O Fed de Boston pediu a pesquisadores do MIT em 2020 que iniciassem um projeto destinado a construir e testar “com ousadia [e] engenhosidade” os sistemas necessários para a criação de um dólar digital.
Toda essa engenhosidade pode tornar as políticas de afrouxamento monetário dos EUA quase que permanentes, como explicam os pesquisadores do Swiss Finance Institute em um estudo sobre os impactos dos CBDCs nas políticas de afrouxamento monetário (QE).
Do Whitepaper ao mundo real
Com uma equipe dedicada ao desenvolvimento de software de código aberto e pesquisa de criptomoedas, a Digital Currency Initiative do MIT (DCI), têm investigado as etapas necessárias para emitir um CBDC com segurança e responsabilidade desde 2016.
Este projeto, que está longe das operações principais do FED, pode ser simplesmente uma “política do menor esforço”, já que os Bancos Centrais do mundo todo estão sendo pressionados a mostrar ao Congresso e a população que são capazes de acompanhar o ritmo do século 21.
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Mesmo assim, as autoridades americanas parecem acreditar que, caso seu modelo seja copiado, isso daria aos Estados Unidos mais influência sobre a fixação de padrões mundiais. Por isso, a solução para um dinheiro digital destinado ao mercado de massas que seja suficientemente escalável, seguro, rápido e flexível está sendo estudada pelo MIT.
Apesar de parecer somente promessa política, você sabe qual o impacto de uma CBDC na economia real?
O impacto na política monetária
Em um estudo de Martina Fraschini, Luciano Somoza e Tammaro Terracciano, publicado na LSE Business Review, foi analisada uma economia estilizada na qual o banco central usa os depósitos do CBDC para manter títulos do governo ou para adquirir títulos de risco, dados os regimes de política pré-existentes.
De acordo com os pesquisadores, as moedas digitais do banco central (CBDC) podem modificar consideravelmente o tamanho e a composição dos balanços do BC, já que elas são uma versão de varejo das reservas bancárias.
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Ao permitir que os varejistas mantenham depósitos no banco central, o tamanho do balanço do banco central pode aumentar consideravelmente e, ainda, criar novos problemas de liquidez.
Perceba que essa questão está sendo levantada após a grande crise financeira de 2008, e principalmente, durante a pandemia, quando a expansão monetária dos Bancos Centrais atingiu recordes históricos.
“Em particular, a introdução de um CBDC sob um regime de flexibilização quantitativa tem efeitos não lineares. Esta descoberta é especialmente importante porque a maior parte da discussão sobre o design do CBDC concentra-se no aspecto tecnológico dele ou nos riscos de desintermediação”, conforme os autores.
Vale mencionar que políticas de afrouxamento monetário, muito usadas ultimamente, são entendidas como trocas de reservas recém-criadas por ativos de risco.
Dessa maneira, os pesquisadores alertam que “Como resultado [das políticas de QE], o montante das reservas do setor bancário aumentou acentuadamente na última década e os requisitos de liquidez deixaram de ser vinculativos”.
“Assim que as condições econômicas melhorarem, os bancos centrais se comprometerão a reverter essas políticas expansivas (…). Entretanto, a introdução de um CBDC neste contexto pode prejudicar essa fase de redução, uma vez que os bancos comerciais podem usar suas reservas excedentes para permitir que os depositantes mudem de depósitos bancários para CBDC”, e adicionam:
“Isso tem implicações políticas não desprezíveis, pois pode ser percebido como uma ferramenta de compromisso permanente, ao se afastar da postura oficial que considera as políticas de QE como temporárias“.
Por hora, o impacto de um CBDC depende da política monetária que o BC está perseguindo. Porém a introdução dele no sistema monetário pode tornar a flexibilização quantitativa uma política quase permanente.
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