No recente embate virtual entre o investidor Tiago Reis e entusiastas de criptomoedas, a resiliência do Bitcoin em cenários adversos foi posta à prova. Reis, fundador da Suno, trouxe à tona o congelamento de contas associadas ao grupo Hamas na plataforma Binance, após ações militantes contra Israel, como um argumento para questionar a eficácia do Bitcoin como refúgio seguro em tempos de crise.
A polícia israelense, com a colaboração da Binance, moveu-se rapidamente para congelar várias contas cripto ligadas ao Hamas, em resposta a um ataque surpresa do grupo militante durante o fim de semana. Esse incidente, segundo Reis, evidenciou a vulnerabilidade dos criptoativos.

“Not Your Keys, not your coins”
A comunidade cripto, no entanto, contra-argumentou destacando a diferença crucial entre manter criptomoedas em exchanges e mantê-las em autocustódia. A famosa frase “not your keys, not your coins” (não são suas chaves, não são suas moedas) ressoou forte, sublinhando a ideia de que apenas ao possuir as chaves privadas – que dão acesso aos fundos – é que se tem verdadeira posse e controle sobre as criptomoedas.
Diferente do dinheiro depositado em exchanges, onde a plataforma tem controle sobre as chaves privadas, o Bitcoin em autocustódia oferece ao detentor o poder de transacionar e guardar seus fundos de maneira autônoma, sem a necessidade de intermediários, mesmo em cenários geopolíticos tumultuados. Como é ressaltado pelo analista Cauê Oliveira:
“Pessoal, aqui está um bom exemplo de que não devemos falar daquilo que não entendemos. Principalmente em redes sociais. O Tiago pelo visto não percebe ainda a diferença entre Bitcoin e uma corretora que vende Bitcoin. Algo básico, por sinal.“
Custódia e experiência do usuário
Ao entender que estava errado sobre a capacidade das criptomoedas de proteger o patrimônio até mesmo em guerras, Tiago atacou o bitcoin de outra forma.
Ele afirma que poucas pessoas têm o conhecimento sobre custódia própria.

O argumento de que poucas pessoas têm a capacidade hoje de fazer a custódia própria pode ser real, contudo, outras tecnologias mostraram que o tempo é um fator importante para a melhoria da experiência do usuário.
Lições do mercado de cartões de crédito
O que aprendemos tentando entender a história de novos meios de pagamentos é que eles evoluem e melhoram o uso com o tempo. Por exemplo, o começo do mercado de criptomoedas e o início do uso generalizado dos cartões de crédito têm semelhanças surpreendentes.
Desde airdrops de cartões, transações que demoravam dias para confirmar e até mesmo o excesso de fraudes são semelhanças gigantescas entre o começo das criptos e os cartões de crédito.
Os estabelecimentos que aceitavam o meio de pagamento precisavam de uma máquina de cópia que usava o relevo dos cartões para gravar os dados em papel carbono. Eram necessários mais de 3 dias para acontecer a liquidação.

Conforme as tecnologias foram avançando, as processadoras como Visa e Mastercard começaram a dar autorizações feitas por telefone, melhorando a segurança dos usuários e comerciantes.
Só por volta de 1979, a Visa introduziu a tecnologia de faixas magnéticas e máquinas específicas para capturar os dados dos clientes.
Os avanços aconteceram durante várias décadas, até chegarmos nos métodos atuais com chips e criptografia de ponta.
A evolução da custódia dos criptoativos
Quem vê as carteiras de bitcoin de hoje não sabe o quão complexo era fazer um backup seguro das chaves-privadas no começo do mercado. Contando apenas com o cliente Bitcoin-QT, que era lento e precisava baixar todo o blockchain, os usuários ou guardavam suas moedas e rezavam para não terem seus computadores infectados ou criavam as papers wallets.
Sem carteiras físicas como a Ledger, sem carteiras determinísticas, sem carteiras para celular, a custódia própria era extremamente técnica e complexa.
Hoje, as opções estão se multiplicando e a complexidade diminuindo. Carteiras com multi-assinaturas fáceis de usar como Electrum e até mesmo novos protocolos estão facilitando a custódia própria.
Claro, com grandes poderes vêm grandes responsabilidades. O poder de ser soberano financeiramente gera enormes responsabilidades, isso é inegável.
Portanto, a crítica de Tiago pode ser válida, mas ela é rasa e cega.