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Argentina segue caminho trágico com anúncio de congelamento de preços

congelamento de preços

A inflação na Argentina é um problema que vem desde o governo de Cristina Kirchner e atormenta o atual presidente Maurício Macri, que se elegeu em 2015 sob uma agenda teoricamente liberal na economia.

Em março, a inflação ultrapassou todas as previsões e atingiu 4,7%, segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censos, fazendo o índice acumulado dos últimos 12 meses superar os 54%.

No primeiro trimestre, chegou a 11,8%. Alimentação e transporte foram os itens que mais subiram. Cada aumento dos preços degrada o prestígio político do presidente Mauricio Macri e acrescenta incerteza ao resultado das eleições de outubro.

A economia argentina é historicamente inflacionária. Durante seus últimos 80 anos, a inflação ultrapassou os 60%. Existe um cenário de indexação da inflação. A população, diante de um governo que produz inflação, acredita que ela será maior no próximo mês e ajustam os contratos a uma inflação futura, o que piora ainda mais o caso.

Esse caso de indexação chegou a níveis extremos no Brasil durante os anos 90. A população, para proteger seu poder de compra, reajustava preços e contratos com uma margem muito maior do que seria a inflação real, acelerando ainda mais a subida dos preços. Essa é a chamada indexação ou memória inflacionária, que é causada por governos que são convenientes com a inflação.

Um fator muito importante é a contínua desvalorização do peso em relação ao dólar, bem como a brutal atualização das tarifas dos serviços, especialmente energia e transporte público, depois de anos de semicongelamento. A eletricidade, por exemplo, subiu 14% neste mês em Buenos Aires. O Governo defende os tarifaços: diz que sem eles haveria fenômenos de desabastecimento semelhantes aos da Venezuela.

Argentina de 2019 é o Brasil dos anos 90

Para evitar que os preços dos produtos básicos, do mate às massas, continuem sua escalada, o presidente Macri anunciará na quarta-feira um plano de contenção acordado com as empresas produtoras e distribuidoras. O plano deve durar seis meses e afetar cerca de 60 produtos.

Até mesmo a Casa Rosada admite que é um “paliativo” e não custa muito intuir por trás dele uma intenção eleitoreira: as chances de Macri ser reeleito dependem do poder aquisitivo das famílias, que caiu quase um terço ao longo do ano passado, não continue afundando nesse ritmo.

A Argentina, com essa medida, segue à risca o caminho para a hiperinflação, que foi trilhado exatamente da mesma maneira pelo Brasil durante os anos 80/90, resultando no quase colapso da economia. A economia brasileira estava lidando com alto endividamento externo, que foi piorado pela desvalorização do cruzeiro em relação ao dólar.

Com a explosão da dívida e o aumento repentino da inflação, José Sarney, anunciou um congelamento de preços paliativo. Sua popularidade aumentou e ele decidiu por manter os congelamentos. Logo depois, começou a ocorrer escassez de alimentos, desabastecimentos em mercados e tráfico de comida.

A polícia federal já chegou a protagonizar uma das cenas mais patéticas da história da instituição: correr atrás de gado nos campos para abastecer os mercados brasileiros com carne. Também não tem como esquecer os patéticos “Fiscais do Sarney”, que denunciavam donos de mercados que vendiam produtos acima do preço da tabela da SUMOC.

Tudo isso só foi resolvido com o Plano Real, elaborado por Gustavo Franco, que praticamente dolarizava a economia brasileira, pareando o Real 1:1 com o Dólar. O plano deu um choque na economia e eliminou a memória inflacionária da população e formadores de preço, combinando uma política monetária e fiscal de austeridade e controle.

A pressão sobre os preços diminuiu rapidamente e, a moeda brasileira conseguiu recuperar seu poder de compra. Resta saber se a Argentina vai aprender com a trágica experiência dos seus vizinhos ou se eles vão querer aprender na prática.

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