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NFTs e seu valor para o mundo da arte

NFTs e seu valor para a arte

Os NFTs prometem mudar a forma como todos nós lidamos com a arte digital. Uma obra que carrega um token de autenticidade e origem que não pode ser modificado, consequentemente ganha valor dentro do ambiente digital por contar com uma característica: a escassez.

Uma vez dentro da blockchain, aquela obra é imutável, assim como um quadro que uma vez assinado pelo artista, prova a autenticidade da obra. 

Entretanto, para entender o crescimento exponencial do mercado NFT e os valores estratosféricos que estão sendo pagos por ilustrações digitais, é preciso ir mais além desse conceito de valor. NFTs têm valor só como colecionáveis ou eles também podem ser arte? 

Uma obra de arte pode ser um NFT

Muitos filósofos relegaram à arte um papel secundário. Platão caçoava dos poetas e não reservava espaço para eles em sua república. Os iluministas desejavam uma arte de pragmática social. Hegel via na arte apenas a expressão provisória da beleza a ser vivida no fim da história. Marx criticava a arte como expressão da classe dominante e reclamava uma arte revolucionária, que tivesse uso prático e verdadeira função na história.

O filósofo Immanuel Kant também compartilhava da ideia de que, quando colocamos os nossos interesses de lado e quando não temos a intenção de usar as coisas por satisfação ou para explicá-las, assimilamos o que elas são e, assim, podemos contemplar a experiência única da beleza.

Pois aí está a questão que tanto nos interessa. Apesar dos devaneios filosóficos, nós podemos definir a arte como experiência contemplativa da beleza que, de alguma forma particular ou coletiva mexe com nossos afetos. 

Ir além disso é entrar em discussão de gostos. Em que para os antigos, a razão deveria ser o único meio válido para definir o belo. Para os modernos, o que baliza a compreensão da arte é a experiência sensível. Em uma coisa, contudo, antigos e modernos concordam: a beleza – seja ela uma manifestação da racionalidade humana ou um camaleão eternamente variável – é o grande antídoto de que dispomos contra o caos e o sofrimento inerentes à existência humana.

Segundo Roger Scruton a arte é a virtude redentora do sofrimento humano. O filósofo inglês, assim como estamos fazendo comparando NFT e o mundo das artes, questiona o pensamento de utilidade obrigatória nos valores, ou seja, que algo só tem valor se tem um uso. 

Para argumentar contra essa visão, ele indaga qual seria, então, a utilidade da beleza. Com base na frase “Toda arte é absolutamente inútil”, do escritor Oscar Wilde, que havia notado esta afirmação como elogio, Scruton defende que a beleza tem um valor maior do que a utilidade. As pessoas precisam de coisas inúteis tanto quanto, ou mais, do que coisas úteis.

A arte promove revoluções na sensibilidade. Uma obra de arte, física ou digital, desmascara  o ordinário mundo do homo economicus, dos atores racionais, sem perder-se na negação como modo de vida. 

A arte tem o seu valor, portanto, em qualquer formato, jpeg ou pdf.

Colecionáveis e seu valor 

O homem é um colecionador por natureza: o ato de colecionar o acompanha desde a Pré-História. Nessa época, o homem acumulava objetos. Logicamente, não de forma tão organizada nem de forma digital, como hoje pode-se fazer anexando uma obra a uma assinatura (ERC721) registrada em blockchain.

O homem pré-histórico, motivado por razões que vão além da simples sobrevivência, acumulava repetidos objetos de valor. Logo, esses objetos de valor subjetivo ao indivíduo colecionador nos acompanham pela história e têm sobrevivido ao tempo por esforço e cuidado categórico desses indivíduos.

Júlio Cesar, por exemplo, era um colecionador de objetos gregos. Após a conquista sobre a Grécia, a arte grega passou a fasciná-lo ainda mais. Por fascínio, obras de arte daquele povo ainda consolam os corações dos apaixonados pela história grega. 

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EtherRock 93, que foi vendida por 420 ETH ou US$ 1,8 milhões em 2 de novembro de 2021

Também por fascínio, coleções de pedras digitais, cartas de personalidades famosas e avatares punks estão sendo registrados em blockchain e vendidos para os apaixonados do mundo cripto. Qual o valor do mercado de colecionáveis? 

A DappRadar, que monitora as vendas em várias blockchains, disse que os volumes chegaram a pouco menos de US$ 2,5 bilhões no primeiro semestre de 2021.

NFTs são só colecionáveis ou são arte?

Ao discutir o valor das coisas, é importante separar algumas categorias de valor: o valor emocional do valor econômico.

A arte pode manter um profundo valor emocional que perdura por gerações, independentemente de qualquer valor econômico que possa conter. Assim como uma peça musical escrita por Beethoven. 

Mas a arte também pode conter valor econômico devido ao sucesso e reconhecimento de um disco do Metallica, por exemplo. Assim como existe valor artístico naquelas obras e artistas que nunca alcançaram tal reconhecimento.

Colecionáveis digitais como os NFTs, conectam fundamentalmente a obsessão e fascínio por colecionar e o valor econômico da peça adquirida pelo colecionador. Um NFT não é necessariamente uma obra de arte, mas uma obra de arte pode ser registrada em NFT. 

Se tivéssemos que classificar os NFTs, poderíamos chamar de colecionáveis. Uma obsessão por possuir algo digital. 

O mundo das artes têm legitimado as criptomoedas

O mercado global de arte em 2020 foi avaliado em quase US$ 50 bilhões coletivamente, com US$ 31,4 milhões em transações de arte conduzidas naquele ano, segundo a Statista.

Mas somente em abril deste ano é que as três principais casas de leilão anunciaram que aceitarão pagamentos por obras de arte na forma de criptomoeda – especificamente, Bitcoin ou Ethereum.

Enquanto os bancos centrais de todo o mundo competem para desenvolver seus próprios programas-piloto de moeda digital, as casas de leilão de arte embarcaram em uma corrida semelhante para se adaptar às tendências de consumo e à modernização do regime financeiro internacional

Com mais transações ocorrendo digitalmente e mais vendas de arte ocorrendo pela Internet devido às medidas de distanciamento social da pandemia do coronavírus, as vitrines de arte e os principais participantes da indústria desenvolveram salas de exibição online para suas peças, sinalizando sua agilidade digital e crescente preferência por processos de vendas inovadores.

À medida que a propriedade privada de obras de arte se torna muito mais prevalente e a propriedade pública (museus, galerias, organizações públicas) diminui inerentemente, há uma necessidade crescente desse apelo ao público em geral e ao número crescente de participantes da indústria da arte.

Jean-Paul Engelen, vice-presidente e co-diretor da Phillips, uma das principais casas de leilão de arte do mundo, observou que “ é a primeira vez que uma grande casa de leilões na Ásia aceitará Bitcoin ou Ether como opção de pagamento por uma obra de arte física”, referindo-se à venda de uma obra de arte do artista Bansky.

O CEO da Pace Gallery, Marc Glimcher, é outro líder no espaço da arte e também observou sobre os NFTs que: “Assim como a invenção da galeria de arte deu poder aos impressionistas que haviam sido rejeitados pelo sistema por quase uma década, da mesma forma, o mercado de NFT capacita a revolução da arte digital que está em andamento desde a virada do século 21 ”.

Wendy Cromwell, fundadora da consultoria de butiques Cromwell Art disse “o fato de que tanto a Sotheby’s quanto a Phillips estão aceitando o pagamento em criptomoeda por uma pintura de um artista, Bansky, diz tudo. 

Assim como o artista anônimo Banksy, o comprador que paga com criptomoeda pode ocultar sua identidade. Esta é uma tempestade perfeita para as casas de leilão, onde a arte sempre foi um veículo de lavagem de dinheiro. Será interessante ver que tipo de proteção legal existe para o vendedor, que pode até ser o próprio Banksy! ” 

Com um clima econômico incerto pela frente, essa mudança para criptomoedas, democratização do mercado de arte anteriormente “reservado” e menores barreiras de entrada podem sinalizar uma mudança maior na economia global.

A transição das casas de leilão tradicionais no mercado de arte para um modelo digital de processos e transações financeiras é o resultado claro da rápida mudança das preferências do consumidor e de novas alternativas com a blockchain. 

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