Fernando Ulrich (um dos maiores especialistas em bitcoin) e parte da comunidade do Bitcoin no Brasil têm enfrentado desentendimentos nos últimos dias. Entenda o porquê.
Os atritos começaram quando Ulrich afirmou que a análise do bitcoiner Bernardo Braga, sobre o “bitcoin ser infinitamente melhor que imóveis como investimento“, era “sem sentido” e afastava possíveis interessados no criptoativo.
Esse tipo de análise é tão sem sentido que apenas afasta quem poderia se interessar pelo #bitcoin.
— Fernando Ulrich (@fernandoulrich) March 28, 2023
Comparar BTC com imóveis é como comparar um computador com uma torradeira.
Alguns exageram e muito a ponto de defender o BTC como o único ativo superior a tudo que existe. https://t.co/WmXkgtFU7Y
As discussões entre Ulrich e parte da comunidade se intensificaram nos últimos dias. Chegou-se a afirmar que Ulrich “não entendeu a magnitude do bitcoin“.
Extremismo irracional no Bitcoin?
A crítica de um dos primeiros entusiastas de bitcoin no Brasil parece direcionar-se a um grupo muito específico formado na comunidade, especialmente àqueles que querem eliminar opiniões divergentes.

O subgrupo, chamado de “maximalistas extremistas” pelo ex-desenvolvedor do Bitcoin Core James Lopp, surgiu recentemente na comunidade do bitcoin e radicaliza o discurso até mesmo contra maximalistas menos radicais.
Mas o que é um maximalista de bitcoin?
O termo “maximalistas de bitcoin”, inicialmente cunhado por Vitalik Buterin (criador do Ethereum), se referia às pessoas que acreditavam na dominância do Bitcoin no mercado de criptoativos.
Esse grupo começou a se formar em 2011 com a ideia de combater golpes envolvendo muitas moedas alternativas ao bitcoin (altcoins), as quais muitas vezes eram apenas uma cópia do bitcoin com o único objetivo de enriquecer os desenvolvedores.
Contudo, os maximalistas (que não eram chamados assim) se radicalizaram durante a guerra civil de 2016/2017 sobre escalabilidade. A guerra civil do Bitcoin foi uma disputa técnica que se transformou em uma batalha nas redes sociais para decidir o futuro da criptomoeda.
Como resultado da disputa, os maximalistas se radicalizaram ainda mais e alguns começaram a se autodenominar “tóxicos“. Os “maximalistas tóxicos” frequentemente censuravam conversas sobre melhorias técnicas no Bitcoin em redes controladas (Reddit/BitcoinTalk) e começaram a criar uma cultura contrária aos ICOs, que estavam em alta na época.
Com a chegada da pandemia, houve uma cristalização dos valores dos “maximalistas tóxicos”, aumentando a pressão social sobre quem pensava fora dos limites do grupo e radicalizando ainda mais a visão extremista.
Segundo a análise de Giacomo Zucco, um importante expoente desse grupo de bitcoiners, os “maximalistas” tóxicos geralmente acreditam em:
I. Tudo que não é Bitcoin é um golpe!
II. Tudo que muda o Bitcoin é um golpe!
III. Qualquer tentativa de fazer você gastar bitcoin é um golpe!
IV. Não devemos ser amigáveis com golpistas!
Não foi apenas Fernando Ulrich
Os maximalistas extremistas agora atacam quem originou o movimento.

Assim como aconteceu com o fenômeno dos “cancelamentos” pela esquerda radical nos últimos anos, o radicalismo dos extremistas alcançou aqueles que originalmente iniciaram o ethos maximalista em 2011.
Os extremistas também atacaram James Lopp, um dos primeiros desenvolvedores do Bitcoin e que também se diz maximalista. Lopp recebeu tokens de uma corretora de criptoativos nos Estados Unidos ($INX), além disso, sua empresa começou a aceitar ether.
Por estes motivos, ele foi classificado como “inimigo da humanidade” e “shitcoiner”.
Enquanto boa parte dos maximalistas originais lutava para obter um livre mercado de moedas e alcançar mais liberdade financeira, os maximalistas puristas afirmam que apenas o bitcoin deveria existir.
“Enquanto todos os maximalistas concordam que o Bitcoin é a melhor forma de dinheiro e eles querem vê-lo continuar a ter sucesso, são os puritanos do Bitcoin que sentem a necessidade de ir além para rejeitar qualquer coisa que não seja Bitcoin, aplicar testes de pureza arbitrários para agrupar os usuários do Bitcoin em “insiders” e “outsiders” e castigar aqueles que ousam mostrar interesse em projetos não-Bitcoin.” – ressalta Lopp em um artigo sobre a história do maximalismo.
Essa diferença é essencial e isso é expresso no tweet de Ulrich:
O princípio é liberdade monetária, por consequência, concorrência de moedas. #Bitcoin é, hoje, quem representa e defende esse princípio.
— Fernando Ulrich (@fernandoulrich) March 31, 2023
Bitcoin não é o fim da concorrência monetária. É o seu recomeço.