Carlos Rocha, um dos criadores da urna eletrônica brasileira participou de uma entrevista e deixou sua opinião sobre diversos assuntos, inclusive sobre a tecnologia blockchain e sua possível aplicação em eleições.
Carlos Rocha, criador da urna eletrônica no Brasil
Carlos Cesar Rocha é um engenheiro formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) em 1977 e um dos criadores da urna eletrônica utilizada até hoje nas eleições brasileiras.
Carlos Rocha é Head de Transformação Digital na Samurai, empresa onde trabalha há 28 anos, desde 1995 e atualmente também é CEO. Foi, inclusive, em 1995 que o engenheiro recebeu a missão de desenvolver as urnas eletrônicas, que foram entregues e utilizadas já na eleição de 1996, com um desenvolvimento de projeto em tempo recorde, ao lado de uma eficiente equipe de engenharia eletrônica e de uma empresa parceira de engenharia de software.
Em entrevista para o canal Monark Talks, Rocha brinca que a primeira versão da urna se assemelhava a um microondas.

Credibilidade é importante para a democracia representativa
O (polêmico) apresentador, Monark, e o engenheiro Carlos Rocha, discutiram sobre diversos assuntos relacionados com urnas eletrônicas e tecnologia. Em uma conversa de quase duas horas de duração, muitos pontos interessantes foram levantados pelo criador da tecnologia que vem protagonizando tantas polêmicas após a divulgação dos resultados da eleição de outubro deste ano. De forma que recomendo assistir o vídeo completo ao fim da matéria, caso queira se aprofundar no tema.
Entre os pontos levantados, Rocha contou a experiência de desenvolver o protótipo da urna em apenas três meses – o que representou um grande desafio para as equipes envolvidas.
E explicou que nenhum tipo de tecnologia é completamente à prova de falhas, quando questionado por Monark sobre a possibilidade de existirem erros (intencionais ou não) na contagem dos votos.
“Tecnologia não é perfeita, isso é importante. (…) Tecnologia é algo naturalmente imperfeito. Onde tem hardware dá pau de hardware, onde tem software tem erro de software e onde tem pessoas operando ou desenvolvendo, pessoas erram”, disse Carlos Rocha, criador da urna eletrônica.
Ao levar isso em conta, Rocha explica que, muitas vezes, as discussões que permeiam a urna eletrônica não deveriam necessariamente partir de um ponto de visto da tecnologia em si: “o quão segura ela é”, mas de um ponto de vista de percepção pública, ao considerar que essa tecnologia é responsável por uma “missão crítica” dentro de um sistema democrático, totalmente baseado em percepção pública.
Ele diz que passar credibilidade e segurança para os eleitores é mais importante do que todos os detalhes e todas as nuances técnicas do aparelho. Ele cita, inclusive, outros países onde medidas foram tomadas para melhorar a credibilidade do sistema eleitoral, mesmo quando isso envolvia um “retrocesso” tecnológico, por exemplo, ao considerar a existência de comprovação de papel e voto impresso nas primeiras versões da urna eletrônica.
Carlos Rocha também se mostrou otimista em relação às pessoas buscarem cada vez mais informações e maior credibilidade por parte das entidades públicas. E parece acreditar que essa demanda será suprida nos próximos anos.
O criador da urna eletrônica gosta da tecnologia blockchain
O criador da urna eletrônica brasileira sugeriu, em fevereiro, a implementação de um certificado de terceiros (como o ICP) nas urnas. O TSE negou pois “já tinham um sistema de certificação próprio”. O grupo, liderado por Rocha, tentou explicar que é importante verificações terceiras para criar confiança.
“Se seu objetivo é confiança máxima do eleitor, quanto mais gente tiver jogando junto [certificando], melhor”.
Carlos Rocha também é a favor de abrir o código fonte das urnas eletrônicas.
E seguindo a linha de raciocínio de credibilidade e auditabilidade de um maior número possível de pessoas sobre o sistema, um dos espectadores do Monark Talks questionou o criador da urna eletrônica sobre sua opinião a respeito da implementação da tecnologia blockchain para eleições.
O engenheiro se mostrou favorável ao uso da blockchain, principalmente devido à sua característica de armazenamento de dados em cadeia. E explicou que existem outras tecnologias brasileiras de compartilhamento de dados que funcionam de forma semelhante e poderiam ser utilizadas.
Em um exemplo de como a blockchain poderia ser aplicada para melhorar a credibilidade sobre o sistema, Rocha trouxe a situação hipotética em que o eleitor recebe um código criptográfico (hash) ao realizar seu voto. Este código registra o voto do eleitor e onde o voto foi realizado, mas só pode ser “aberto” com uma chave criptográfica privada, para evitar a quebra do sigilo do voto.
Desta forma, o eleitor poderia, ao chegar em sua casa, abrir um aplicativo que se conecta com esta blockchain, inserir o código e ter a confirmação de que seu voto foi considerado e contabilizado dentro do sistema. Evitando algumas dúvidas que surgiram em 2022 e que necessitam da verificação manual de todos os logs das urnas eletrônicas por técnicos especializados.
Assista o vídeo com a entrevista no Monark Talks
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