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O que sanções à Rússia significam para os mercados globais e de criptomoedas

O que se vê
  • O economista Frédéric Bastiat distinguiria o “que se vê” do “que não se vê”;
  • Sanções à Rússia evidenciam o valor do Bitcoin como dinheiro neutro e incensurável.

Durante o período em que o mundo sofreu com a pandemia de Covid, quando os mercados foram afetados pelos lockdowns e o choque de demanda, as redes sociais deram voz a vários infectologistas de plantão. Agora que as tensões políticas entre Rússia e Ucrânia se intensificaram, todos querem ter uma opinião sobre geopolítica internacional. 

Para agregar positivamente no debate público que emergiu do risco de bombardeio nuclear, eu vou trazer à tona as ideias do economista Frédéric Bastiat para explicar o que as sanções à Rússia significam para os mercados globais e de criptomoedas. 

A lei das consequências não intencionais

A lei das consequências não intencionais refere-se às ações das pessoas e órgãos governamentais que sempre têm efeitos imprevistos ou não intencionais.

O conceito de consequências não intencionais positivas é semelhante à “mão invisível” de Adam Smith quando ele afirma que que cada indivíduo, buscando apenas seu próprio ganho, “é conduzido por uma mão invisível para promover um fim que não fazia parte de sua intenção”, sendo esse o interesse público.

Só que na maioria das vezes a lei das consequências não intencionais ilumina os efeitos imprevistos perversos e negativos da regulamentação de um setor econômico. 

Por exemplo, em 1692, o filósofo inglês John Locke, um precursor dos economistas modernos, pediu a derrota de um projeto de lei parlamentar destinado a cortar a taxa de juros máxima permitida de 6% para 4%. 

Ele concluiu que, em vez de beneficiar os tomadores de empréstimo, como pretendido, isso os prejudicaria. As pessoas encontrariam maneiras de contornar a lei, com os custos da burla arcados pelos mutuários. Os efeitos não intencionais, concluiu Locke, seriam menos crédito disponível e uma redistribuição da renda para “viúvas, órfãos e todos aqueles que têm suas propriedades em dinheiro”.

Na primeira metade do século XIX, o famoso jornalista econômico francês Frédéric Bastiat distinguiu o “que se vê” e o “que não se vê”

O “que se vê” seriam as consequências visíveis óbvias de uma ação ou política. O “que não se vê” eram as consequências menos óbvias e muitas vezes não intencionais. Citando o próprio:

“Só há uma diferença entre um mau economista e um bom economista: o mau economista se limita ao efeito; o bom economista leva em consideração tanto o efeito que pode ser visto quanto aqueles efeitos que devem ser previstos.”

Outra análise importante do conceito de consequências não intencionais foi feita em 1936 pelo sociólogo americano Robert K. Merton em um artigo intitulado “The Unanticipated Consequences of Purposive Social Action” (As consequências imprevistas da ação social proposital publicado em 1936). 

O que se vê é a reserva de dólares 

O “que se vê”, consequência da incrível persistência do Banco Central russo em acumular dólares, é uma tentativa do presidente Putin de defender o rublo, moeda da Rússia. 

Ao longo do tempo, a autarquia financeira acumulou o equivalente a 600 bilhões de dólares em reservas internacionais, garantindo o seu colchão de emergência contra as sanções americanas.

Segundo o jornal Financial Times, cerca de US$ 300 bilhões dos US$ 630 bilhões das reservas internacionais mantidas pela Rússia nos EUA, UE, Reino Unido e Canadá foram bloqueadas pelas sanções ocidentais em fevereiro. 

Não está claro o resultado dessa estratégia, pois o rublo russo caiu cerca de 80% em 18 dias – essa é a maior desvalorização em pelo menos 25 anos. 

O mercado de ações também foi fortemente afetado pelas ações políticas. O índice do mercado de ações da Rússia, MOEX, foi suspenso pelo presidente Putin depois de cair 33,3% em 24 de fevereiro.

Petróleo está acima de 100 dólares o barril

Além da questão monetária mencionada acima, existem outras consequências a curto prazo que podemos ver. O preço do petróleo, por exemplo, está agora acima de 100 dólares por barril. 

O preço do petróleo é afetado pelos conflitos no Leste Europeu, pois a Rússia, uma das principais produtoras globais da matéria-prima, sai prejudicada de uma eventual redução da oferta de petróleo. 

Em entrevista à CNN no domingo (06), a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen sugeriu que antes de impossibilitar que Putin financie suas guerras, falou que a União Europeia deveria “se desfazer de sua dependência de combustíveis fósseis russos”.

Os bancos individuais que recebem pagamentos do gás produzido para a Europa, ainda não foram afetados pelas sanções financeiras, mas estão na mira.

Oligarcas russos procuram ativos para evitar sanções 

Diante da perseguição americana, os oligarcas russos estão procurando ativos para evitar sanções. Familiarizados com crises, eles veem no bitcoin e nas criptos uma fuga da hegemonia do dólar e uma forma de diversificar seu dinheiro.

Até mesmo os ucranianos que tiveram contas bancárias bloqueadas pelo Banco Central enxergam as criptomoedas, como bitcoin (BTC), ether (ETH) ou monero (XMR) como ativos de diversificação durante crises financeiras e geopolíticas.

Ano passado, o oligarca russo Oleg Deripaska pediu ao governo da Rússia que parasse de “ignorar” a importância do Bitcoin, depois que o Federal Bureau of Investigation dos Estados Unidos invadiu sua casa em Washington e Nova York.

O bilionário enfatizou que o Banco da Rússia tem sido “infantil” em ignorar o crescente mercado de criptomoedas

O que não se vê no mercado de produtos agrícolas

O que não se vê, ou seja, os efeitos que devem ser previstos, são os impactos das sanções econômicas para o mercado de produtos agrícolas; o mercado de semicondutores; o impacto nos mercados emergentes e de criptomoedas.  

De início, podemos avaliar as implicações das ações políticas na agropecuária. A Rússia e a Ucrânia têm uma parte significativa do mercado de produtos agrícolas. Juntos, esses dois países exportam mais de 50% de sementes de girassol, cerca de um quarto de trigo, cevada e linhaça, bem como cerca de 15% de milho e fertilizantes. 

Isso certamente elevará a inflação global no preço dos alimentos, já que grandes importadores desses produtos alimentícios, como Egito e Turquia, buscarão fornecedores alternativos se não puderem importar da Rússia devido às sanções.

Impacto nos mercados emergentes

Além de elevar a inflação global no preço dos alimentos, há um impacto ainda notório nos mercados emergentes. 

Por exemplo, as ações de empresas brasileiras que usam produtos agrícolas da Rússia como insumo são impactadas negativamente, pois os preços mais altos do trigo e do milho aumentam os custos, enquanto as sanções atrapalham as vendas.

No entanto, a Rússia e a Ucrânia são mercados relativamente pequenos para a maioria dos países emergentes, tornando os impactos das ligações comerciais menos pesadas, com maior impacto em países como Polônia.

Os mais impactados serão os importadores de combustíveis e aqueles com alta dívida em moeda estrangeira e baixas reservas cambiais, como Sri Lanka e Turquia. 

No entanto, o principal risco para os ativos de emergentes decorre das “consequências não intencionais” das sanções para o sistema financeiro global. Os preços mais altos das commodities apoiarão os países exportadores de commodities, principalmente no Oriente Médio, América Latina e África, se o cenário conflituoso atual não se agravar e ocasionar uma recessão econômica global.

Rússia e Ucrânia também produzem semicondutores

A Rússia e a Ucrânia também exportam uma quantidade significativa de componentes para a indústria de semicondutores, com mais de um terço das exportações globais de paládio e cerca de 90% do neon semicondutor dos EUA. 

Estes países são grandes produtores de alumínio, aço e minério de ferro. Metais que servem para produzir mais máquinas de guerra e elevar a demanda no momento em que as cadeias de suprimentos globais já estão bastante afetadas.

Contudo, o mais importante no curto prazo é a ruptura significativa no sistema financeiro global, que forçou amplas injeções de liquidez por parte dos bancos centrais.

Impacto no mercado de criptomoedas

Enquanto de um lado do mundo os EUA sancionam o sistema financeiro russo, do outro Putin confiscou dinheiro nos bancos oficiais da Rússia.

O efeito direto dessas medidas foi visto na cotação do Rublo Russo, que agora é negociado a US$ 0,0073. 

Entenda: Colapso de moeda russa é muito positivo para o Bitcoin, diz lendário investidor Bill Miller

O que não se vê é que sem dinheiro corrente, a sociedade não consegue transacionar valores. Por isso, logo menos os russos terão que vender seus bitcoins no mercado local para ter dinheiro para as suas necessidades diárias.


Existe algum outro fenômeno econômico que você vê impactado pelas sanções à Rússia? Deixe um comentário abaixo e acompanhe as notícias do mercado cripto nas redes | Telegram | Twitter | FacebookInstagram | do Cointimes.

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