De acordo com estimativas das Nações Unidas, o mundo provavelmente acaba de chegar ao incrível número de 8 bilhões de pessoa. Enquanto alguns comemora, especialistas entrevistados pela McKinsey estão preocupados com uma possível crise alimentar: “o mundo parece não estar preparado para a crise que está se desenrolando agora”.
Pandemia, guerras, problemas climáticos e na cadeia de suprimentos estão convergindo para aumentar o preço dos alimentos mundialmente, mas a situação pode ficar ainda pior.
Em uma entrevista para o The McKinsey Podcast, Daniel Aminetzah (líder da área de Químicos e Agricultura da McKinsey) em conjunto com convidados da área de alimentos falaram sobre as possibilidades no cenário global com a guerra na Ucrânia.
Brasil pode causar crise alimentar, “uma situação inimaginável”
E segundo Aminetzah, um dos principais riscos envolve o Brasil:
“No sistema alimentar global, os cenários anteriores de oferta e demanda foram codificados principalmente em torno do clima e outros eventos relacionados à oferta. Nos últimos dois anos, a pandemia global testou claramente e, em muitos casos, provou a resiliência do sistema alimentar. Mas agora, estamos em uma situação inimaginável: uma guerra dessa escala na Europa, em um centro de abastecimento alimentar tão crítico – especialmente quando se trata de trigo e fertilizantes – como o Mar Negro.
Esta instabilidade começa a criar um efeito chicote na cadeia de abastecimento alimentar. É difícil projetar totalmente as implicações, mas essa crise terá efeitos secundários claros em outros celeiros, como o Brasil. A Rússia e a Bielorrússia são críticas para a exportação de fertilizantes, que é o fator de rendimento mais importante para os agricultores em todo o mundo.”
Como resultado da instabilidade na Europa, com a continuidade da guerra na Ucrânia, o risco do Brasil ficar sem fertilizante para a próxima safra é real.
“Suponha que o conflito seja prolongado e vejamos alguma interrupção potencial no fornecimento de fertilizantes. A época de plantio no Brasil é em torno de julho a agosto, o que significa que alguns dos insumos precisam chegar um pouco antes. Um conflito prolongado terá impacto na próxima temporada de plantio para o Brasil – e, portanto, terá um impacto composto sobre o que está à nossa frente em termos de crise alimentar.” – afirma Daniel.
E qualquer problema logístico na entrega de fertilizantes aos produtores brasileiros pode ter um impacto direto em ao menos 772 milhões de pessoas, que segundo a Embrapa é o total de pessoas alimentadas pela agricultura nacional.
Cenários diferentes e impacto da crise até 2024
Apesar dos números assustadores, os cenários que levariam a formação de uma crise global são dinâmicos. Dependendo das medidas tomadas poderemos ver um impacto no preço dos alimentos até 2024:
“Um cenário de interrupção limitada na cadeia produtiva teria impacto até o ano de 2024. O que isso pode significar na prática é que potencialmente perdemos parte da temporada de plantio, mas conseguimos retomar a temporada seguinte. Veríamos sanções limitadas, pelo menos relacionadas a commodities agrícolas e fertilizantes, e uso relativamente aberto de commodities – países não fechando suas fronteiras e continuando a exportar para outros países.” – afirma Nicolas Denis, líder global da Agri Investments.
Já se tivermos mais interrupções e aumento das sanções globais, a situação pode escalar e virar uma bola de neve:
“Nesse caso, perderíamos vários marcos importantes – várias épocas de plantio e colheita. Também podemos ver a situação dos refugiados piorar, o que significaria menos mão de obra disponível em lugares onde precisamos de mãos para a agricultura. Poderíamos ver uma escalada de sanções que em algum momento também poderia incluir algumas commodities agrícolas. Pode haver vários governos que parem de exportar algumas dessas commodities para países que precisam delas. Essa é uma situação que pode resultar em uma diminuição significativa no comércio global de alimentos. Certos países precisariam depender muito mais de suas próprias reservas em meio a uma oferta global apertada.“
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