Em São Cristóvão e Névis – um país do Caribe com apenas 53 mil habitantes – está surgindo o que poderia ser a ilha do Bitcoin Cash (BCH), com uma adoção crescente e voluntária da moeda por parte dos comércios, moradores e turistas.

Adoção voluntária na ilha do Bitcoin Cash
Em 2021 fomos apresentados à Bitcoin City, um projeto liderado pelo presidente de El Salvador – Nayib Bukele – após ter transformado Bitcoin em moeda de curso forçado (legal tender) no país.
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Por mais que seja incrível ver o governo de um país aceitar o Bitcoin como aquilo pelo qual ele foi criado – dinheiro eletrônico peer-to-peer – é importante um olhar crítico sobre a característica coercitiva do ‘curso forçado’.
A criação de Satoshi foi um ato público de protesto contra a interferência de governos e grandes instituições no sistema monetário. Então é ótimo que o Bitcoin seja usado como dinheiro, mas é antiético forçar pessoas que não gostariam de utilizar BTC, fazê-lo.
E é isso que torna a adoção em São Cristóvão e Névis tão significativa.
Uma “Cidade do Bitcoin” ideal, é uma cidade onde as pessoas querem aceitar Bitcoin.
Não querendo puxar o saco do BCH mas isso aqui é exatamente o que as pessoas querem quando pensam em Bitcoin City (nesse caso Bitcoin Island hehe)
— MrMoses (@MrMoses1911) January 29, 2022
A adoção voluntária SEMPRE vai ser melhor do que qualquer plano de desenvolvimento do estado
Saint Kitts é o futuro https://t.co/9QT6Lm4rmM
De acordo com @DavidBond77, no tweet original acima:
“A adoção no país de Saint Kitts & Nevis é tão difundida que você pode passar dias sem precisar de cartão de crédito ou dinheiro. Até os (…) taxistas estão aceitando como pagamento!”
Por que as pessoas deveriam usar Bitcoin Cash como dinheiro?
Bitcoin Cash é um protocolo cujo objetivo é ser um sistema de dinheiro eletrônico peer-to-peer.
O BCH surgiu após uma divisão na comunidade de desenvolvedores e entusiastas do Bitcoin, que identificaram problemas de escalabilidade no protocolo original, perceberam a necessidade de realizar algumas mudanças para resolver este problema e manter o objetivo inicial do whitepaper de Satoshi Nakamoto.
Foi então realizado um hard fork, criando uma nova blockchain apoiada por uma comunidade cujo foco principal é a adoção da tecnologia como dinheiro para o dia-a-dia das pessoas.
Saiba mais: Bitcoin Cash: o que é, para que serve e o surgimento da “Odebrecht do Bitcoin”
Um documentarista e entusiasta das criptomoedas, focado em adoção – Marc Falzon (@MarcFalzon) – tem viajado cobrindo casos de adoção real de cripto ao redor do mundo.
Em seu canal no youtube publicou um vídeo explicando porque as pessoas deveriam utilizar BCH e outras criptomoedas como dinheiro, usando o caso da ilha do Bitcoin Cash como exemplo, demonstrando o que uma adoção voluntária realmente significa.
Falzon dá alguns motivos para que isso ocorra:
Motivo 1 – Não existe reembolso
Ele explica que, principalmente para as pessoas que possuem uma loja online, um comprador pode realizar um pedido via cartão de crédito ou pagamento bancário e depois solicitar o estorno do valor da compra, alegando que nunca recebeu, ou algum outro motivo que ‘justifique’ o reembolso.
Em alguns casos realmente pode ser uma solicitação legítima, mas em tantos outros casos, é apenas fraude. Então o comerciante envia o produto e não recebe o dinheiro correspondente.
Com Bitcoin Cash (BCH), ou outras criptomoedas, não existe estorno coordenado por um terceiro de forma imperativa.
A blockchain é inviolável e as transações são probabilisticamente irreversíveis (probabilistic finality), ficando cada vez mais difíceis de se reverter a cada nova confirmação de bloco, graças à Prova de Trabalho (Proof of Work).
Em criptomoedas como a Nano, por exemplo, a finalidade é determinística (deterministic finality), o que significa que após confirmada pela rede (normalmente em menos de 1 segundo), ela é definitivamente irreversível.
Claro que existe a possibilidade de estorno voluntário ou motivado por processo judicial, mas o dono da chave privada precisa fazer a devolução por conta própria. Ninguém tem poder sobre os fundos daquela pessoa, que não ela mesma.
Motivo 2 – Bitcoin Cash é sem fronteiras, inclusive em “sua” ilha
Uma das maiores “dores de cabeça” para quem vai viajar ao exterior é encarar o processo de câmbio monetário.
- Altas taxas cambiais por casas de câmbio e instituições financeiras, em um setor altamente regulamentado e, portanto, pouco competitivo.
- Dúvidas como: “Será que é o suficiente? Compro mais? Menos? Agora? Depois?”.
- Variação cambial (positiva ou negativa) tanto na ida como na volta do país da viagem.
- Burocracia, impostos, declaração e o medo de fazer alguma coisa errada.
- Aquelas migalhas que sobram no retorno para casa, que você nunca mais conseguirá trocar, nem usar em seu país. Dinheiro guardado, talvez para sempre.
Tanto o Bitcoin Cash como outras criptomoedas podem ser utilizadas em qualquer país e carregadas consigo em um aplicativo de smartphone. Sem limites de quantidade, sem dificuldades logísticas, sem declarações ou processos complicados.
Tudo o que você precisa é de pessoas dispostas a aceitarem aquela moeda como dinheiro e ninguém pode te impedir.
Para países como São Cristóvão e Névis, onde o turismo internacional é uma das principais fontes de renda da população, receber pessoas do mundo inteiro o tempo todo, que movem a economia local, aceitar uma moeda sem fronteiras é praticamente uma necessidade. É bom para os comerciantes e é bom para os turistas.
Motivo 3 – Taxas de transações
Bitcoin Cash possui uma grande vantagem sobre seu irmão, tanto para o consumidor quanto para o comerciante, que são suas taxas extremamente baixas.
Outras moedas – como Litecoin (LTC), também com taxas muito baixas; ou Nano (XNO), sem taxa nenhuma – resolvem o mesmo problema.
Taxas diretamente diminuem o lucro do negócio que precisa pagar por elas e também diretamente encarecem os produtos para quem compra.
No caso de uma simples pequena transação monetária (seja um empréstimo para um amigo, um troco, ou qualquer outro pequeno pagamento), as taxas são ainda mais significativas e podem ser um verdadeiro impedimento para que a transação ocorra.
Lembram-se do TED, antes da criação do PIX?
As pessoas não enviavam dinheiro digitalmente umas para as outras por conta das taxas e da demora de se processar uma transferência bancária.
Ainda com o PIX, os bancos já podem realizar uma cobrança arbitrária de taxas para processar o serviço.
Existem países que cobram imposto sobre cada transferência realizada (no Brasil queriam trazer a CPMF de volta).
Operadoras de cartão de crédito ou prestadoras de serviço de pagamento como Paypal, Pagseguro e Mercado Pago cobram tarifas sobre os pagamentos que vão de 2,50% até 4,99%. Algumas vezes com valores fixos em centavos.
Tudo isso afeta a economia, o valor de compra e quanto se recebe com a venda.
BCH, LTC, XNO e outras opções que resolvem o problema das taxas dão um ótimo motivo para qualquer um utilizar seu protocolo e sua tecnologia como meio de pagamento, para o que for.
Quanto mais pobre é um país, mais afetado pelas taxas ele acaba sendo, como é o caso de São Cristóvão e Névis – a ilha do bitcoin cash.
Motivo 4 – Privacidade
Dificilmente alguém vai gostar que um desconhecido tenha acesso a algumas informações pessoais – caso não seja necessário -, mas isso é exatamente o que ocorre quando você faz um pagamento (ou uma transferência de dinheiro qualquer) utilizando sistemas centralizados como o Pix, Paypal, Venmo ou cartões bancários.
Quem recebe o pagamento pode saber seu nome completo, CPF e algumas vezes até informações mais delicadas como endereço ou telefone.
Usando criptomoedas você não precisa fornecer estas informações, nem vinculá-las ao seu endereço de pagamento, se não quiser.
Quem recebe o pagamento consegue saber quanto o endereço tem de saldo, quais as transações que ocorreram antes dela, mas só.
Em protocolos com foco em privacidade, como é o caso da Monero (XMR), por exemplo, nem mesmo estas informações é possível ter. Garantindo uma maior segurança a quem transfere dinheiro ou faz pagamentos.
Alguns números da ilha do Bitcoin Cash
De acordo com Marc Falzon, nas últimas semanas foram pouco mais de 100 novos comerciantes que passaram a usar Bitcoin Cash em seus estabelecimentos.
No vídeo ele encontra um homem que chama de “Sony” e diz ser o responsável por todos estes novos comércios estarem aceitando Bitcoin Cash. Provavelmente é um entusiasta da comunidade que vem realizando uma ação direta com as pessoas de São Cristóvão e Névis, explicando os benefícios e colocando adesivos de “Aceitamos Bitcoin Cash” por toda a ilha.
Falzon pergunta quantos novos comércios aceitarão BCH na próxima semana e “Sony” diz: “Serão 200 para a próxima semana!”
E você… O que achou deste caso de adoção voluntária de criptomoedas?
Qual sua opinião sobre a ilha do Bitcoin Cash?