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A bolha das tulipas jamais existiu. Isso é o que de fato ocorreu.

Bolha das tulipas

Um dos casos históricos mais emblemáticos para ilustrar a ganância humana, da qual derivaram termos comuns como a “doença holandesa” (para explicar economias que se prendem a um único produto e por isso declinam), ao que tudo indica, não afetou mais do que 3 dúzias de milionários da época.

O final do século XVI marca o início de um período dourado para a economia holandesa. A independência da região atrairia para o local, famoso pela ligação com o mar, uma enormidade de comerciantes que fariam do país uma potência comercial.

Foi neste período que a VOC, companhia das índias orientais, realizou o primeiro IPO da história, dando lugar à primeira bolsa de valores do mundo e ao primeiro banco central de fato do mundo.

Este mesmo período porém entrou para a história do capitalismo global não pelas inovações, mas por um fato ocorrido entre 1636 e 1637, a “bolha das tulipas”.

Deste episódio, segundo o qual os holandeses haviam ficado tão enlouquecidos pela beleza da flor que entraram em uma corrida especulativa para comprar bulbos que ainda estavam por florescer, criando um mercado de futuros, ou mesmo trocando flores com aparência exótica por mansões em Amsterdam, há inúmeras lições sobre os mercados.

Só há um único problema: a história não para em pé.

De fato, houve uma celebração da beleza das flores que haviam chegado à região cerca de 3 décadas antes, além da criação de jardins botânicos financiados pela riqueza que florescia no país graças ao comércio.

A ideia de que a economia holandesa tenha colapsado e que a população em geral tenha entrado na onda das tulipas não encontra registros históricos, como mostra Tim Harford, jornalista inglês que escreve para o Financial Times.

Em busca de documentos que atestassem a veracidade do ocorrido, Tim encontrou raros casos documentados de comerciantes envolvidos com o comércio das tulipas, e absolutamente nenhuma falência relevante no período.

Para a historiadora Anne Goldgar, a origem do mito possui duas causas plausíveis.

A primeira, aponta Goldgar, está em um livro publicado em 1841 pelo jornalista escocês Charles Mackay, que narra histórias sobre a Era Dourada do capitalismo holandês.

Para Mackay, o cenário da chegada das tulipas ao país teria causado uma febre, levando toda população a se empenhar na produção de um único bem, cujo valor escalava expressivamente com o tempo.

Convertendo para valores de hoje, uma tulipa Semper Augustus teria custado a bagatela de $1 milhão, ou 5 mil guilders na época. O mesmo que um trabalhador médio ganharia em 20 anos.

Os números da extravagância conferem com aqueles registrados pela bolsa de Amsterdam, aponta Harford, o volume entretanto, era bem menor do que aquele que se supõe para causar um impacto relevante na economia da região.

Outro ponto levantado por Anne Goldgar está no caráter religioso. Calvinistas e cristãos da época disputavam suas visões na Holanda pós independência, com os grupos cristãos promovendo panfletos alertando para a ganância excessiva dos comerciantes e que poderia levar a um declínio da sociedade.

A despeito do preço astronômico citado acima, Goldgar encontrou registros de apenas 37 pessoas que se dispuseram a pagar mais do que 300 guilders (60 mil dólares), por um bulbo de tulipa.

Que tal história tenha gerado fascínio e sirva de exemplo até hoje para os males da ganância excessiva não é nenhuma novidade. Há boas questões relevantes na história e que poderiam servir de exemplo.

Um caso específico trata do aumento da oferta. Quando as tulipas chegaram a holanda eram objetos de luxo, mas dada a demanda expressiva logo a produção começou a acelerar, levando uma queda relevante de preço.

O mesmo ocorreu ao longo da história com uma infinidade de produtos, como o automóvel e a televisão, por exemplo.

Cerca de um século após o caso holandês porém, há uma boa história que mereceria maior atenção.

John Law, o escocês conhecido por “inventar o sistema financeiro moderno”, ganhou do rei da França o poder de controlar o primeiro banco central do país.

Munido com a capacidade de simplesmente imprimir dinheiro, Law deu início aquela que se tornaria a maior bolha conhecida na história: a da companhia Mississipi.

Em 1716 o assassino e estelionatário condenado, John Law, fugiu da Escócia para a França, onde fundaria um banco naquele mesmo ano.

No ano seguinte, Law adquiriu o controle da companhia do Mississipi, para ajudar a exploração de territórios franceses nas americas.

Em 1718, o banco receberia a chancela do rei francês, o que na prática significa que o rei Filipe II garantiria as notas.

Com a chancela, Law começou a, literalmente, imprimir dinheiro, ou em resumo, criar notas do banco que valiam tanto quanto dinheiro em si.

Com uma campanha ostensiva de marketing e o uso das notas para comprar os papéis da companhia, criou-se uma bolha em torno do ativo.

Na prática, a companhia era um exemplo de empresa de tecnologia, uma “SpaceX” da época, prometendo investir recursos para financiar uma corrida marítima privada e gerar lucros exorbitantes.

A bolha estouraria logo em 1720 quando a população, repleta de notas bancárias do agora “banco real”, buscaram converter os papéis em moeda, até perceberem que elas não possuíam qualquer lastro.

Que Law tenha se tornado o criador do sistema financeiro moderno é uma ironia curiosa. Que tenha fundado o primeiro banco central da França, um alerta de que a relação entre o poder de criar dinheiro e distorcer preços sempre este aí, o que muda, claro, é o discurso, ou a suposta ideia de que aprendemos lições valorosas com erros históricos.

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