O Banco Central da Venezuela (BCV) anunciou ontem a terceira reconversão monetária em pouco mais de uma década. Ou seja, a partir de 1º de outubro, seis zeros da moeda nacional serão eliminados e também passará a circular entre fronteiras virtuais do país o bolívar digital.
A Venezuela já havia tentado essa manobra em 2008 quando eliminou três zeros ao bolívar e introduziu o bolívar forte. Em 2018, de novo, as autoridades monetárias cortaram cinco zeros da moeda. E agora novamente mais uma tentativa de “cortar a inflação”, Maduro?
Cortar zeros vai resolver?
O objetivo principal da mudança, segundo o governo, é promover a recuperação econômica do país, que sofre de hiperinflação há quatro anos e enfrenta uma recessão generalizada. Mas do ponto de vista monetário, isso não faz muita diferença, já que o salário dos venezuelanos também terão reajuste de zeros.
A utilização do bolívar na versão digital também não tem muito efeito. Apesar da redução nos custos por transação, a economia do país emergente precisaria de reformas estruturais para tentar estabilizar o poder de compra da população. Além disso, o país tem alta dependência dos dólares que entram na economia local por remessas internacionais.
Em 2020, a inflação ultrapassou 4.000% em 12 meses no país. Para tentar se proteger da desvalorização cambial e a perda do poder de compra, Venezuelanos recorrem ao dólar e às criptos.
Segundo o think tank venezuelano Ecoanalitica, cerca de 66% de todas as transações financeiras no país já são feitas na moeda americana.
Enquanto isso, por conta da popularização do Bitcoin, as negociações de criptomoedas pagas com bolívar venezuelano aumentaram, segundo dados da LocalBitcoins.
Mesmo assim, são as elites e os membros da classe média alta que podem se aventurar nesse tipo de investimento. Em muitas partes do país, a conexão de internet costuma ser muito fraca, cara e limitada.
Salve-se quem puder
Ainda assim, as criptomoedas são a luz no fim do túnel para alguns venezuelanos, já que essa é a maneira mais fácil e econômica de permitir que seus parentes no exílio enviem dinheiro para casa. A insatisfação generalizada com os governantes socialistas do país forçou 5 milhões de venezuelanos, de uma população total de 30 milhões, a deixar seu país.
Em comunicado oficial sobre a “nova” medida econômica, o governo diz ainda que “a Venezuela está em um processo progressivo de modernização dos seus sistemas de pagamento e que recentemente iniciou as operações do novo Sistema de Troca de Mensagens Financeiras, feito localmente, por venezuelanos, promovendo a independência de sistemas estrangeiros para operações bancárias nacionais na consolidação da utilização efetiva do bolívar”.
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