O Goldman Sachs disse em dezembro do ano passado que a economia dos EUA era à prova de recessão, mas o coronavírus provou o quão vazia é sua previsão. Aliás, a pandemia foi a única causa da crise?
Resumo da notícia:
- O Goldman Sachs descreveu a economia dos EUA como “menos propensa a recessão” em dezembro e previu que evitaria a crise este ano.
- Outros analistas ofereceram previsões semelhantes, mas o coronavírus revelou o quão vazias eram essas previsões.
- Uma pandemia global na escala do surto de coronavírus era previsível, como mostra um relatório encomendado pela ONU de setembro de 2019.
O Goldman Sachs mentiu para você. Tudo bem, não mentiu, mas ao declarar a economia dos EUA “à prova de recessão” em dezembro, armou uma cilada para os investidores. Mas não foi o único, muitos analistas previam coisas boas para 2020.
Obviamente, nenhum deles esperava por uma pandemia global. A maioria dos analistas chamaram o evento de um “cisne negro”. O problema é que o autor de “Cisne Negro“, Nassim Nicholas Taleb, disse explicitamente que não era o caso.
Eles, juntamente com os governos, poderiam ter previsto uma pandemia global. Mas o fato de ignorarem essa possibilidade revela o quão falhas são suas previsões. Portanto, em vez de acreditar neles na próxima vez que abrirem a boca, devemos primeiro desconfiar.
Goldman Sachs: a economia dos EUA é ‘menos propensa à recessão’
Em 31 de dezembro, o Goldman Sachs publicou uma análise da economia dos EUA.
Nela, o banco de investimentos afirmou que as principais mudanças estruturais provocadas pela “Grande Moderação” da década de 80 – baixa volatilidade, crescimento sustentável, baixa inflação – ainda estavam em vigor.
Como os economistas Jan Hatzius e David Mericle escreveram:
“No geral, as mudanças subjacentes à Grande Moderação parecem intactas e hoje vemos a economia como estruturalmente menos propensa a recessão.
Embora novos riscos possam surgir, nenhuma das principais fontes de recessões recentes – crises do petróleo, superaquecimento inflacionário e desequilíbrios financeiros – parece preocupante demais por enquanto.
Como resultado, as perspectivas de um pouso suave parecem melhores do que se pensava.”
Sim, você leu certo. Em 31 de dezembro – no mesmo dia em que surgiram os primeiros relatos de uma doença respiratória “semelhante à SARS” na China – o Goldman Sachs estava nos dizendo para não esperar uma recessão.
Porém, o grupo não foi o único, em 15 de dezembro, a correspondente de economia do Washington Post, Heather Long, escreveu que a economia dos EUA “se livra dos medos da recessão em uma resposta impressionante desde agosto”.
Os analistas citados por Long também foram otimistas. Gregory Daco, economista-chefe da Oxford Economics nos EUA, disse:
“Não estamos caminhando para uma recessão.”
Enquanto isso, o diretor do Conselho Econômico Nacional, Larry Kudlow, previu um crescimento de 3% do PIB em 2020.
O presidente dos Estados Unidos Donald Trump também parecia otimista:
“O melhor ainda está por vir.”
E voltando a outubro, a Bloomberg Economics previa um crescimento de 2% para a economia dos EUA em 2020.
Depois de diversos sinais claros de fragilidade da economia, o Goldman Sachs permaneceu otimista, o que parece loucura.
Coronavirus era um cisne branco
Como os tempos mudaram.
Basicamente, a única coisa boa do coronavírus é que ele revelou quão frágeis são as previsões econômicas. Isso nos mostra que o Goldman Sachs não fornece informações sobre o futuro.
Em vez disso, apenas empacota reformulações de dados financeiros atuais e passados. Vende extrapolações de um passado que se disfarça de futuro.
Certamente, vários analistas afirmaram em sua defesa que o coronavírus é um “cisne negro”. Em 4 de março, o fundo de capital de risco Sequoia Capital declarou-o “o cisne negro de 2020“.
No final de fevereiro, Matt Maley, estrategista-chefe de mercado da Miller Tabak, disse que o surto de coronavírus “é um verdadeiro evento de cisne negro”.
No entanto, o autor do Cisne Negro, Nassim Nicholas Taleb, o descreveu como um “cisne branco” e disse que era evitável.
De fato, o Conselho de Monitoramento da Preparação Global (GPMB) alertou em setembro que uma pandemia global representa uma “ameaça muito real”. Ele previu até 80 milhões de mortos em todo o mundo e um impacto de 5% na economia global.
Pior ainda, o relatório do GPMB encomendado pela ONU criticou a falta de preparação política e financeira. E, infelizmente, parece que ninguém deu ouvidos.
Muito menos os analistas financeiros. Não, eles estavam ocupados demais arrecadando o dinheiro que vem da discussão do mercado.