O áudio obtido pelo Brasil 247 revela que o sócio e ex-presidente do BTG Pactual, o banqueiro André Esteves, possui interesse pelo ecossistema DeFi, mas ironiza o preço do Bitcoin a US$ 66 mil.
Na conversa, Esteves também conta que, no dia em que vários secretários de Paulo Guedes pediram demissão, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o procurou.
Sobre eleições, ele diz que Bolsonaro tem chances, se ficar calado, e diz que Lula precisa se movimentar rumo ao centro, mas revela sua preferência pelo PSDB.
Na conversa gravada com clientes do banco, que foi posteriormente obtida pelo 247, Esteves ataca a ex-presidente Dilma Rousseff, elogia Michel Temer e diz que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, o procurou no dia em que vários secretários de Paulo Guedes pediram demissão.
Além de dono do BTG Pactual, Esteves é também dono da Editora Abril, que publica Veja e Exame, embora assuma ser dono apenas da revista econômica. No áudio, ele diz que o Brasil está barato e que a moeda brasileira está excessivamente desvalorizada.
Sobre as eleições presidenciais de 2022, ele diz que Jair Bolsonaro é favorito desde que fique calado. Lula, na sua visão, terá chances caso se movimente em direção ao centro e se aproxime de um nome como Henrique Meirelles, mas revela sua preferência pelo PSDB.
Depois de questionado sobre a crise chinesa, o tema abordado foi o Bitcoin. A resposta começa de maneira irônica: “Bitcoin!? Ah tá barato aí, US$ 66 mil… eu acho um espetáculo, uma coisa sensacional”, disse, provocando uma onda de risadas entre os participantes da reunião.
Adiante, o banqueiro volta a falar sério sobre as criptomoedas:
“Esse tema a gente discute muito, amanhã até tenho uma reunião sobre cripto no Brasil. Me atrai muito o ecossistema que vai vir junto com as criptomoedas, esse mundo de blockchain e finanças descentralizadas (DeFi). Na próxima década, a maneira como a gente vai interagir, financeiramente falando, vai mudar totalmente, muito em linha com essas tecnologias”.
“O bitcoin tem valor nesse preço!? Eu não sou um entusiasta. Se alguém quiser fazer alguma coisa aqui, eu recomendaria uma parcela pequena do patrimônio para poder testar, entender e aprender, e não usar alavancagem”, recomendou.
Ele reconheceu que a demanda pela criptomoeda como forma de proteção está crescendo, principalmente em países cuja economia não está muito consolidada, como a Turquia, Argentina e Venezuela.
“É como se tivesse aparecido um doleiro global”, explica. “Os doleiros nos anos 80 e 90 tinham uma função institucional. O cara da classe média chegava no final do mês e queria comprar US$ 100 para se proteger da hiperinflação, do calote da vez do governo da vez”.
“Eu não vejo isso como moeda global, é muito volátil, muito insegura, uma história que ninguém sabe quem criou, um cara que tem 20% do estoque, há de convir que é uma história muito doida”.
No final da reunião, um dos participantes questionou André Esteves sobre a visão do Banco Central em relação às criptomoedas:
“Os bancos centrais não vão abrir mão de um arcabouço que eles criaram nos últimos 20 anos de prevenção à lavagem de dinheiro [..] Vão deixar a inovação fluir desde que ela não passe esse sistema que custou tanto para ser montado com legitimidade”.
Ele citou como exemplo a própria plataforma de criptomoedas do BTG Pactual, a Mynt. “Vamos desenvolver junto com o BC. Hoje a gente permite compra e vende criptomoeda dentro do nosso sistema e o Banco Central tá achando legal”, contou.
“Eles [reguladores] vão deixar as criptomoedas andarem, porque a inovação faz parte da evolução, mas vai ser muito resistente a qualquer ameaça a esse sistema de controles de capitais”, concluiu o banqueiro. “Primeiro vem o faroeste e depois vem o xerife, é sempre assim”.
Escute a conversa completa:
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Texto produzido por Bruno Haacke e Cláudio Brito.