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É o fim do Ethereum? Mais da metade dos blocos podem ser censurados

Fim do Ethereum

O Ethereum acaba de atingir 51% em uma métrica específica, que é considerada preocupante por entusiastas de descentralização e tecnologias neutras.


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Criado para se tornar uma plataforma aberta e não permissionada de aplicações descentralizadas, o Ethereum percebe agora que existem cerca de metade de seus blocos censurando transações que o governo dos EUA colocou em “lista negra”.

De acordo com o site MEV Watch, desde o The Merge, que aconteceu em 15 de setembro, a porcentagem de blocos censurando transações vem aumentando diariamente. No dia 14 de outubro, registrou 51% pela primeira vez.

Blocos em compliance com a OFAC.
Blocos em compliance com a OFAC.

Essa porcentagem se refere a blocos que seguem as regras de compliance da Agência de Controle de Ativos Estrangeiros dos EUA (OFAC, na sigla em inglês). Trata-se de uma inteligência financeira do Departamento do Tesouro americano que administra e impõe sanções comerciais e econômicas, tendo em vista a segurança nacional e objetivos de política externa.

Como relatamos anteriormente e temos acompanhado no Cointimes, a OFAC sancionou o contrato inteligente Tornado Cash, criado para melhorar o nível de privacidade das transações na rede Ethereum. Tendo isso em mente, algumas versões do software de criação de blocos no Ethereum já seguem as regras da OFAC para que validadores baseados nos Estados Unidos cumpram com as regulamentações locais.

Existem atualmente sete grandes versões deste software, chamado de “mev-boost relays“: Flashbots, BloXroute Max Profit, BloXroute Ethical, BloXroute Regulated, BlockNative, Manifold e Eden. Destes, apenas 3 não censuram de acordo com as listas da OFAC.

Muito embora isso possa ser considerado “over compliance“, já que o Departamento do Tesouro jamais fez exigências específicas para validadores no Ethereum. Por enquanto, os indivíduos diretamente afetados são aqueles que interagem com o protocolo com as suas carteiras.

E agora, acabou a resistência à censura no Ethereum?

Embora o cenário seja considerado preocupante para a maioria, a resposta para essa pergunta é não. Ainda não. Enquanto houver validadores dispostos a confirmar transações “sujas” ou inseridas em “listas negras”, seja lá como sejam chamadas, elas ainda contam com a segurança da rede.

Existem, no entanto, diversos pontos de preocupação aqui: sem cuidado com a privacidade, o usuário pode ser perseguido por transações consideradas ilegais sob alguma jurisdição e não há, por enquanto, garantia de que a rede prossiga resistente à censura.

Conforme o programador brasileiro de pseudônimo Lemure explica, “51% do poder de produção de blocos censurando transações do Tornado significa que um usuário precisa esperar ~24 segundos ao invés de ~12.”.

Mas, Lemure ainda acredita que a censura é um problema a ser monitorado. Segundo ele, existem soluções sendo discutidas, incluindo o Single Unifying Auction for Value Expression (SUAVE), um criador de blocos descentralizado que maximiza a competitividade e a diversidade geográfica.

Outra solução, discutida na conferência DevCon Bogotá pelo entusiasta de Bitcoin e Ethereum Eric Wall, é a criação de ‘regras sociais’ para o slashing, o corte (rejeição) de validadores que aplicam censura.

Contudo, em última instância essa questão pode acabar em (mais) uma bifurcação na rede Ethereum. Grandes proponentes e até Vitalik Buterin, co-fundador do Ethereum, apoia um UASF (User Activated Soft Fork) para defender a rede de censura. Em caso de não consenso, surgiriam duas redes, o Ethereum livre e o Ethereum-OFAC.

O Bitcoin está seguro disso?

Por enquanto sim, mas a resposta teórica também é não. Em escala muito menor, a fungibilidade do Bitcoin também já foi atacada neste sentido quando, no ano passado, a pool de mineração da Marathon sinalizou que estaria criando apenas blocos com transações “limpas”.

Porém, é importante lembrar como as reações negativas da comunidade fizeram com que a mineradora voltasse atrás. O CEO da empresa chegou a publicar um vídeo no Twitter se comprometendo com a descentralização, inclusão e falta de censura na rede Bitcoin.

Portanto, o Bitcoin está sujeito a um problema muito parecido, e a proteção contra a censura deve vir tanto a nível de protocolo quanto a nível social.

Mineradores de Bitcoin podem ser regulados também, e é por isso que é ruim ter grandes empresas de mineração listadas em bolsa. Só estou dizendo…“, tuitou John Carvalho, maximalista de BTC e CEO da Synonym.

Segundo os últimos dados da Universidade de Cambridge, a maior concentração de hashrate do Bitcoin encontra-se nos EUA, com 37,8%. O Ethereum, por sua vez, tem 48% dos nodes (validadores ou não) nos EUA, o que inclusive já fez a Comissão de Valores Mobiliários de lá, a SEC, assumir que o Ethereum está sob sua jurisdição (o que obviamente é um absurdo).

Atualmente, 4 pools de mineração alcançam mais da metade da distribuição de hashrate, de acordo com dados do blockchain.com. Esse número, apesar de pequeno, não é tão preocupante pela capacidade de um minerador rapidamente abandonar uma pool e direcionar seu poder computacional para outra.

Essa velocidade, como Eric Wall ressaltou em um debate recente com Justin Bons, é uma vantagem do Proof-of-Work do Bitcoin em relação ao Proof-of-Stake do Ethereum na batalha contra a censura. Na validação por stake, existe um período de trava da liquidez, o que diminuiria a possibilidade de rápida migração.

Por outro lado, a pegada energética da mineração de BTC não só tende a restringir a mineração em locais cuja energia é barata, mas também dificulta operações clandestinas. Como Lemure explicou em seu artigo “Qual o modelo mais resistente à censura, PoW ou PoS?“, a mineração pode deixar ativistas ricos em maior exposição ao risco.

Mas qual a sua opinião sobre esse assunto? Deixe um comentário abaixo ou entre na comunidade do Cointimes no Discord para conversar com outros entusiastas sobre a questão.

*Este artigo pode conter opiniões do autor (que não possui ETH em seu portfólio). É sempre importante fazer a sua própria pesquisa.

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