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Haddad e embaixador argentino querem moeda do Mercosul

Haddad e Daniel Scioli, embaixador argentino.

Em encontro nesta terça-feira (3) com o embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, o novo ministro da Fazenda avançou nos debates sobre sua proposta monetária para o Mercosul.

O objetivo, porém, não é a criação de uma moeda única para a região. “Isso não significa que cada país não tenha a sua moeda, significa uma unidade para a integração e aumento de intercâmbio comercial em todo este bloco regional. E, como disse o presidente Lula, fortalecer o Mercosul, ampliar a união latino-americana é muito importante”, esclareceu o embaixador argentino.

O entusiasmo de Haddad com uma moeda supranacional não é nenhuma novidade. Em abril do ano passado, ele e Gabriel Galípolo, atual secretário-executivo do Ministério da Fazenda, defenderam a proposta em um artigo publicado na Folha de São Paulo.

“O início de um processo de integração monetária na região [América do Sul] é capaz de inserir uma nova dinâmica à consolidação do bloco econômico [Mercosul], ao oferecer aos países as vantagens do acesso e gestão compartilhada de uma moeda com maior liquidez, válida para relações com economias que, juntas, representam maior peso no mercado global”, dizem os economistas.

A ideia é que a moeda seja emitida seguindo critérios de participação no comércio regional e seja utilizada para fluxos comerciais e financeiros entre os países da América do Sul. “Os países-membros […] teriam liberdade para adotá-la domesticamente ou manter suas moedas”, complementam os autores da proposta.

Situação da Argentina preocupa

A economia da Argentina não vai nada bem. A inflação do país sul-americano está quase na casa dos três (sim, três) dígitos. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas, que pertence ao governo argentino, a pobreza mais que dobrou nos últimos cinco anos. Por conta da fraqueza do peso, muitos argentinos estão optando por receber seus salários em criptomoedas. A busca generalizada por alternativas à moeda nacional obrigou o Banco Central do país a proibir que instituições financeiras promovam criptoativos a seus clientes.

Diante do caos instaurado no país vizinho, é inevitável ponderar se uma moeda comum não poderia ser utilizada como uma forma de melhorar a situação dos hermanos às custas do Brasil. Por mais que a ideia declarada não seja a de estabelecer uma moeda única, a “liberdade para adotá-la domesticamente ou manter suas moedas” pode abrir espaço para uma futura obrigatoriedade de unificação. Além disso, confiar na palavra de políticos pode ser complicado. Afinal, o fim da convertibilidade do dólar em ouro foi anunciada por Nixon em 1971 como uma medida temporária, mas quem desejava trocar a moeda americana pelo metal precioso está a ver navios há 52 anos.

Um dos temas discutidos por Haddad e o embaixador argentino foi o financiamento de um gasoduto que leva o nome de Néstor Kirchner através do BNDES. Néstor Kirchner foi um ex-presidente peronista que era casado com Cristina Kirchner, atual vice-presidente argentina, que foi condenada em dezembro a seis anos de prisão por corrupção.

Cuba e Venezuela possuem dívidas bilionárias com o BNDES por conta de contratos realizados nos governos petistas. Em 2006, a Bolívia usou o exército para invadir e tomar para si uma instalação da Petrobras no país. Comentando sobre o assunto em 2015, Lula disse que o ex-vice-presidente da Bolívia, Álvaro Linera, havia lhe perguntado antes da medida como ele se comportaria caso eles nacionalizasem a Petrobras. Lula respondeu: “Olha, o gás é de vocês, o petróleo é de vocês. Portanto, façam o que vocês quiserem”.

Tendo tudo isso em vista, o favorecimento do Partido dos Trabalhadores a governos ideologicamente alinhados, mesmo que às custas do Brasil, é um fato bem documentado. Resta saber se a medida proposta por Haddad será uma exceção à regra.

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