Em matéria publicada pela Agência Brasil na terça-feira (13), Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, compartilhou suas preocupações com digitalização, contas laranja, vigilância financeira, regulação e criptoativos.
Privacidade e segurança
“As operações digitais são mais rastreáveis. Onde está o elo fraco [do sistema]? Nas contas laranja, de aluguel”, disse Campos Neto.
O atual líder da autarquia foi categórico ao afirmar a necessidade de vigilância constante para garantir a segurança nas finanças. “Se as contas forem todas monitoradas, melhoramos o processo como um todo. Quando a gente diz que há fraude no Pix, por exemplo, é porque alguém transferiu dinheiro de uma conta para outra. Só que esta transferência é rastreável. Logo, ou a pessoa que cometeu o roubo, a fraude, transferiu [a quantia] para a sua própria conta – o que é fácil de ser detectado – ou ela transferiu para uma conta laranja”.
A princípio, é importante notar que a rastreabilidade de operações digitais é de conhecimento geral no meio das criptomoedas. Por conta de seus blockchains públicos, a esmagadora maioria delas pode ser rastreada facilmente, bastando apenas que a identidade por trás de um determinado endereço seja descoberta.
O próprio Satoshi Nakamoto, criador do Bitcoin, falou sobre o problema ainda em 2009. “A possibilidade de ser anônimo ou pseudônimo depende de você não revelar nenhuma informação de identificação sobre você em conexão com os endereços bitcoin que você utiliza. Se você posta endereços bitcoin na web, você está associando aquele endereço e quaisquer transações com ele com o nome que você utilizou para postá-lo.”
Entretanto, o problema é ainda pior nas finanças tradicionais. Nelas, sua identidade está sempre associada a suas contas, por conta da necessidade de fornecer documentos para abri-las. Isso pode não parecer um problema quando o Estado não é particularmente invasivo, mas se torna um pesadelo quando ele começa a censurar, perseguir e prender desafetos políticos.
Como pôde ser visto recentemente, quando o Canadá congelou contas de caminhoneiros que estavam protestando, esse não é um problema exclusivo de ditaduras. Sob o pretexto de combater o crime, o Estado demoniza o dinheiro em espécie e a privacidade no meio digital, promovendo o uso de meios controlados, como as CBDCs.
Relevância das finanças descentralizadas
“Os bancos já investem muito em cibersegurança e as estatísticas demonstram que o sistema já é seguro, mas a digitalização cresce, hoje, quase que exponencialmente. O número de negócios cresce exponencialmente e a parte das finanças descentralizada[s], a parte do sistema financeiro fora da regulação, cresce quase quatro vezes mais que a que está dentro da regulação. Achar que não existem links, conexão, entre o que está fora e dentro da regulação é um erro. Se tivermos um problema de cibersegurança em um ambiente fora da regulação, de grandes proporções, ele afeta a liquidez do sistema e, logo, a parte regulada”, disse Neto, reconhecendo a dimensão que o universo descentralizando está assumindo na economia moderna.
“Muito se fala sobre criptomoedas e criptoativos, mas acho que é muito mais profundo que isso. As pessoas estão usando a digitalização como uma forma de extrair ativos, e acho que este é o ponto importante, um processo que acho que não tem volta”, disse o presidente do BC, confusamente.
“O banco tem autonomia, e eu fico no cargo [por] mais dois anos. Além disso, grande parte destes projetos não são de um presidente [da instituição] ou da sua equipe, mas sim do banco. A visão adotada pelos quadros do Banco Central vai continuar, independentemente do governo.” Campos Neto se refere à autonomia do Banco Central, aprovada no início de 2021, que tem o objetivo de impedir influências políticas na instituição e viabilizar projetos de longo prazo.
Adaptado da Agência Brasil