O universo das criptomoedas, por vezes visto como um faroeste digital, tem sido alvo de escrutínio quanto ao seu papel no financiamento de atividades ilícitas. Recentemente, relatos sugeriram que o Hamas, a organização militar em conflito com Israel, tinha acumulado montantes significativos através de doações em criptomoedas. No entanto, a firma de análise de blockchain, Elliptic, discorda, sublinhando a falta de evidências robustas que respaldem tais afirmações.
Reportagens problemáticas
O clamor surgiu após uma série de reportagens, incluindo uma do Wall Street Journal, que destacou supostas atividades de arrecadação de fundos cripto pelo Hamas. Este cenário instigou uma reação em cadeia de inquietações, levando mais de 100 legisladores dos EUA, liderados pela Senadora Elizabeth Warren, a expressar preocupações ao governo sobre o uso potencial de criptomoedas por entidades terroristas.
No entanto, a Elliptic, ao abordar essas questões em um recente post no blog, refutou as alegações de financiamento cripto significativo ao Hamas. Afirmou que os dados cripto sobre o assunto foram erroneamente representados e destacou a eficácia limitada das criptomoedas como ferramenta de financiamento terrorista, devido à transparência inerente da blockchain que permite o rastreamento de fundos ilícitos, muitas vezes vinculando-os a identidades reais.
A narrativa predominante apontava que, nos meses que antecederam os ataques de 7 de outubro em Israel, o Hamas e o Jihad Islâmico Palestino (PIJ) haviam evadido sanções dos EUA e financiado suas operações através de uma arrecadação cripto milionária. No entanto, a Elliptic insistiu que não há evidências que sugiram que a arrecadação cripto tenha chegado perto desses valores, e destacou o papel crucial da análise de blockchain para desenredar a verdade por trás dessas alegações.
A Elliptic mencionou que já interagiu com o Wall Street Journal e com o gabinete da Senadora Warren para corrigir as interpretações equivocadas sobre o nível de arrecadação cripto pelo Hamas, reforçando a necessidade de uma compreensão total da análise de blockchain ao tirar conclusões sobre tais tópicos sensíveis.
A experiência do Hamas com criptomoedas, embora intrigante, aparentemente, não foi tão frutífera quanto algumas narrativas sugerem. A natureza rastreável desses ativos digitais deixou as quantias arrecadadas bem aquém em comparação com outras fontes de financiamento.
Além disso, a colaboração entre exchanges de criptomoedas centralizadas e agências de aplicação da lei resultou na apreensão e congelamento de várias carteiras associadas ao Hamas, evidenciando a fragilidade das criptomoedas como instrumento de financiamento terrorista.
Desde os ataques do Hamas em 7 de outubro, uma campanha de arrecadação cripto conduzida pela organização pró-Hamas, Gaza Now, emergiu, mas apenas conseguiu angariar $21.000,00 em doações, sendo que grande parte foi congelada. Enquanto isso, em contraste, a arrecadação cripto para causas humanitárias em Israel tem florescido, exemplificado pelos mais de $185.000 em doações cripto recebidas pela Crypto Aid Israel até 19 de outubro, para apoiar os afetados pelos ataques.
Este cenário sublinha a importância de uma análise meticulosa e informada para desmantelar equívocos e fornecer uma visão clara sobre o papel das criptomoedas no financiamento de entidades e causas variadas. A narrativa em torno do financiamento cripto ao terrorismo precisa ser vista através de uma lente de evidência e análise rigorosa, ao invés de ser nublada por interpretações apressadas e desinformadas.