- As grandes baleias do mercado de criptomoedas estão vendendo bilhões de USDT em um ritmo histórico.
- Dúvidas sobre as reservas da Tether continuam e risco pode ser grande para pequenos investidores.
A crise de confiança no mercado de stablecoins após a queda da UST prossegue com grandes investidores (baleias) vendendo em massa a Tether USD (USDT), no que pode se tornar a maior crise da história do mercado de criptomoedas. O que essas baleias sabem e por que estão vendendo USDT?
O gráfico abaixo mostra a perda de 10 bilhões de dólares em valor de mercado do USDT, algo que nunca havia acontecido na história.

A maior stablecoin do mercado tem perdido espaço para a competidora USDC, vista pelo mercado como mais segura.
No dia 9/05 quando o UST começou a implodir, a empresa de análise Coinmetrics identificou que 147 carteiras de Ethereum aumentaram sua quantidade de USDC para ao menos US$1 milhão enquanto se desfizeram de ao menos US$1 milhão de USDT.
Além das trocas para outras stablecoins outro fator agrava a crise na USDT, apenas no dia 12 o Tether teve US$3,3 bilhões em redenções para dólar, o maior valor da história. Vale lembrar da regra do Tether para saques em dólar: é preciso ter o mínimo de US$100 mil para pedir o resgate em dólar.
Como podemos ver no gráfico abaixo, as oportunidades de arbitragem de preço no Tether estão aumentando, permitindo que grandes baleias comprem 1 USDT abaixo de 1 dólar.

Essa quantidade de saques de baleias “provavelmente reflete o fato de que apenas grandes detentores geralmente têm o privilégio de resgatar USDT e cunhar novo USDC para capturar uma arbitragem”, Kyle Waters, analista da CoinMetrics.
USDT e a próxima grande crise do mercado de criptomoedas
Se apenas fosse uma questão de escolha entre USDT e USDC os investidores poderiam dormir em paz, mas não é só isso que está em jogo.

Há muito se suspeita que o Tether USD não tenha a quantidade de dólares que diz ter. Aliás, a empresa por trás do USDT já foi pega mudando seus termos algumas vezes, a mais famosa foi em 2019 quando o site oficial mudou o texto de: “Cada tether é sempre lastreada na proporção de 1 para 1, pela moeda tradicional mantida em nossas reservas.” para “cada Tether é sempre 100% lastreada por nossas reservas, que incluem moeda tradicional e equivalentes de caixa e, de tempos em tempos, podem incluir outros ativos e recebíveis de empréstimos feitos pela Tether a terceiros, que podem incluir entidades afiliadas (reservas coletivas).”
Adicione esses dados históricos ao último relatório de reservas trimestral dos ativos da Tether e a situação começa a ficar um pouco complexa.
O relatório mostra que o total de dólares em caixa era de apenas 17% das reservas com US$20,1 bilhões, fora os títulos do tesouro norte-americano, o USDT também estava lastreado em US$286 milhões em títulos com data de maturidade menor que 180 dias em outros países.
Em suma, se saques em massa continuarem talvez a liquidez da Tether não seja capaz honrar todos os investidores na velocidade necessária, causando um caos dezenas de vezes maior que a implosão da UST.
Isso partindo do pressuposto que a Tether tem todas as reservas, visto que as auditorias feitas são conduzidas por empresas das Ilhas Cayman – um conhecido paraíso fiscal. Quem está acostumado com as histórias do mercado financeiro sabe que empresas com nomes gigantes no setor de auditoria falharam miseravelmente.
A reconhecida Arthur Andersen LLP assinou os relatórios fiscais fraudulentos da Enron por mais de 16 anos, a Ernst & Young LLP foi condenada a pagar US$20,3 milhões por falhar com as auditorias de Bernie Madoff (o maior ponzi do mercado financeiro).
Pequenos investidores podem ver suas reservas virarem pó se uma das possibilidades acima se resultarem verdadeiras. Se a UST fez o preço das criptomoedas desabarem, uma crise na USDT tem o potencial de obliterar boa parte do mercado.