Nesta semana tivemos um dos maiores problemas com o mercado de criptomoedas dos últimos anos, a corretora FTX Global declarou problemas de liquidez, travou os saques e isso repercutiu para outras áreas do mercado. O preço do bitcoin caiu para seu menor nível do ano e o FTX Token (FTT) simplesmente derreteu.
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Como isso aconteceu? Como a filosofia do fundador da FTX, Sam Bankman-Fried, pode ter impactado em uma das maiores fraudes do mercado de criptomoedas? Entenda alguns pontos que estão por trás dessa história que poucas pessoas estão falando.
Quem é Sam Bankman-Fried
Antes de entender como o mercado de criptomoedas despencou com o bitcoin saindo de 20 mil dólares para US $15 mil em algumas corretoras, vale falar um pouco da figura responsável por essa queda, o fundador da FTX, Sam Bankman-Fried (SBF).
Sam chegou a acumular uma fortuna de US $20 bilhões, se tornando uma das únicas pessoas a alcançar essa fortuna antes dos 30.
E como ele fez isso? Parte de sua fortuna vem da operação de arbitragem entre o mercado global e o asiático de criptomoedas. A arbitragem se trata de uma operação de trade baseada em comprar em um lugar mais barato para vender onde as pessoas estão pagando mais.
A diferença de preço para o mercado asiático ficou conhecida como Kimchi Premium – Kimchi é um prato típico da cozinha sul coreana – esse premium chegou a oscilar entre 4,8% e 55% em janeiro de 2018. Isso aconteceu devido às restrições de capital do governo Sul Coreano, que dificultaram a arbitragem.
SBF frequentou o MIT e se formou em física, tendo começado sua carreira trabalhando para a empresa de negociação de alta frequência Jane Street Capital em 2013 e, em 2017 deixou a empresa para buscar outros objetivos. Na Jane, a filosofia era ser agnóstico a risco e operar sempre com as melhores oportunidades do mercado, nunca se envolvendo em operações arriscadas.
Sam aplicava isso em sua vida, a saída dele da Jane foi um momento de virada nessa filosofia. Aliás, falando em filosofia, ele era extremamente utilitarista e ligado ao movimento Altruísmo Efetivo (AE), um movimento social filosófico que incentiva pensar nas maneiras mais efetivas de fazer caridade.
Esse movimento foi essencial para a construção da FTX e da fortuna de SBF. A AE tem membros por todo o mundo e compartilha de uma rede de pessoas com o mesmo pensamento, isso ajudou Sam a criar uma base na Ásia para que ele pudesse operar.
E as operações foram um sucesso. Começando com 50 mil dólares a 10% ao dia, em pouco tempo Sam conseguiu um empréstimo de 50 milhões e conseguiu devorar o Kimchi Premium, se tornando bilionário por meio da empresa Alameda Capital.
E operando nos mercados asiáticos e mundiais ele viu que não existia uma plataforma com segurança jurídica forte mundialmente e todos os recursos de trade necessários como opções, alavancagem e outros produtos financeiros.
Isso teria levado à criação da FTX.
FTX e operação com bitcoin
A FTX recebeu investimentos de grande nomes do mercado financeiro e cultural: a Sequoia Capital investiu alguns milhões, a modelo Gisele Bündchen recebeu ações da FTX para fazer propaganda e há uma lista enorme de pessoas ligadas a FTX que nos últimos dias tiveram seu capital evaporado.
E foi por meio de uma das maiores crises que os buracos na FTX começaram a aparecer. Sam comprou as plataformas falidas Voyager, Celsius e BlockFi – todas foram imensamente imapctadas pela implosão da Luna. Só na BlockFi foram US $250 milhões para fazer a empresa sair da crise.
A empresa começou a enfrentar grande resistência de reguladores, apesar de Sam ter doado 50 milhões de dólares para campanhas de esquerda nos Estados Unidos em 2022, se tornando o segundo maior doador único do Partido Democrata. Fora que ele tinha um plano de doar US $1 bilhão em 2024. Isso, em conjunto com o apoio dele a uma forte regulamentação das criptomoedas, gerou um enorme prejuízo à sua imagem, principalmente após uma conversa com Erik Voorhees:
No começo de novembro, o balanço de ativos da Alameda vazou e por lá todos ficaram sabendo que a Alameda tinha mais tokens FTT, que eles próprios criaram, do que tokens em circulação.
A Alameda tinha centenas de milhões de dólares em criptoativos iliquidos, muitos dos quais eram projetos criados pelo próprio SBF.
Vendo isso, em 5 de novembro, US$ 584 milhões de dólares em FTT foram transferidos para a Binance. Um dia depois, CZ confirmou que era a própria Binance vendendo sua posição em FTT.
O último sopro no baralho de cartas
O medo de que a FTX ficasse insolvente se espalhou e no dia 7 de novembro mais de US $450 milhões em stablecoins saíram da FTX.
Sam afirmou que tudo estava tranquilo em um tweet já deletado. Mas não estava nada bem, os saques da FTX foram bloqueados porque a corretora não estava líquida, ou seja, não tinha dinheiro para honrar todos os saques.
O próprio SBF fez o mea-culpa no Twitter, afirmando que tinha apenas 80% da liquidez necessária para uma operação da corretora, por exemplo, no sábado.
Em outras palavras, provavelmente a Alameda usava seu próprio token que tinha pouca demanda para conseguir mais investimentos, comprar mais do seu token, fazendo subir o preço, declarando mais ganhos e repetindo o processo.
Com a venda de CZ o castelo de cartas caiu, a FTX não tinha o dinheiro dos clientes que estava investido em ativos ilíquidos e agora não poderia nem mais levantar fundos com os FTTs que estavam despencando.
E isso começou a afetar outras empresas, a BlockFi, por exemplo, acabou de bloquear os saques dos clientes.
E essa é a história, até agora, da crise na FTX. O que podemos aprender com isso? Estude sobre auto custódia, seja seu próprio banco, evite deixar dinheiro em exchanges.
