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Países corruptos são os maiores usuários de criptomoedas, aponta um estudo do FMI

Uma moeda e ao fundo um trilho de trem

Um estudo de março deste ano, realizado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) apontou que as criptomoedas são mais usadas em países com moedas instáveis e com governos corruptos. Em países desenvolvidos e com moedas fortes, elas são menos atraentes.

A pesquisa usou as estatísticas baseadas no sistema Statista, uma empresa alemã de banco de dados, que incluiu 55 nações, e entrevistou de 2000 a 12 000 pessoas de cada uma delas. Os pesquisadores perguntaram às pessoas se elas usaram os ativos digitais em 2020.

O relatório apontou também que os países mais desenvolvidos e que possuem moedas estáveis estão menos inclinados a usarem criptomoedas

A relação das criptomoedas com países corruptos pode estar ligada ao entendimento das pessoas sobre a necessidade de uma alternativa ao sistema financeiro controlado pelos governos corruptos.

Outras pesquisas

A bolsa global de criptomoedas KuCoin lançou o relatório em abril deste ano, In The Cryptoverse, apontando diversos aspectos sobre o uso das criptomoedas no Brasil. Um deles revelou que 34,5 milhões dos brasileiros representando 26% da população com 18 a 60 anos resolveu investir em criptoativos nos últimos seis meses.

Entre o total dos entrevistados, 64% têm como objetivo investir nas criptomoedas para aumentarem os seus lucros, enquanto os outros 21% têm curiosidade sobre esse tipo de moeda.

Um dos destaques da pesquisa foi o papel da inflação no aumento dos usuários das criptomoedas no Brasil. No último ano, o país sofreu altos índices, o que se tornou um dos maiores motivos para as pessoas trocarem as formas tradicionais de pagamento pelos investimentos nas criptomoedas.

Na visão dos brasileiros as moedas digitais são bem-vistas e confiáveis para 53% dos entrevistados e 50% deles esperam ter um alto retorno de seus investimentos, mesmo que a longo prazo. O objetivo de 40% dos brasileiros que usam as criptomoedas é melhorar as suas condições familiares e de 36% usam os lucros como fonte de renda e para complementarem os seus salários.

O relatório demonstrou também que o país possui 34 milhões de jovens sem acesso aos serviços bancários, e que moram em áreas rurais ou recebem baixos salários, por esses motivos se viram atraídos pelos ativos digitais.

O Cointimes falou com três especialistas em criptomoedas: Nelson Mitsuo Shimabukuro, professor Adjunto Universidade Presbiteriana Mackenzie em Graduação e Pós-Graduação nas matérias de Sistemas de Informação, Inteligência de Negócios, Comportamento Organizacional, Empreendedorismo, Gestão da Inovação e Marketing em Ambientes Digitais, Fernando Barros Jr, professor de economia da FEARP/USP e Allan Augusto Gallo Antonio, formado em Direito e mestre em Economia e Mercados, é analista do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica, que fizeram uma análise sobre o assunto. Fernando explica que para começar temos uma heterogeneidade entre os usos das criptomoedas pelos países. 

Cada país

Em alguns países, os usuários usam as criptomoedas para os investimentos, já em outros para a sobrevivência ou como uma substituição de uma moeda sem valor por causa da inflação do país. 

Nelson explica que embora os estudos do FMI não sejam conclusivos, existe uma tendência de se associar os países pobres ao maior uso de criptomoedas, mas isso não é uma afirmação absoluta. Existem muitos aspectos que precisam ser analisados em relação ao uso das criptomoedas por alguns desses países, um deles é a inflação alta.

“Pode ocorrer que alguns países vejam as criptomoedas como tábuas de salvação, mas isso não tem dado um resultado satisfatório como foi o caso da Venezuela e de El Salvador”, exemplifica Mitsuo. 

Allan lembra que as criptomoedas podem ser uma alternativa para driblar a inflação, mas é preciso que se tenha em mente que, existe uma escolha a ser feita:

“Quem utiliza criptomoedas e acredita no seu potencial como meio circulante, está implicitamente dizendo que prefere as flutuações inerentes ao mercado às incertezas dos ventos políticos que, por vezes, afetam as políticas monetárias e fiscais de um país. É uma escolha válida, mas que deve ser feita de forma consciente”, lembra.

Assim como Nelson, Allan considera a criptomoeda uma ferramenta de cidadania econômica para as classes mais pobres. Mas, lembra que ela precisa vir acompanhada de uma educação financeira e econômica.

“A utilização das criptos pode ser um ponto de virada na vida de muitas pessoas, mas é preciso que se saiba o que são as criptomoedas, bem como se conheça minimamente os seus pontos fortes e fracos”, lembra Antônio. 

Rua humilde
Imagem de Tri Le por Pixabay 

Os ricos e os pobres

Entre os maiores usuários de criptomoedas iremos encontrar tanto países ricos, como os mais pobres, são eles: Nigéria, Vietnã, Filipinas, Turquia, Peru, Suíça e Índia. China, Estados Unidos, Alemanha e Japão. 

Um dos maiores usuários das criptomoedas é a Nigéria, que entre outros vários fatores complicados sociais, tem uma inflação alta, desvalorização internacional da moeda e instabilidade política fez com que mais de 30% da população utilizasse algum tipo de criptomoeda, embora o Bitcoin se mantenha como a cripto mais largamente utilizada.

Allan Augusto Gallo conta que os nigerianos têm demonstrado menos medo das oscilações de preço inerentes às criptomoedas do que das intervenções governamentais na economia. 

“Entendo que isso é um sintoma de algo mais sério: o descrédito das próprias instituições. Corroborando com essa percepção de instabilidade, embora no ranking de Liberdade Econômica do Instituto Fraser, a Nigéria apareça na frente do Brasil na posição #84, a situação precária no sistema legal e da garantia dos direitos de propriedade tem sido uma pedra no sapato da nação africana”, exemplifica Gallo.

Após a Nigéria, vem o Vietnã, que usa as criptomoedas, por a considerarem mais rápidas, seguras, baratas e eficientes de fazer remessas internacionais sem passar pelo sistema bancário convencional.

“Em segundo lugar, tradicionalmente vietnamitas têm demonstrado preferência por ativos que detêm valor com mais segurança do que dinheiro em espécie, uma vez que devido à inflação a moeda corrente nacional é muito desacreditada. O ouro, tradicionalmente, tem sido o ativo de escolha, mas especialmente o bitcoin tem ganhado mais adeptos pelas facilidades inerentes aos ativos digitais. A situação é semelhante nas Filipinas, Turquia e Peru”, relata Allan.

Já países como a Suíça, o primeiro a demonstrar interesse em receber as criptomoedas mantém a tradição financista do país ao adotar métodos de pagamento criptográficos.

Os países como a Índia, China, Estados Unidos, Alemanha e Japão são economias consolidadas no mercado internacional e possuem centros de mineração de criptomoedas. 

Para Allan, a adoção de criptomoedas nos países passa por uma série de questões: descrédito das instituições nacionais, falta de estabilidade política e social, falta de acesso a serviços bancários, interesse em remessas de dinheiro e busca de privacidade. 

“Existe uma correlação forte entre a adoção em massa de criptomoedas e a necessidade de fugir da inflação. Antes esse processo era feito quase que exclusivamente por meio do ouro e ações de empresas consolidadas, mas com as limitações físicas do ouro e a falta de estabilidade institucional, o ativo descentralizado torna-se mais atraente”, finaliza.  

Fontes: Nelson Mitsuo Shimabukuro, professor Adjunto Universidade Presbiteriana Mackenzie em Graduação e Pós-Graduação nas matérias de Sistemas de Informação, Inteligência de Negócios, Comportamento Organizacional, Empreendedorismo, Gestão da Inovação e Marketing em Ambientes Digitais, Fernando Barros Jr, professor de economia da FEARP/USP e Allan Augusto Gallo Antonio, formado em Direito e mestre em Economia e Mercados, é analista do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica.

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