A lenda
Satoshi Nakamoto, certamente, é uma das maiores lendas dos tempos contemporâneos. Não por qualquer motivo, ele é o criador do Bitcoin, a primeira moeda digital da história. Sabe o que é mais fascinante? Sua identidade verdadeira é desconhecida, ou seja, não há quaisquer provas ou pistas que revelem ao seu paradeiro. Não sabemos se é uma única pessoa ou um grupo de pessoas. Se é uma empresa ou até mesmo um grupo de empresas. O que sabemos é que Satoshi mantém seu anonimato de forma impecável, algo digno de um heroísmo hollywoodiano.
Como uma pessoa que cria e detém a posse de uma grande riqueza como o Bitcoin se mantém no anonimato? Porque o Satoshi não revela sua face ao mundo para receber os créditos? Ele teria uma grande legião de seguidores, seria praticamente canonizado. Particularmente, acho que ele mantém o seu anonimato pelo bem de sua criação. Desde o seu afastamento do projeto, sua conta no fórum Bitcointalk não é acessada desde 2010. Além disso, os fundos da sua carteira, bilhões de dólares, não têm qualquer movimentação.
Creio que ele deveria estar bem insatisfeito com o nosso sistema financeiro quando criou o Bitcoin. O cenário era daqueles encontrados em qualquer filme de distopia. A maior crise da história econômica e resgate de bancos para evitar um colapso. Quando você lê resgate de bancos, pode entender como: governo americano imprimindo dinheiro para dar aos bancos que estavam falindo. O problema era o poder excessivo dos bancos centrais, excesso de intermediários e falta de confiança, que levava a centralização. Naquele ponto, o dinheiro tinha virado apenas uma abstração, números na tela do computador, que pouco ou nada representavam.
Sua criação
No auge da crise financeira, Satoshi Nakamoto propõe o Bitcoin em um fórum de criptografia. Um sistema de dinheiro eletrônico, sem intermediários e escasso, utilizando a criptografia para garantir a segurança do sistema. O propósito era acabar com a necessidade de terceiros em uma transação. Eliminando, portanto, qualquer necessidade de uma instituição central para garantir a confiança. Desta forma, é possível transformar seu dinheiro em uma moeda digital e transferir anonimamente para outra pessoal em qualquer lugar do mundo.
Além disso, ele cria uma alternativa para quem está insatisfeito com o sistema financeiro atual. Agora você pode guardar sua riqueza em Bitcoin e ter a garantia de que nenhum governo irá confiscar seu dinheiro. Portanto, as pessoas têm a sua disposição um dinheiro escasso que está longe do controle dos políticos, o que transforma o Bitcoin em uma espécie de refúgio. O mais fascinante é você pensar que ele é um dinheiro que funciona naturalmente. Não há um “CEO” ditando regras ou fazendo qualquer tipo de planejamento. Seu funcionamento é praticamente orgânico e voluntário.
Cypherpunks
Cerca de duas décadas atrás, o movimento Cypherpunk tinha uma grande preocupação com a centralização. Grandes corporações detendo inúmeras informações de seus clientes. Além de bancos controlando verdadeiras fortunas. Isso poderia colocar em risco a liberdade de expressão e privacidade das pessoas. A solução dos cypherpunks era usar sistemas de criptografia complexos para descentralizar os serviços. Diante desse cenário, não demorou para alguém pensar em um dinheiro criptografado e descentralizado. O primeiro foi o Wei Dai, quando propôs o B-money, que é citado no White Paper do Bitcoin. Na verdade, Satoshi aproveitou as ideias já existentes e as colocou em prática quando criou o Bitcoin. Nenhum demérito nisso, porque ele foi o único que fez a ideia funcionar de forma eficiente.

Em busca de Satoshi
Apesar de o nome apontar para uma pessoa de origem japonesa. Há comportamentos, padrões de escrita e horários que colocam em cheque a hipótese de Satoshi Nakamoto seja nipônico. A sua ortografia perfeita e terminologia ocasionais do inglês britânico (como a frase “bloody hard”) são um grande exemplo. Além disso, o primeiro bloco do bitcoin, que só poderia ser extraído por Satoshi contém o texto codificado “Chanceler à beira de um segundo resgate aos bancos”. O que implica que ele estava lendo o jornal “The Times” de Londres na época da criação do Bitcoin. Trata-se de uma crítica sutil ao sistema financeiro atual, mas ao mesmo tempo, é genial.

O padrão de comportamento e horário das postagens de Satoshi Nakamoto também colocam em dúvida a sua origem oriental. Stefan Thomas, um codificador suíço e membro ativo da comunidade, registrou graficamente os horários para cada um dos posts de Satoshi no BitcoinTalk. (mais de 500). O gráfico resultante mostrou um declínio acentuado para quase nenhum post entre as 5 da manhã e 11 da manhã, horário de Greenwich. No horário oriental, seria entre as 14h e as 20h. Um padrão de sono incomum para alguém que presumivelmente mora no Japão.
Legado
A importância de Satoshi Nakamoto está além do contexto das criptomoedas. Ele é o responsável por uma disrupção no curso da história: um ativo digital, escasso e descentralizado. O mundo digital que sempre foi caracterizado pela abundância, agora, encara a escassez legítima. Além disso, o Bitcoin e as criptomoedas em geral nos fazem retornar a uma época na qual o dinheiro não era controlado por um pequeno grupo de pessoas com suas leis arbitrárias.
Em síntese, Satoshi nos deu a chance de possuir um dinheiro realmente escasso, ao invés das moedas de papel pintado que podem ser criadas a partir do nada. Ele propõe um sistema que já desafia e assusta o sistema financeiro atual: Bitcoin – Um sistema de dinheiro eletrônico p2p.