Cointimes

Diretor de marketing do Santander faz críticas contra NFTs; resposta à Igor Puga

estátua de pensador

Um texto, produzido por Igor Puga – Diretor de Marketing no Santander, publicado na revista Meio&Mensagem e reproduzido no portal braziljournal, com o nome “NFTs – Não Forcem Tanto”, faz algumas críticas contra o mercado NFT.

Concordo com muitos pontos levantados por Igor Puga, mas na segunda metade do texto encontrei alguns erros, ou pontos que não concordo e gostaria de compartilhar, não só a correção destes pontos, pois é importante para o mercado, como também minha opinião pessoal.

Meu objetivo é trazer os pontos de discordância, então o leitor pode partir da premissa de que os pontos não abordados nesta matéria são devido à concordância de minha parte para com o autor original.

O que se está comprando realmente?

Neste ponto, nós provavelmente concordamos, mas por motivos diferentes.

trecho do texto com críticas sobre nfts

Eu concordo com o diretor de marketing do Santander que o que se compra, ou se vende, como ele afirma no segundo parágrafo da imagem, é o NFT, não a obra.

E a crítica é válida quando ele ilustra a existência de um comprador ingênuo que presume ter comprado a obra, então como forma de educar as pessoas sobre o que realmente se compra é importante, mas isso não invalida a tecnologia.

O token não-fungível continua sendo único para o comprador que entende o que está comprando e continua tendo valor caso ele possua uma aplicação no mundo real.

Quem foi que estabeleceu que o que está em negociação é uma imagem .jpeg facilmente reproduzida? Além de novatos (que vão descobrir estarem errados), golpistas, ingênuos ou ‘haters’?

E quando digo ‘haters’, me refiro às pessoas que são críticas de algo pelo puro prazer de criticar, normalmente através de meias verdades, informações incompletas ou alegações vazias, sem evidências ou fundamentos.

Não que seja o caso do Igor Puga, aqui (não é), já que até o momento ele se mostrou muito bem informado sobre a tecnologia e o ecossistema.

Como disse, eu concordo com ele neste ponto, mas acredito que seja por motivos diferentes, já que ele demonstrou tentar utilizar este argumento para invalidar toda a indústria, quando na verdade só expõe uma imaturidade do mercado que, possivelmente, será resolvida com o tempo.

O que se compra é um ativo digital escasso e único que pode ser transferido entre pares dentro de uma blockchain. Este token é protegido por criptografia e é interpretado como uma hash – uma sequência de caracteres aleatórios vinculados à uma assinatura digital.

O uso que o dono deste token dará para ele, já é outra história e depende apenas dele e de mais ninguém.

Se ele quiser utilizar seu token como garantia de participação em um clube super seleto de milionários, como ingresso para um evento pontual, como escritura ou documento que determina a posse de um item no mundo real (ou no digital, por que não?), ou até mesmo para “(…) o direito de se gabar”; de acordo com Puga, que seja.

O que importa é que existe uma tecnologia que permite este e outros usos.

E pessoas estão dispostas, por valores subjetivos ou não, a pagar um determinado preço por elas… Que seja.

O que um NFT acrescenta para a comunidade gamer?

Ao falar do uso dos NFTs nos jogos, Igor afirma que: “A maioria esmagadora dos jogos já faz uso de microtransações oferecendo uma variedade de itens virtuais e produtos no jogo, enquanto marketplaces como o Steam há muito permitem que os jogadores negociem diretamente entre eles”.

trecho do texto com críticas sobre nfts

O que é verdade, eu concordo, mas não acho que a comparação seja válida, nem que a existência dos NFTs não traga benefícios para os ‘gamers’, ou que isso não acrescente nada para a comunidade; como ele também afirmou no restante do parágrafo.

A Steam é uma plataforma centralizada, pertencente à uma empresa que possui total controle sobre tudo o que acontece ali. Um intermediário, até então necessário.

A blockchain é uma tecnologia que foi inicialmente criada com o objetivo de evitar a necessidade de um intermediário.

Não que ele não possa existir, em alguns casos o intermediário existe e algumas pessoas estão bem com isso, mas ele não precisa existir. E essa é a maravilha aqui; o ponto realmente importante.

Mesmo quando o intermediário existe – eu pessoalmente acredito que sua existência neutraliza parte dos benefícios da tecnologia, o ideal é não ter nenhum intermediário, ou ele ter o menor peso possível no ecossistema – seu poder é limitado.

Com um NFT, o jogador não precisa que o servidor da Steam esteja online, ou que a Steam permita ele negociar seu item, ou confiar que o valor da venda será enviado para sua conta pela equipe financeira da plataforma. Ou temer que qualquer problema possa acontecer no meio do processo e perder aquilo que lhe pertencia, ou ser impedido de usar.

Um jogador pode negociar diretamente com outro jogador, em um formato ponta-a-ponta (peer-to-peer) e receber o pagamento por isso, da mesma forma descentralizada e segura, em sua carteira.

Ele não precisa se limitar a apenas um marketplace, porque o token fica armazenado na blockchain que pode ser acessada de qualquer lugar através de um node ou uma carteira, ambos com uma chave privada.

O intermediário é a palavra chave.

E eu concordo que muitas pessoas no mercado não estão aproveitando 100% o potencial da tecnologia, ao se manter dependentes de intermediários ou plataformas centralizadas ou ao adquirir tokens cujo uso está limitado dentro de um ecossistema fechado e centralizado (como é o caso de alguns jogos play-to-earn).

Só que novamente isso não é um problema da tecnologia, mas do uso que se dá a ela.

Impacto ambiental

Ao falar sobre impacto ambiental o autor também se equivoca, trazendo uma generalização de toda a indústria cripto e da tecnologia NFT em um problema específico de duas redes, causado por um tipo específico de tecnologia de consenso (prova de trabalho – PoW) e que está sendo resolvido por ambas, tanto através da migração para um método de consenso de menor impacto – no caso do Ethereum -; como na busca por soluções criativas de sustentabilidade para a mineração do Bitcoin.

trecho do texto com críticas sobre nfts

Mas sim, eu concordo totalmente com o autor de que o impacto ambiental é um problema e, mesmo com o uso sustentável, a emissão de gás carbono é preocupante.

Exatamente por compartilhar da mesma preocupação e entender que esta é uma preocupação que deve se manter (e talvez aumentar) no mercado, é que minha carteira de investimento de longo prazo hoje está composta por ativos cuja tecnologia soluciona este problema.

Ao concordar com a questão do impacto ambiental eu poderia dizer que isso não é um problema dos NFTs e muito menos das criptomoedas, como Puga afirmou, mas de duas redes muito específicas que, por algum motivo, são líderes de mercado em capitalização.

Apoiar NFTs não é “ampliar o uso de uma infraestrutura” danosa ao meio ambiente. Acreditar que o universo de NFTs e criptomoedas se resume apenas aos dois projetos com maior impacto, sim.

Existem muitas blockchains com pouquíssimo consumo energético e emissão de CO2, que poderiam ser consideradas mais sustentáveis.

Para exemplificar com duas que gosto bastante (*tenho em carteira) e estão muito focadas em diminuir o consumo energético e a emissão de CO2, seja por preocupação ambiental genuína, ou por alcançar uma maior eficiência com menor custo de recursos:

Nano (XNO)

A Nano (XNO) seria em resposta à crítica contra o Bitcoin e toda “a infraestrutura de criptomoedas que por si só (…)”. Nano é um protocolo cujo único objetivo é ser dinheiro digital peer-to-peer e uma transação em nano utiliza 15.500.000 vezes menos energia que uma transação de bitcoin.

infográfico de gasto energético por transação nano vs bitcoin

Avalanche (AVAX)

A Avalanche (AVAX) seria uma resposta às críticas relacionadas ao Ethereum e uma alternativa para o uso de NFTs de forma mais sustentável, já que é um concorrente direto da anterior, mas que ainda consegue se comunicar com a EVM (ethereum virtual machine) e transacionar tokens ERC-721 (o padrão de token utilizado para o NFT na ethereum).

infográfico gasto energético anual Bitcoin, Ethereum, Solana e Avalanche

A rede da Avalanche atualmente usa 35.355 vezes menos energia que sua concorrente, mas este número (fornecido pela própria equipe da avalanche) deve ser recebido de forma crítica, já que a medição é com base no consumo anual e não no consumo por transação e, neste caso, é óbvio que as redes mais utilizadas terão um maior consumo.

De qualquer forma, o protocolo da AVAX consegue oferecer uma alternativa ao consumo energético devido à ausência de mineração e uma nova tecnologia de consenso que permite maior escalabilidade e menor uso de recursos.

Outras redes também apresentam mais eficiência neste sentido, como Wax (WAX), Fantom (FTM), Solana (SOL), Cardano (ADA), etc.

Perenidade

Ao falar sobre a perenidade dos NFTs e fazer um comparativo com outros bens físicos é onde o diretor de marketing do Santander comete seu maior erro.

trecho do texto com críticas sobre nfts

Já que ele critica a perenidade dos NFTs, mas usa a perenidade das plataformas centralizadas que são intermediárias na negociação dos NFTs como se elas afetassem o “tempo de vida” do token.

Não é verdade.

OpenSea e outras plataformas podem acabar, mas enquanto a blockchain onde o token está registrado se mantiver ativa, o token também continua “vivo”. Acaba entrando um pouco na mesma questão que comentei sobre a Steam e o uso nos jogos.

Muitas pessoas fazem a mesma confusão e isso é perfeitamente normal, principalmente porque o mercado ainda é muito novo, imaturo e está fortemente concentrado em alguns poucos intermediários, mas isso tende a mudar com o tempo.

No entanto, a crítica sobre a maior parte dos NFTs não residir na blockchain, mas em contratos inteligentes ou em “segundas camadas”, é válido e eu compartilho da mesma preocupação.

Eu não armazeno riqueza em tokens off-chain ou em contratos inteligentes centralizados e não recomendo ninguém a fazer o mesmo.

Mas novamente não é algo que invalida a tecnologia que, ironicamente, foi criada exatamente para solucionar estes problemas.

Conclusão

O restante do texto – seu final – acaba sendo uma conclusão mais pessoal do próprio autor, com uma opinião subjetiva sobre o mercado e ele tem todo o direito de manter essa opinião.

Eu também acredito que o mercado de criptomoedas muitas vezes pode parecer um faroeste enlouquecido, recheado de esquemas “ponzi”, pirâmides, ganância imoral e desmedida, mas não acho que isso resume todo o mercado e toda a indústria.

Existem excelentes projetos que querem solucionar problemas reais e existem pessoas no mercado que realmente estão buscando esses projetos.

Às vezes pode parecer difícil “separar o joio do trigo”, mas não é impossível.

Eu sou otimista de que a loucura especulativa tende a diminuir com o aumento da demanda e com a queda de projetos ruins e/ou fraudulentos.

Por isso, compartilhar informação e conhecimento é importante.

O Igor Puga fez um excelente trabalho em tentar alertar as pessoas sobre os problemas que ele enxerga na indústria e eu o respeito muito por isso, principalmente por ser uma pessoa de posição relevante e que se faz um pouco vulnerável às críticas mais duras, quando fala sobre assuntos que muitas vezes mexe bastante com o emocional das pessoas.

Mas também, pelo mesmo motivo, acredito que é igualmente importante corrigir alguns erros existentes, pois só assim podemos crescer e evoluir como mercado, mas mais importante, como pessoas.

Leia outros conteúdos...

© 2024 All Rights Reserved.

Descubra mais sobre Cointimes

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading