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O óbvio não dito em “O Poço”

o poço

“Óbvio!” é a palavra que marca o filme O Poço (The Platform). Uma ficção científica de terror e suspense dirigida por Galder Gaztelu-Urrutia, que caiu no gosto de muita gente nessa quarentena. O motivo? As críticas sociais que o filme “claramente” faz. 

Bem, “claramente” com muitas aspas porque o filme em si divide muitas opiniões. Tem gente que odeia, tem gente que ama, tem gente que cai (isso foi um spoiler).

⚠️ Aliás, se você ainda não assistiu o filme, lamento, mas este texto estará repleto de spoilers! Óbvio! Então, a partir daqui é por sua conta em risco, você está lendo voluntariamente. Ok? (Isso também foi um spoiler).⚠️

Devidamente avisados? Vamos ao texto!

Bem, sob uma ótica superficial, a mensagem óbvia do filme é: há uma má distribuição de riquezas no capitalismo e isso é a causa dos problemas. A partir dele as pessoas com mais dinheiro consomem tudo o que há de riquezas no mundo e o que sobram para os menos afortunados são migalhas.

Tudo acontece em uma prisão vertical. Nela, pessoas (voluntariamente) se candidatam a passarem um tempo aprisionados com a promessa de se liberarem de algum vício e receberem um certificado homologado. É possível levar algo consigo durante o período em que se está lá. Qualquer coisa mesmo. O personagem principal leva um livro, por exemplo, mas há pessoas que levam cordas, facas, tacos de basebol, dinheiro.

A prisão vai do nível 0 ao nível 333, cada andar comporta 2 pessoas. A cada mês os sobreviventes acordam em um novo andar, o que pode ser bom ou ruim.

Há uma plataforma central que desce de nível em nível trazendo comida. Os presos do nível zero então se fartam, comem o que podem até a plataforma descer ao nível um, que se fartam até a plataforma descer ao nível dois e por aí vai.

Como o recurso é limitado, toda a comida existente na plataforma acaba rápido e, a partir de alguns andares já não há mais o que comer. Logicamente o que se espera é que a próxima plataforma desça com comida, mas não é o que acontece. A saída então é matar o companheiro de cela e se alimentar dele ou esperar alguém cair lá de cima por não aguentar a pressão do lugar. Vemos isso acontecer algumas vezes no filme.

O tiro saiu pela culatra?

Então o que temos, mais uma vez de forma superficial é: a prisão representa o capitalismo em sua forma mais fria e cruel. Nele, as pessoas com mais acesso às riquezas (andares superiores) consomem o que há de melhor, deixando para os mais pobres (andares inferiores) seus os restos e condenando-os a uma vida miserável.

Comovente, não? Marx ficaria orgulhoso ao assistir esse filme, não ficaria?

O que quem produziu o filme não percebeu (talvez até tenha percebido) é que se dermos uns passos para trás e olharmos com um pouco mais de juízo crítico, veremos que o tiro saiu pela culatra! Quer ver?

No primeiro diálogo, vemos duas pessoas no andar 48. O novato aprende como funciona o sistema prisional e tem então a brilhante sacada: “vamos avisar as pessoas dos outros andares para comerem só o essencial”.

A resposta é icônica: “Quem você pensa que é? Algum tipo de comunista?”.

Perceba que a tentativa aqui é a de mostrar que o comunismo é dotado de boas intenções e sabe o que é melhor para as pessoas. Basta que cada um cumpra com seu papel e não seja ganancioso. Fazendo isso, todos serão mantidos. Correto? Não!

O que não é dito, é que não há uma cadeia produtiva no comunismo. Sem estímulo à produção, todos acabam por consumirem tudo o que há. Diante disso, não somente os “ricos”, mas qualquer pessoa em nome da sobrevivência acaba por consumir tudo o que conseguir.

O segundo ponto é a escassez

O filme tenta dizer, e falha miseravelmente, que a riqueza é finita, que os pobres só são pobres porque os ricos são ricos.

É só lembrar daquela musiquinha péssima que dizia: “e o rico cada vez fica mais rico, e o pobre cada vez fica mais pobre”

Esse pensamento só caberia em um sistema de castas baseado no poder aquisitivo, onde nascer pobre o condenaria a continuar pobre, já que quem nasce rico continuará rico.

Na idade média era mais ou menos assim. As pessoas pobres não poderiam se tornar ricas pois não era permitido o comércio entre elas. Com a revolução industrial veio o grande bum que mudou a história da humanidade para sempre!

Agora, um pobre pode ascender economicamente. Isso não significa que todo pobre ficará rico, mas certamente todo pobre pode conseguir uma condição de vida melhor hoje do que tinha ontem.

Quase que 100% dos pobres hoje vivem muito melhor do que os pobres de antigamente. Acredite, não foi o comunismo que lhes proporcionou isso. 

Hoje, a fortuna de um bilionário é emprestada pelos bancos a pessoas menos afortunadas, girando (daí moeda corrente) esse capital e produzindo mais riquezas, tanto para quem emprestou quanto para quem tomou emprestado.

No filme, a comida é limitada, o que leva as pessoas a comerem tudo o que puderem porque não se sabe o dia de amanhã. Hoje você pode estar no nível 6 mas amanhã acordar no nível 171.

A centralização estatal

Quando a distribuição de recursos é limitada e só pode ser distribuída por uma organização central (olha o estado aí), a população coloca para fora o seu lado mais primitivo e irracional, totalmente voltado para a sobrevivência.

Na quarentena que estamos enfrentando, por exemplo, o estado que já é impressionantemente ineficiente tomou o partido de ser o paizão de todos com incríveis R$600,00 como auxílio para profissionais autônomos que não estejam trabalhando.

Agora sim! Tudo está resolvido porque com R$600,00 você já pode escolher entre pagar uma parte do seu aluguel e não ser despejado ou comprar comida pra não morrer de fome.

Bem, voltando ao filme… Ao perceber que ninguém se arriscaria comer menos para que os do nível de baixo tiverem o que comer, o personagem principal e mais um decidem literalmente forçar as demais pessoas a respeitarem as regras!

A ideia: descer pela plataforma e se necessário matar quem comesse mais do que deveria. E eis aí mais uma crítica que falhou miseravelmente: A ideia de que o capitalismo é um mal que precisa ser combatido com uma revolução.

Marxistas x Fabianos

É o que difere marxistas de fabianos. Marx postulou que o capitalismo cairia se uma revolução armada acontecesse. Dessa forma a classe operária tomaria os meios de produção e todos teriam a oportunidade de viverem uma vida igualmente justa.

Uma outra personagem representa então os fabianos, que via de regra, querem o mesmo final que marxistas, mas a moldes brandos e se passando por “amigos”. No Brasil temos PT como marxistas e PSDB como fabianos.

A essa altura, talvez você tenha chegado na mesma conclusão que eu… O poço mirou no capitalismo, mas acabou escancarando as bizarrices de um grande Comunistão!

Um estado soberano que determina o que as pessoas vão fazer, escolhe onde elas estarão, limita os recursos não permitindo que sejam produzidos mais, a menos que esses essa produção seja fruto do próprio estado, condena milhares ou milhões de pessoas a viverem do jeito que o estado escolheu, é qualquer coisa, MENOS UMA DEMOCRÁTICA SOCIEDADE DE MERCADO.

Mais liberdade x Controle

Eu encerro esse texto falando sobre o que mais defendi em praticamente tudo o que escrevi nesta coluna, a liberdade. Tal como num “Comunistão”, as pessoas são forçadamente obrigadas a seguirem o sistema e assumirem que ele está sempre certo. Olhe a China.

O partido comunista chinês é quem manda em tudo! A China está no top 20 dos países que mais matam cristãos. Não há liberdade religiosa, a menos que a religião se sujeite ao governo, não há liberdade de imprensa, não tem YouTube, ou sites de free speech (discurso livre) que sobrevivam a uma investida do partido comunista.

O estado é o dono da vida das pessoas e aqueles que ousam protestar contra esse deus são severamente punidos! Aconteceu no passado na URSS, Cuba, Venezuela, Itália, Alemanha, etc… Continua acontecendo hoje também.

O capitalismo não é perfeito e nunca será. Nele é preciso trabalhar e nada vem de mãos beijadas. Você é responsável pelo seu sustento e certamente haverá no mínimo uma pessoa em uma condição de vida melhor do que a sua.

Mas a loucura do sonho utópico do comunismo é infinitamente pior, pois na falha do capitalismo as oportunidades de crescimento são regidas pelo mercado em um sistema de trocas que permite variações constantes, na falha do comunismo não há oportunidade de crescimento. O comunismo distribui tudo, consome tudo e não produz nada, até que todos sejam condenados à miséria. Óbvio!

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