O diretor executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a Rússia, Aleksei Mozhin, expressou preocupação com o crescente uso do dólar americano como uma arma, tendência que está levando muitas nações a buscar moedas alternativas para o comércio internacional.
Mozhin destacou as recentes sanções econômicas e financeiras impostas pelos EUA e seus aliados à Rússia, em resposta às suas ações na Ucrânia. Essas medidas incluíram o congelamento de aproximadamente 300 bilhões de dólares das reservas russas e a exclusão dos bancos russos do sistema de pagamento transfronteiriço SWIFT, que é dominado pelo dólar e pelo euro. Isso levou a uma economia global mais fragmentada, com países sendo forçados a procurar alternativas ao dólar para suas transações comerciais internacionais.
“O uso descarado do comércio internacional, das finanças e do dólar e do euro como armas pelo Ocidente tornou a fragmentação da economia mundial não apenas inevitável, mas também irreversível“, afirmou Mozhin.
O uso do dólar como arma refere-se ao uso da posição dominante do dólar americano nas finanças internacionais como uma ferramenta para exercer pressão econômica e cumprir objetivos de política externa. Isso é possível porque o dólar é a principal moeda de reserva em todo o mundo, usada na maioria das transações internacionais. Quando os países são impedidos de acessar dólares, isso pode prejudicar seriamente sua capacidade de se envolver em comércio e finanças globais.
Mozhin explicou ainda que o uso do dólar como arma levou a uma situação em que as nações são compelidas a contornar a moeda americana nas liquidações de comércio internacional. Essa mudança já é evidente entre países como Irã, Brasil e Arábia Saudita, que estão optando cada vez mais por negociar em yuan, não apenas com a China, mas também com outras nações.
“Os próprios americanos criaram uma situação em que a busca por alternativas ao dólar inevitavelmente começou. E agora vemos como está acontecendo… Vemos que iranianos, brasileiros e sauditas já estão mudando para o comércio em yuan não apenas com a China, mas também com países terceiros“, acrescentou Mozhin.
Em maio, foi relatado que a China havia assinado acordos com vários países para liquidar 582,3 bilhões de dólares em comércios globais em yuan, numa tentativa de contornar o dólar. Essa medida é vista como parte da estratégia mais ampla da China de internacionalizar sua moeda e reduzir sua dependência do dólar.
No início deste mês, Andrey Kostin, o diretor-executivo do segundo maior banco da Rússia, sugeriu que o yuan poderia potencialmente destronar o dólar, já que a China parece estar no caminho para aliviar suas rigorosas restrições cambiais
A escalada do uso do dólar como arma e a subsequente mudança global para moedas alternativas poderiam ter implicações significativas para o futuro do comércio e das finanças internacionais. A situação sublinha a necessidade de um sistema financeiro global mais inclusivo e equitativo, menos suscetível a manipulação política e sanções unilaterais.
A possível ascensão do yuan como moeda de reserva global poderia remodelar a paisagem financeira internacional, reduzindo a influência dos EUA e potencialmente levando a um sistema de moeda multipolar. No entanto, essa transição não seria sem desafios, pois exigiria mudanças estruturais significativas nas finanças globais e poderia levar a uma maior volatilidade e incerteza no curto prazo.
A situação atual serve como um lembrete contundente da interconexão da economia global e das possíveis consequências do uso de ferramentas econômicas como armas em disputas geopolíticas. Também destaca a importância do diálogo e da cooperação na gestão dos desafios econômicos globais e na manutenção da estabilidade no sistema financeiro internacional.