão da diretora financeira da Huawei, Meng Wanzhou. Meng foi detida em 1 de dezembro no Canadá, a pedido de autoridades norte-americanas que buscavam sua extradição. “Os EUA estão tentando fazer o que for possível para conter a expansão da Huawei no mundo, simplesmente porque a empresa é o nome certo para as empresas de tecnologia competitivas da China”, disse um editorial na quinta-feira no jornal estatal China Daily.

O caso de Meng poderia escalar rapidamente uma luta mais ampla que está sendo constantemente construída. Muito depende da linguagem que os Estados Unidos usam para avançar – e como a China finalmente responde. No sábado, a China disse que a prisão de Meng “violou gravemente os direitos e interesses legais e legítimos do cidadão chinês, é ilegal, sem razão e cruel, e é extremamente cruel”.

Pressão crescente

As aspirações tecnológicas da China atraem preocupação nos Estados Unidos há anos – especialmente porque os objetivos de Pequim são vistos como dependentes da apropriação indébita da tecnologia americana. O presidente Donald Trump tentou abordar essas questões diretamente. Seu governo diz que as centenas de bilhões de dólares em tarifas que são cobradas dos produtos chineses fazem parte de um esforço para impedir que a China roube a tecnologia dos EUA.

As autoridades também dizem que a China deve parar de forçar as empresas a entregarem segredos comerciais como condição de acesso ao mercado. Enquanto isso, os Estados Unidos têm como alvo empresas de tecnologia chinesas que dependem de peças dos EUA. Em abril, o Departamento de Comércio proibiu empresas norte-americanas de exportar componentes essenciais para a ZTE, que, segundo a agência, haviam violado um acordo anterior que punia a empresa por burlar as sanções ao Irã e à Coréia do Norte.

Isso forçou a ZTE a suspender quase todas as suas operações por meses. Em outubro, o departamento divulgou uma proibição similar de exportação para a estatal chinesa de chips Fujian Jinhua. O governo dos EUA disse que representa “um risco significativo de se envolver em atividades que são contrárias aos interesses de segurança nacional dos Estados Unidos”.

Ao mesmo tempo, o presidente chinês, Xi Jinping, vem pressionando para que o setor de tecnologia da China se torne mais auto-suficiente, cortando a dependência de fornecedores estrangeiros. No entanto, voltar a atenção para a Huawei acrescenta uma novo ingrediente a essa disputa. A Huawei é uma campeã do estado que desempenha um papel crucial no lançamento da 5G na China.

A empresa investiu pesado em pesquisa e desenvolvimento e na comercialização de seus dispositivos 5G. Paul Triolo, chefe da política global de tecnologia em consultoria de risco Eurasia Group, disse que é a única empresa no mundo atualmente capaz de produzir todos os elementos de uma rede 5G, como estações base, centros de dados, antenas e aparelhos, e colocar eles juntos “em escala e custo”.

“Xi Jinping diz que quer que a China domine o mercado 5G globalmente”, disse Lewis à CNN Business. “Muita gente vê isso como a próxima onda de tecnologia [e pensa] que será como a internet ou os smartphones”.

O risco da Huawei

Mas para a Huawei ter sucesso na construção de redes 5G, ela precisa dos Estados Unidos. Dos 92 principais fornecedores da Huawei, 33 são empresas norte-americanas, incluindo as fabricantes de chips Intel, Qualcomm e Micron, e as empresas de software Microsoft e Oracle, disse Tom Holland, da Gavekal Research, em nota nesta sexta-feira. “Se Washington agora proibir essas empresas de vender para a Huawei, a gigante de telecomunicações chinesa lutará para sobreviver”, disse Holland.

O caso Meng, então, tem ramificações importantes. O governo dos EUA alega que Meng encobriu violações de sanções ao Irã, segundo promotores canadenses, que falaram na audiência de fiança de Meng em Vancouver na sexta-feira. Se a Huawei enfrenta problemas legais ainda precisa ser vista, embora haja especulações de que a empresa possa receber uma proibição de exportação devido a violações de sanções como a imposta à ZTE.

Tal proibição, se promulgada, seria catastrófica para a empresa – e inviabilizaria os planos de Pequim de implantar o 5G em larga escala comercial até 2020. “A prisão do CFO da Huawei no Canadá aumentará significativamente a incerteza da implemengação da rede de 5G da China, já que qualquer proibição de exportação imposta à Huawei pode atrasar o lançamento do 5G na China, ou reduzir significativamente a escala no curto prazo”, disse Edison Lee, analista da Jefferies. Sexta-feira. Tal proibição forçaria o negócio da Huawei a “parar”, acrescentou.

Neste cenário, os Estados Unidos têm a vantagem. “Eles são dependentes, o que os coloca em uma posição fraca”, disse Lewis. A Huawei já se deparou com problemas na implantação de sua tecnologia 5G em meio a preocupações de que seus dispositivos apresentem riscos à segurança nacional. A Nova Zelândia e a Austrália proibiram os equipamentos da Huawei de suas redes móveis 5G. O grupo de telecomunicações do Reino Unido, BT, disse no começo da semana que não compraria equipamentos da Huawei para o núcleo de sua rede sem fio 5G.

Mas penalizar formalmente a Huawei pode ter sérias consequências em como a guerra tecnológica entre EUA-China se desenrola. “Eles vão acelerar seus esforços para se tornarem independentes e procurarão maneiras de nos enganar”, disse Lewis, observando que a China pode reduzir pedidos de aviões da Boeing ou atacar empresas norte-americanas por violações da lei chinesa. “A esperança deles é que em 10 anos eles não precisem mais de nós.”

Impacto no mercado

Esse duelo de titãs está levando investidores ao pânico ao redor do mundo. As bolsas americanas e asiáticas estão apresentando seguidas quedas e a economia global promete desacelerar. O fato é que a guerra comercial já está acontecendo desde julho e pode se acirrar ainda mais depois da prisão da CFO da Huawei. Obviamente, a BOVESPA é extremamente afetada por isso e também sofre perdas com os desdobramentos desse duelo. Alguns economistas começam a projetar 2019 como o fim do ciclo de crescimento econômico e início de uma grande crise. Precisamos esperar para ver os desdobramentos.

Traduzido e adaptado de CNN Business.

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