Apesar do bitcoin ser pseudo-anônimo, é possível inferir muitas características de diversas transações de BTC e muitas corretoras usam a transparência da criptomoeda para bloquear fundos, mas esse não parece ser o caso de uma corretora nacional.
Em uma discussão no Twitter sobre a ‘ossificação’ do código do bitcoin, ou seja, sobre a paralisação do desenvolvimento de novas funcionalidades no BTC, o entusiasta e escritor Gustavo Marinho e o dono da Walltime, Dolan Mica, começaram a discutir sobre privacidade.
O bitcoin tem um blockchain transparente. Imagine que sua conta bancária fosse visível para todos, mas as pessoas sabem apenas os números da conta e não quem está por trás dela, é mais ou menos dessa forma que o blockchain do bitcoin funciona.
Mas segundo Mica: “Não há nada que associe categoricamente uma pessoa a um endereço Bitcoin. Qualquer um pode cadastrar qualquer endereço, inclusive de terceiros, em exchanges. Além disso temos Opendime, LN etc. Mas o maior risco sempre está na conversão btc/Fiat, que um dia será desnecessária.”
Apesar disso, as pessoas já sentem as consequências da falta de fungibilidade do bitcoin. O site “Cemitério da Fungibilidade do Bitcoin”, ressaltou Marinho, mostra bloqueios de contas em exchanges, censura de mixings de bitcoin e blacklisting de endereços por governos e até por mineradores de BTC.
Por exemplo, com a excessiva transparência do Bitcoin, a empresa de dados Chainalysis em conjunto com o governo dos Estados Unidos conseguiu interromper o funcionamento do grupo de ransomware NetWalker.

Em outro caso a empresa de análises mostrou como a corretora Paxful usou seus serviços para detectar CSAM e outras atividades criminosas:
As corretoras de bitcoin em geral fazem distinção entre transações (UTXO) utilizando ferramentas de análise para barrar operações suspeitas.
Tratar todas as UTXOs de forma idêntica?
Ao ser perguntado se a corretora Walltime trataria todas as UTXOs (unspent transaction output) do Bitcoin de forma idêntica e se aceitaria depósitos da “Hydra [mercado negro], hackers da Bitfinex, etc.?”, Mica afirmou que trata todas as transações de forma idêntica.

Em outras palavras, para Mica não há diferença entre um bitcoin que veio direto de um minerador e outro que veio do roubo de alguma corretora e acabou passando por um endereço intermediário (que pode ser inclusive do próprio ladrão).
Como resolver o problema da privacidade e fungibilidade do Bitcoin?
O bitcoin não é privado, os próprios desenvolvedores da criptomoeda afirmaram isso em um recente paper chamado “Bulletproofs: Short Proofs for Confidential Transactions and More” no qual assinaram os desenvolvedores do Bitcoin Core Pieter Wuille, Greg Maxwell e Andrew Poelstra no qual afirmam:
“Embora o Bitcoin forneça algum anonimato fraco por meio da desvinculação de endereços de Bitcoin para identidades do mundo real, falta qualquer confidencialidade. Esta é uma limitação séria para Bitcoin e pode ser proibitivo para muitos casos de uso. Os funcionários gostariam de receber seus salários em bitcoin se isso significasse que seus salários fossem publicados no blockchain público?”
Os desenvolvedores sugerem a aplicação de transações confidenciais como uma sugestão de melhoria. Tal solução já é utilizada na criptomoeda Monero (XMR).
Apesar da ideia apresentar diversos pontos positivos, ela ainda aumentaria o espaço de cada transação usado no blockchain, mas melhoraria também a eficiência de quem precisa de anonimato e privacidade no mundo digital.
Ao ser extremamente transparente, o bitcoin abre as portas para prender criminosos, mas também para perseguir exilados políticos, jornalistas e pessoas que vão contra o sistema. Isso aconteceu com o “Comboio da liberdade” no Canadá, no qual os caminhoneiros receberam doações em bitcoin mas o governo canadense proibiu que as exchanges do país recebessem tais bitcoins.
E aí, o que você acha sobre os pontos do Mica? Você acredita que o Bitcoin é anônimo como o fundador da Walltime? Você aceitaria bitcoin que passou por alguma atividade ilegal?
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