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O inverno está chegando. Você está preparado?

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Uma crise econômica está chegando

A expressão usada no título é o lema da casa Stark, comandada por Ned Stark, personagem de uma das séries mais populares da atualidade: Game of Thrones. Sim, é aquela série que toda semana morre o personagem favorito de alguém, se ainda não viu, recomendo fortemente. Baseado nessa frase, eu vou falar de uma situação que pode estar começando a acontecer: o estouro da bolha das ações. E como se proteger disso.

A grande muralha de Westeros

Na série existe uma muralha de gelo gigantesca construída com o objetivo de proteger os reinos de Westeros dos vagantes brancos, que basicamente são zumbis de gelo extremamente poderosos que querem matar todo mundo. Existem os protetores da muralha que vigiam e fazem a manutenção daqueles postos estratégicos e fazem rondas no entorno delas.

Um desses protetores dá de cara com esses zumbis e acaba sobrevindo porque saiu correndo para avisar todo mundo. Obviamente, ninguém acreditou e ele foi dado como desertor e morto logo em seguida. Mas ele deixou uma coisa clara: o inverno estava chegando. Mas ninguém escutava. 

O que isso tem a ver com a bolha das ações?

Isso é o que acontece quando alguém tenta ir contra a corrente. Essa pessoa é ridicularizada, taxada como louca ou ignorada. Mas o fato é que o inverno está chegando quando falamos da economia. Tudo indica que vem uma crise econômica por aí, só não sabemos quanto tempo ela vai durar.

A economia global viveu um dos seus mais longos períodos de crescimento, especialmente os EUA, que acumulou crescimentos consistentes desde 2010. Apesar do crescimento ter sido menor na Europa, ainda assim, os países desse continente se recuperaram lentamente da recessão de 2008.

Nesse meio tempo, as ações voltaram a subir e o dinheiro estava fluindo entre os mais diferentes tipos de investimentos. A taxa de desemprego americana chegou ao seu menor nível na história em 48 anos. Ou seja, era só olhar para o lado que você já conseguia um emprego. 

Mas parece que os tempos de bonança estão acabando. O inverno está chegando e não sabemos quanto tempo ele vai durar. Todos os elementos estão aí: guerra comercial, desaceleração das principais economias globais e o FED subindo a taxa de juros nos Estados Unidos.

Olhe para os mercados

Isso é perfeitamente refletido quando olhamos para o mercado de ações: Dow Jones e S&P 500 desabando há semanas seguidas. Obviamente isso chega na Bovespa, que ontem perdeu mais de 1% em menos de uma hora. Ou seja, tudo indica que chegamos ao fim desse ciclo de crescimento. 

Tem gente que acredita em uma crise pior que a de 2008 esteja chegando por aí e eu sou uma delas. Se 2008 foi por causa da bolha imobiliária, a próxima crise tem de tudo para ser o estouro da bolha mobiliária, isto é: mercado de ações. O Dow Jones, por exemplo, já está com um crescimento de 300% desde a última crise, nada consegue manter esses níveis de crescimento sem que venha a desabar. Somente se a economia dos EUA tivesse crescido 300% nesse espaço de tempo.

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Gráfico do Dow Jones

A razão para todo esse crescimento é bem simples: crédito barato e taxas de juros extremamente baixas. Essa é basicamente a receita pronta para todas as bolhas. E qual o impacto disso? Investidores podem pegar crédito barato para especular no mercado de ações, porque os retornos são muito melhores do que ele terá que pagar. Uma taxa de juros baixa desencoraja investidores a manter dinheiro na poupança, direcionando essa grana toda para o mercado especulativo.

A dívida corporativa

Baixas taxas de juros e baixos rendimentos de títulos permitiram uma farra de empréstimos corporativos em que o total de dívida corporativa não financeira aumentou US $ 2,5 trilhões, ou 40% de seu pico em 2008. O recente boom de empréstimos fez com que a dívida corporativa total dos EUA subisse para mais 45% do PIB, o que é ainda pior do que o nível alcançado nos últimos ciclos de crédito.

Em uma bolha, o mercado de ações se torna superfaturado quando olhamos para os fundamentos como: lucros, receitas, ativos, valor contábil, etc. Dessa vez não é diferente nos EUA e até mesmo no Brasil: os mercados estão sobrevalorizados como estiveram em outros picos de bolhas anteriores. De acordo com taxa de ganho para preço, os mercados estão mais valorizados do que durante a grande depressão de 1929. 

E quando essa bolha estoura? Bom, o desastre tem seu início quando a inflação começa a bater na porta e os endividamentos se tornam insustentáveis. Os bancos centrais começam a subir os juros da economia com objetivo de reajustar todo cenário, como aconteceu ontem (19 de dezembro). Quando esse reajuste acontece, os detentores dessas dívidas começam a vender suas ações, porque não vão conseguir mais manter esse nível de endividamento.

O começo do pânico

Mas o que acontece quando todo mundo começa a vender ações em massa? O mercado entra em pânico. A essa altura as pessoas estão vendendo a qualquer preço para poder ir embora e pagar suas dívidas. O preço de tudo começa a derreter e os mercados chegam perto de um colapso. Muita gente acaba perdendo tudo nessa brincadeira. Porque estavam alavancadas com um dinheiro que não era delas.

Essa onda de vendas motivadas pelo pânico passa lentamente dos mercados mais voláteis e mais especulativos e transita para os mercados mais estáveis e seguros. Os que ficam nesse mercado, começam a migrar o dinheiro para investimentos mais seguros como Ouro e títulos públicos americanos

Esse crédito barato ajudou na valorização das criptomoedas, que começou em meados de 2016, atingindo seu pico em dezembro de 2017. Como as criptomoedas têm grande liquidez e são altamente especulativas, a liquidação começou primeiro com elas. Foram drenados desse mercado mais de US$ 800 bilhões somente em 2008. Boa parte dessa bolada veio dessa política de crédito barato e juros baixos.

Agora a onda de liquidação está passando pelas ações mais arriscadas e especulativas, como as relacionadas com tecnologia. É só uma questão de tempo até ela passar pelas empresas mais alavancadas com fundamentos que não justificam seu preço. 

E daí? Como isso me afeta?

Você deve estar pensando que um monte de homens engravatados vão se dar mal nessa brincadeira, certo? Não é bem assim. Toda essa quebradeira faz muita gente perder seus empregos. Se muitas pessoas perdem o seu emprego, o consumo diminui e toda economia começa a sofrer. Os juros altos e a dificuldade torna extremamente arriscada a abertura ou expansão de novas empresas, o que dificulta a criação de empregos.

Nós passamos por esse ciclo no Brasil e não foi nada agradável: tivemos que cortar na carne e muita gente ainda está sofrendo. Só agora que começamos a nos recuperar da crise de 2014. É verdade que temos uma bela reserva US$360 bilhões de dólares para segurar esse tranco, mas vai saber se isso vai ser suficiente para segurar o tranco. 

Ok, como me protejo disso?

Eu não arriscaria investir na Bovespa agora. Se tem uma coisa que aprendi nos últimos anos é: nunca vá contra a tendência do mercado. Quem tem uma grana para investir, é melhor esperar para tentar comprar ações quando elas estiverem no fundo do poço. O problema é adivinhar quando de fato chegamos a esse fundo.

Quem consegue fazer isso, é só comprar as ações quando elas estiverem valendo nada e vendê-las uns bons anos depois quando elas estiverem valorizando, é uma estratégia que precisa de paciência e ousadia. Se você tem ações na Bovespa, reconsidere seus investimentos. Não estou dizendo para sair vendendo tudo, mas ao menos faça uma reflexão. 

Ano que vem promete ser um belo ano para a renda fixa no Brasil, afinal, é quase certo que os nossos juros subirão, o que vai melhorar a rentabilidade dos títulos públicos. Há quem goste de investir em Ouro nesses períodos, também é uma boa, o problema é a dificuldade para sair dele. Se você for comprar Ouro e quiser vendê-lo em menos de 1 ano, o prejuízo é quase certo.

Essa é a hora de ver o circo pegar fogo, refletir e ser extremamente cauteloso. Afinal, não sabemos se ano que vem teremos um pouso emergencial controlado ou um grande desastre. Acredito que o pior esteja por vir, mas eu posso estar errado e, tomara que eu esteja mesmo. O inverno está chegando, você está preparado para ele?

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