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Finanças verdes: motivações, o que é, diferenciais, produtos e algumas iniciativas brasileiras

A pressão por melhores práticas ambientais têm alcançado diversos setores da economia, e obviamente o sistema financeiro não ficaria de fora dessa transformação. Os problemas ambientais e a emergência climática têm levado empresas e governos a investir na economia de baixo carbono. As finanças verdes, nesse contexto, são uma forma de investir em projetos que tragam benefícios ao meio ambiente.

Por que o sistema financeiro decidiu investir no meio ambiente?

A preocupação ambiental tem exercido pressão sobre o empresariado, e muitas organizações estão correndo para atender não só a expectativa dos consumidores, mas também cumprir as metas do Acordo de Paris. Além disso, não deve ser desconsiderada a noção de perda e/ou desequilíbrio que acompanha não só as enchentes, mas também a diminuição da cobertura vegetal, falta de chuvas, pesca predatória, poluição e etc.

A iniciativa privada percebeu que um eventual comprometimento das cadeias globais de suprimentos pode impactar as pessoas que compram, mas também exerce influência sobre quem vende; e as consequências na vida cotidiana são sentidas através da inflação e aumento dos preços dos produtos, por exemplo.

Por isso, o Banco Central publicou em dezembro de 2022 um relatório onde declara textualmente que “as ocorrências climáticas têm entrado na análise de risco de bancos centrais por afetarem a estabilidade de preços e a política monetária”. 

Também acrescentou que, “em 2021, presenciamos uma escassez hídrica que afetou nossa matriz energética, levando ao aumento do custo da energia e impactos na inflação. Adicionalmente, vimos quebras de safra decorrentes da seca, com impactos expressivos nos reembolsos via Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), além dos danos aos não segurados”.

Conforme pode ser visto, as alterações climáticas e os problemas ambientais têm o potencial de influenciar a economia, e segundo diversos especialistas o papel do sistema financeiro, dentro desse panorama, é financiar/alavancar os investimentos em prol de uma economia mais verde.

O que são finanças verdes?

Entende-se que as finanças verdes são investimentos direcionados ao meio ambiente, que trabalham pela mitigação das mudanças climáticas, apoiam a transição para uma economia de baixo carbono e favorecem o desenvolvimento sustentável. As subáreas contempladas por esses investimentos estão listadas abaixo: 

  • Mudanças climáticas (adaptação e mitigação);
  • Recursos hídricos e marinhos (uso sustentável e proteção);
  • Poluição (prevenção e controle);
  • Economia circular (transição);
  • Resíduos (prevenção e reciclagem);
  • Proteção de ecossistemas saudáveis. 

De maneira prática, esses recursos ajudam o “verde” através de linhas de financiamento, investimentos, concessões de crédito e negociações para as dívidas, por exemplo.

Finança sustentável e finança verde: diferenças

As finanças sustentáveis podem ser entendidas como um investimento socialmente responsável, ou uma aplicação que passou por uma análise dos impactos dos produtos (esferas ambiental, social e de governança).

As finanças verdes, por sua vez, referem-se apenas à dimensão ambiental, onde o dinheiro aplicado deve trazer melhorias para as águas, ecossistemas, clima, poluição, resíduos e economia circular.

Finanças verdes: produtos

Títulos verdes ou green bonds

Nada mais são do que títulos de renda fixa onde os recursos captados são aplicados exclusivamente em projetos que tragam melhorias ambientais. Através destes é possível financiar o desenvolvimento e/ou reestruturação de tecnologias mais verdes, assim como diversificar a carteira e chamar a atenção de investidores para o tema.

Para conseguir o green bond, é necessário seguir os princípios da ICMA (International Capital Market Association) e passar por uma auditoria externa/independente para obter essa certificação. 

De maneira geral, empresas, bancos e governos são os responsáveis pela emissão desses títulos. Inclusive, em 2019, o Chile foi o primeiro país da América Latina a emitir um green bond público no valor de US $1,4 bilhão, justamente para financiar projetos de infraestrutura nas áreas de energia, transporte, água e habitação. 

Já a CPFL Energias Renováveis (empresa), em 2016, emitiu seu primeiro título certificado para apoiar a construção de projetos eólicos no Rio Grande do Norte; e 3 anos mais tarde foi a vez da parceria entre o Burger King e a H2Energy lançar seu primeiro CRI verde no Brasil, pois visava fornecer energia limpa (solar) para as lanchonetes da marca.

As debêntures, os certificados de recebíveis do agronegócio (CRA) e os certificados de recebíveis imobiliários (CRI) são alguns produtos que podem ser classificados na categoria de títulos verdes. E o seu acesso pode ser feito através de bancos ou corretoras (como XP e Easynvest), onde geralmente não existem custos associados.

Fonte: GIZ

Já com relação a alocação desses recursos captados, um estudo feito por Stephanie Costa para o período compreendido entre 2014 e o primeiro semestre de 2021 identificou que, para as economias desenvolvidas, os setores de energia (35%), construção (27%), transporte (18%) e hídrico (8%) foram os mais beneficiados com esse fluxo de capital. Já nas economias em desenvolvimento, a área de energia também foi a mais relevante (40,5%), seguida pelos transportes (24,9%), hídrico (10,7%) e construção (10,4%). 

Fonte: Costa (2022)

Iniciativas brasileiras

O Brasil é o segundo maior mercado de títulos verdes dentro da América Latina com US $8,7 bilhões acumulados. Cerca de 40% desses recursos são direcionados para a área de energia, pois busca-se aumentar o uso de energias renováveis, por exemplo.

Trata-se de um mercado ainda incipiente, apesar dos números citados, pois existem muitos desafios a serem vencidos, dentre eles, questões macroeconômicas, fiscais, políticas, jurídicas e de planejamento. Independente disso, trata-se de uma boa oportunidade comercial a nível global, segundo o Goldman Sachs, um importante banco de investimento.

Logo abaixo, estão disponíveis algumas iniciativas realizadas por dois bancos comerciais brasileiros na área de finanças verdes.

Caixa Econômica Federal (banco público)

A Caixa Econômica Federal, em seu site, declara apoio (financiamento) a iniciativas que contemplem o uso sustentável e desenvolvimento socioeconômico, mas ainda está estruturando o seu portfólio de produtos verdes. 

Desde 2015, já participa do Grupo de Trabalho sobre o Clima e Economia Verde da Febraban e é uma das entidades acreditadas da Green Climate Fund (Fundo Climático Verde), cujas setores prioritários são os de energia, infraestrutura, transporte, habitação, uso do solo, manejo florestal, etc.

Do ponto de vista prático, possui linhas de crédito (BCD Ecoeficiência PJ, por exemplo) que apoiam empresas na troca de equipamentos/maquinários antigos por outros de maior eficiência energética, que causem menos poluição e/ou usem menos recursos naturais. Esse financiamento promete taxas reduzidas, carência e prazos diferenciados.

Itaú Unibanco (banco privado)

Em 2019, o Itaú estabeleceu parceria com o Banco do Brasil e a ING para emitir títulos verdes (13) e sustentáveis (1), que somados chegavam a 1,5 bilhão de dólares.

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