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Presidiários conservaram mais valor com cigarros que brasileiros com real

Preso fumando cigarro de terno

Os cigarros são, em regra, bens consumíveis e não utilizados como reserva de valor, mas mesmo assim já serviram como dinheiro no Brasil e em muitos presídios até hoje. Com a inflação dos últimos anos, os dados revelam que os presidiários conservaram mais poder de compra com cigarros que os brasileiros com real.

O cigarro indonésio Gudang se tornou uma moeda amplamente usada em casas noturnas, baladas e bares na década de 90, principalmente no Brasil. Em 1994 um maço custava 30 reais, o equivalente a R$ 282 em valores atuais, após correção monetária de 842,38%.

No entanto, tudo variava da negociação de cada um e da necessidade das pessoas por itens variados, pois essa economia informal funcionava na base do escambo. Dentro dos presídios ao redor do mundo, onde os detentos não trocam dinheiro entre si, os cigarros comuns acabam surgindo naturalmente como moeda.

Esse fenômeno acontece porque alguns bens são mais negociáveis que outros, já que é difícil para um consumidor conseguir exatamente o que deseja apenas com escambo, bens intermediários (geralmente os mais demandados pelos indivíduos daquele lugar) acabam se destacando como moeda de troca.

Cigarro foi melhor que papel moeda

homem queimando dinheiro para fumar um cigarro

Fora das grades, o problema do escambo foi resolvido pelo curso forçado da moeda estatal, todos usam reais para compras e vendas. Mas com a massiva impressão de dinheiro por parte do Banco Central em 2020 e a baixa demanda internacional pelo real, a moeda brasileira não tem segurado bem seu valor diante do mercado estrangeiro.

Além disso, a inflação derreteu o poder de compra do real ao longo do tempo, como podemos perceber com a correção monetária do preço do Gudang. Com o passar dos anos, os mesmos 100 reais levam cada vez menos mercadorias do supermercado, ou isso ou nós estamos ficando mais fortes sem perceber, como notou o educador financeiro Bruno Perini no Twitter:

tweet de Bruno Perini
Os efeitos da inflação ao longo das gerações.

Enquanto isso, os presos que usam cigarros para precificar outros itens e manter valor dentro do sistema carcerário parecem estar ficando mais ricos (pelo menos nominalmente em real). Apesar do Brasil ter um dos cigarros mais baratos do mundo, o aumento do seu preço real costuma subir consideravelmente ao longo do tempo.

aumento do preço do cigarro
Tendência de alta do cigarro ao longo das décadas no Brasil. Fonte: Aliança de Controle do Tabagismo.

O cigarro valorizou em níveis superiores ao IPCA, índice que acompanha a tendência da inflação, e superou até mesmo a taxa básica de juros, mostrando que dinheiro investido em renda fixa não conservou nem poder de compra para comprar a mesma quantidade de cigarros. O item é até mesmo visto como um “vilão” por constantemente ser responsável por aumentar tais índices que acompanham os preços para o consumidor.

Vale notar também que o preço do cigarro é fortemente influenciado pelos impostos, sendo tributado em 80% segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). Logo, teoricamente você corre o risco de perder a maior parte do valor da sua carteira de cigarros em uma simples canetada de políticos. Mas a inclinação do ministro da Economia Paulo Guedes por “tributar o pecado” leva os fumantes a acreditar que o preço do cigarro pode continuar subindo.

Enquanto isso, o real continua apenas desabando em relação ao dólar e outras moedas estrangeiras. Apenas em 2021 a moeda brasileira já desvalorizou em 9,3%, revelando que guardar esse dinheiro para o futuro é um risco enorme, com sua volatilidade significativamente alta.

crash do real
Queda do Real no par BRL/USD apenas em 2021. Fonte: TradingView.

Fazer poupança em cigarro está curiosamente parece ser um negócio mais interessante que investir no Brasil através de renda fixa. E apesar de não contar com as melhores características de durabilidade, divisibilidade e escassez como metais preciosos, por exemplo, o cigarro é rei em épocas de crise onde quem domina é o escambo.

Um exemplo clássico foi a Alemanha de 1945, quando o cigarro foi usado como principal “moeda”. Por meio de relatos de sobreviventes de guerras, é perceptível que em cenários de crise e conflito aumenta-se o uso como meio de troca de tabaco, álcool e outras drogas, além de armas e munições.

Óbvio, não estou recomendando que você invista em cigarro e muito menos deixe de fazer uma reserva de emergência em real. Com o artigo espero apenas que você perceba o quão inseguro é estar posicionado apenas na moeda brasileira, sem reservas mais fortes e planos alternativos.

Veja também: Como o cigarro quase virou moeda oficial no Brasil

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