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Vítimas da FTX usam soluções criativas para saque

Soluções criativas para sacar cripto da FTX

Veja como investidores que tiveram os fundos travados na FTX estão conseguindo fazer o saque de suas criptomoedas, utilizando soluções criativas e legalmente duvidosas.

Saques travados na FTX; e agora?

Caso você tenha feito desta semana uma semana sabática, ou ficou preso dentro de uma caverna, isolado do mundo, talvez ainda não saiba que a indústria blockchain passou por um dos seus piores momentos em um dos mais graves eventos de “cisnes negros” de nossa história.

Ainda bem que a equipe do Cointime é super eficiente e aqui você consegue acompanhar as principais ocorrências relacionadas ao caso da FTX. O líder de conteúdo, Gustavo Marinho, e nosso CEO, Isac Honorato, também preparam um resumo completo de tudo o que aconteceu com a empresa de Sam Bankman-Fried, que você pode conferir na thread abaixo.

De forma resumida: O CEO da exchange, SBF, assumiu a culpa de tudo e admitiu que estava operando com reservas fracionárias com os fundos de seus usuários, tendo disponível apenas 80% de toda a liquidez depositada por aqueles que confiaram em sua empresa.

Com a corrida bancária que teve início essa semana e mais de US $5 bilhões em criptomoedas saindo das contas da exchange quase que ao mesmo tempo, a FTX congelou as operações de saque, deixando milhões de usuários sem acesso ao seu próprio dinheiro. E agora?

Saques liberados para usuários da Bahamas

No final da tarde do dia 10 de novembro, Zane Tackett, antigo head de vendas institucionais da FTX, comunicou que a empresa estava trabalhando em conjunto com os reguladores da Bahamas e começaram a liberar as operações de saques para os usuários do país.

“Começamos a facilitar saques de fundos das Bahamas.”

Tweet de Zane Tackett: "Per our Bahamian HQ's regulation and regulators, we have begun to facilitate withdrawals of Bahamian funds. As such, you may have seen some withdrawals processed by FTX recently as we complied with the regulators.

A FTX é sediada na Bahamas, sendo as autoridades de lá as atuais responsáveis pelos processos legais relacionados com o escândalo. Zane Tackett afirmou que já pediu demissão da empresa, mas continua trabalhando para ajudar os usuários que foram lesados.

Investidores usam soluções criativas para o problema

Meme com homem apontando e dizendo: "Modern problems require modern solutions".
Meme: “Problemas modernos exigem soluções modernas”

Agora com a possibilidade de sacar os fundos a partir de contas das Bahamas, muitos investidores que foram vítimas da má gestão de Sam e de sua equipe passaram a buscar “soluções modernas” para resolver este “problema moderno”. Algumas delas extrapolam até mesmo o limiar da lei e da moralidade (para alguns juízes morais da internet).

AlgodTrading ofereceu suborno publicamente e sacou seus fundos da FTX

A conhecida conta @AlgodTrading chegou a, publicamente, oferecer suborno de US $100.000 para que funcionários da FTX completassem seu processo de KYC como residente das Bahamas, afirmando que já havia feito a solicitação, mas precisava de alguém que “dê procedimento”.

Dois tweets de Algod: "If anyone helps me KYC on FTX im giving 100k" e "I already submitted everything, i need someone from FTX to process it".
Fonte: Twitter

Algum tempo depois ele afirmou que o processo foi bem sucedido e que já estava verificado. Análises on-chain mostraram que um de seus endereços de Ethereum (conhecidos do público) receberam um total de US $2.114.973,00 (2 milhões de dólares) em USDT diretamente das contas da FTX.

Registro de saques de AlgodTrading da FTX.
Fonte: Twitter

Alguns especuladores questionaram se a “solução” então seria simplesmente comprar contas verificadas das Bahamas, transferir os fundos internamente das contas não verificadas, para as que possuem KYC e fazer o saque para uma carteira externa, mas constatamos através de outras fontes que transferências internas estão proibidas, impossibilitando estas operações.

Isso explica porque AlgodTrading precisou verificar sua própria conta para realizar os saques para um endereço já conhecido, se expondo para os agentes legais – o que havia levantado questionamentos no Twitter.

NFTs se demonstram muito úteis para resolver o problema de transferências internas

No entanto, não tardou para que a criatividade de milionários desesperados com seu dinheiro congelado nas mãos de SBF encontrassem um caminho alternativo para as transferências internas bloqueadas.

Usuários começaram a utilizar a negociação de NFTs dentro da FTX para passar o dinheiro entre diferentes contas. Isso foi reportado por @0xfoobar e levantou muitas dúvidas do tipo: “qual a garantia que a pessoa que vendeu o NFT devolveria o dinheiro para seu dono?”; então vou explicar como os saques são possíveis.

A mecânica de saques da FTX com NFTs é melhor ilustrada com o seguinte exemplo:

Uma conta (A), com KYC das Bahamas, faz a listagem de um NFT na própria FTX. Uma conta (B), sem KYC e com, vamos dizer, US $1M congelado, compra esse NFT que está com o preço superfaturado pelo total de um milhão de dólares em alguma criptomoeda. A partir de agora, a conta (A) pode fazer o saque para uma carteira externa e o dono da conta (B) consegue, por fim, recuperar seu dinheiro que antes estaria perdido – talvez para sempre, agora com a declaração de falência.

Saiba mais: Grupo FTX abre falência e SBF deixa posição de CEO

Algumas pessoas parecem acreditar que as vendas dos NFTs ocorrem entre pessoas diferentes e questionam as garantias que a pessoa (B) tem de que a pessoa (A) enviaria tanto dinheiro assim para sua carteira externa, ao invés de simplesmente desaparecer com a quantia de uma venda “normal” de um NFT.

Claro que é possível que acordos estejam sendo feitos em paralelo com pessoas diferentes, mas o mais provável é que os donos da conta A e da conta B sejam a mesma pessoa. Possivelmente agindo com uma conta recém adquirida de um usuário legítimo, que lhe vende os dados de acesso (login e senha).

Até o momento já foram registrados dezenas de milhões de dólares em negociações suspeitas de NFTs dentro da plataforma da FTX.

Registro de lances e vendas de NFTs por valores superfaturados na FTX.
Fonte: Twitter

Estas “soluções criativas” estão sendo condenadas por alguns e aplaudidas por outros. É óbvio que suborno e falsificação de identidade são atividades criminosas e não deveriam ser incentivadas, mas “alugar” contas de terceiros para a venda de NFTs já acaba envolvendo uma área jurídica mais cinza e existe muita margem para uma negação plausível pelos envolvidos, com muita dificuldade de que elas sejam provadas como lavagem de dinheiro.

Moralmente falando, é discutível e prefiro não entrar neste labirinto subjetivo, pois acredito que é muito fácil julgar algumas ações no âmbito moral sem considerar todo o contexto de que estes investidores são, antes de mais nada, vítimas da FTX. Que tiveram milhões de dólares presos da noite para o dia pelo erro de um terceiro. Claro que é possível argumentar que estas artimanhas podem estar sendo utilizadas internamente pela própria FTX e outros insiders; ou que ela prejudica o pequeno investidor que não possui off-shores ou capital o suficiente para alugar as contas de terceiros — então o julgamento moral acaba sendo traiçoeiro.

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