Diferentemente do que foi noticiado em diversos portais, inclusive no nosso, não está certo se a CBDC brasileira utilizará a mesma tecnologia que as criptomoedas.
Através de um post do dia 11 deste mês, havíamos informado que a moeda digital do Banco Central do Brasil seria baseada na tecnologia blockchain. Diversos portais especializados fizeram o mesmo, a partir de informações de uma entrevista da Valor com Fabio Araujo, coordenador do projeto do Real Digital.
Até mesmo Paulo Guedes, ex-ministro da Economia, havia afirmado em entrevista para o Flow Podcast que a CBDC brasileira utilizaria a tecnologia blockchain.
Entramos em contato com a assessoria de imprensa da instituição para realizar alguns questionamentos acerca do tema, principalmente porque a notícia não foi postada em nenhuma plataforma oficial do BC. A resposta, que reproduzimos na íntegra, nos foi enviada por e-mail:
O BC irá criar uma rede DLT permissionada baseada em tecnologias que já estão comercialmente disponíveis, ou seja, não desenvolverá uma tecnologia própria e nem partirá do zero. Ainda não há uma definição sobre qual tecnologia de DLT será usada como base para a construção da rede do Real Digital.
DLT é a sigla em inglês para Tecnologia de Registro Distribuído. É uma categoria da qual o blockchain faz parte, mas não se restringe a ele. Existem outros exemplos de tecnologias de registro distribuído, como DAG (Directed Acyclic Graph).
Por que isso importa?
Diferentemente do que muitos acreditam, a tecnologia blockchain não é uma panaceia para todos os problemas do mundo. Trata-se de um modelo de base de dados que, como qualquer tecnologia, tem seus pontos positivos e negativos.
Um desafio muito conhecido pela comunidade cripto é o Trilema do Blockchain, ou Trilema da Escalabilidade. O conceito, que foi popularizado por Vitalik Buterin, criador do Ethereum, diz que é impossível um blockchain maximizar simultaneamente descentralização, escalabilidade e segurança.

O Real Digital não vai ser descentralizado. Como foi reiterado pela resposta do BC, a tecnologia utilizada para o projeto será permissionada, ou seja, exigirá autorização para ser utilizada, que só será concedida para o Banco Central e instituições financeiras. Sendo assim, não faz muito sentido utilizar blockchain, porque esse tipo de estrutura é mais adequado para projetos altamente dependentes de descentralização.
Ao invés disso, faria mais sentido utilizar tecnologias que permitam mais segurança e eficiência. Ao contrário do que muitos pensam, blockchain não é imprescindível para que contratos inteligentes e tokenização possam ser realizados, então não haveria nenhum óbice para os planos de oferecer esses serviços caso o BC optasse por outros modelos.
Durante uma palestra em 2017, Andreas Antonopoulos, um dos maiores especialistas em Bitcoin e blockchains abertos do mundo, afirmou que a principal utilidade de um blockchain é ser descentralizado, neutro, resistente à censura e aberto. Caso reestabeleça a necessidade de confiança em intermediários, trata-se apenas de uma base de dados comum.
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