Em maio deste ano, o primeiro laboratório do país foi autorizado a desenvolver remédios com um composto encontrado nos chamados ‘cogumelos mágicos’, a psilocibina. No restante do mundo, esse princípio ativo vem sendo o destaque de uma tendência no mundo farmacêutico, a indústria psicodélica, a qual foca nos tratamentos para condições psicológicas e mentais a partir de compostos como o MDMA e LSD.
De acordo com um relatório a respeito do segmento feito pelo grupo Psych/Blossom em 2021, a estimativa é de que a indústria psicodélica valha US$ 190 milhões, podendo alcançar os US 2,4 bilhões até 2027. E, como na maioria das vezes, o Brasil está para trás – pelo menos até agora. Percebendo a oportunidade, a startup brasileira Biocase lançou uma criptomoeda própria que servirá para financiar pesquisas na área e registrar medicamentos.
“Qualquer um pode investir, com uma pequena fração do que faria um investidor qualificado, e com a vantagem de financiar algo inovador no campo da medicina aqui no Brasil” afirma o CEO da Biocase, Sérgio Fadul. “Todos os produtos desenvolvidos serão comercializados exclusivamente por meio da cripto, ou precificados por ela no caso de compras realizadas pelo sistema público”, afirma Fadul.
A moeda se chama BioTrip, e os remédios também servirão como lastro, o que não é tão comum assim, mesmo em moedas voltadas para a pesquisa científica. De qualquer forma, o potencial é grande: para se ter noção, o Brasil é o maior mercado latinoamericano de criptomoedas e o sétimo maior do mundo.
Hoje em dia, é possível encontrar estabelecimentos comerciais em ambiente virtual que aceitam moedas digitais, como é o exemplo das casas de apostas que aceitam bitcoin com o objetivo de trazer segurança, privacidade e praticidade a seus usuários. Além do bitcoin, algumas dessas plataformas também aceitam ethereum e oferecem bônus para novos apostadores, seja no formato de odds maiores, lucro turbinado ou reembolso.
BioTrip
Mesmo com o tamanho do mercado cripto no Brasil, a Biocase ainda não pode aproveitá-lo em sua totalidade. Isso porque, semelhante a outras criptomoedas, a BioTrip só pode ser negociada daqui a alguns meses, após cumprir a meta de captar US$ 5 milhões para o desenvolvimento de duas drogas.”Após atingirmos 60% da meta ou após três anos [do lançamento], aí vamos liberar para negociação no mercado aberto”, explica Fadul.
De acordo com o coordenador de emissão da moeda, Kristopher Pinheiro, “o valor
inicial de uma BioTrip é de um dólar até abrirmos o book de ofertas”. Já a distribuição de receitas irá seguir um padrão internacional, onde 75% dos recursos irão diretamente para os estudos clínicos, 15% para a reserva de liquidez (necessária por conta de possíveis flutuações) e 10% para custos operacionais.
Compra e uso de remédios
Como terá uma utilidade real, que é a compra de um produto médico, a BioTrip também pode ser considerada uma utility token. Porém, apesar de poderem adquirir o token, pessoas comuns não terão acesso aos medicamentos produzidos – apenas pessoas jurídicas com licenças para isso, como farmácias e hospitais.
“Para a grande maioria dos compradores o que vai valer mesmo é a valorização da criptomoeda ao longo das entregas das fases dos nossos projetos”, conta Fadul.
A compra também está sujeita a certas regras sanitárias, já que a psilocibina ainda está na lista F2 da Anvisa de substâncias psicotrópicas de uso proscrito. Mesmo se pessoas comuns pudessem adquirir o medicamento, não poderiam aplicar o tratamento, que depende da presença de dois terapeutas por pelo menos oito horas. Além disso, há etapas de preparação do paciente para o recebimento da substância.
A primeira pesquisa da Biocase com psilocibina provavelmente iniciará ainda este ano, sendo conduzida pelo braço da empresa para o desenvolvimento de terapias psicodélicas, o Instituto Alma Viva.