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Mt. Gox – O maior cisne negro do Bitcoin assombra o mercado com R$15 bilhões

Cisne negro e logo da MTGOX com o logo do Bitcoin

Há oito anos, a Mt. Gox protagonizou um dos maiores escândalos da história do Bitcoin. Em agosto de 2022, 137.000 BTC (~R$15 bilhões) voltam em circulação, após essa época sombria que marcou o mercado de criptomoedas. Entenda o que aconteceu e as consequências do, possivelmente, maior cisne negro do Bitcoin.

O que é Mt. Gox?

Mt. Gox foi a maior exchange de Bitcoin do mundo, que protagonizou o, possivelmente, maior cisne negro da história do ativo, que deixa marcas até hoje. Você conhece a história da MTGOX?

Veja a linha do tempo completa dos acontecimentos descritos aqui, neste WebStory exclusivo e mais visual!

Quem criou a Mt. Gox?

A empresa foi inicialmente fundada em 2006 por Jared McCaleb e se chamava MTGOX. Um acrônimo para Magic The Gathering Online Exchange, já que se tratava de uma plataforma para que jogadores de Magic the Gathering Online (MTGO) pudessem comprar, vender e trocar cartas do jogo entre si.

Em 2010, Jared começou a se interessar por Bitcoin e percebeu que não existia uma maneira fácil de comprar e vender o ativo. Ao identificar uma oportunidade de mercado e ainda ser dono do domínio mtgox.com, bem ranqueado em pesquisas e conhecido como um local de intercâmbio de ativos digitais, surgiu uma das primeiras exchanges especializadas em BTC do mundo: a Mt. Gox.

Dez meses após o lançamento da exchange de bitcoin, McCaleb vendeu a empresa para Mark Karpelès pelo preço de seis meses de faturamento bruto da exchange.

Alguns meses após assumir o controle da plataforma, quando 1 BTC valia cerca de 1 dólar (USD), a Mt. Gox dobrou seu volume de negociação, realizando cerca de 20.000 transações por dia.

Polêmicas e red flags na maior exchange de bitcoin

De acordo com Bishr Tabbaa – arquiteto das soluções web para a Amazon – em junho de 2011, ainda no começo da história da Mt. Gox, 25.000 BTC foram roubados das contas da maior exchange de bitcoin do mundo. Nos valores atuais são mais de R$2,75 bilhões, mas na época valiam cerca de US $400 mil.

O roubo, no entanto, era apenas uma parte de um ataque mais elaborado que envolveu técnicas de wash trading, em uma série de operações artificiais de trade – além de operações de short-selling (venda a descoberto) que tinham o objetivo de derrubar o preço do BTC de cerca de US $17 para US $0,01. Tudo isso utilizando os fundos roubados dos usuários da MTGOX.

A operação de short rendeu mais de 2.000 BTC de lucro para o ‘hacker’.

Conforme reportado por Miles Deutscher, os anos seguintes foram de mais polêmicas e red flags envolvendo a Mt. Gox:

  • Fork de março de 2013 na rede do Bitcoin, com a atualização da versão 0.7 para a 0.8; causando incompatibilidade, que fez com que Mark interrompesse as transações de BTC na MTGOX (23% de queda no preço BTC/USD);
  • Suspensão dos saques de bitcoin em abril (causando 50% de queda);
  • Processo com multa de US $75 milhões em maio;
  • Saques foram novamente suspensos em 20 de junho de 2013.

Mesmo assim, com todos estes problemas e red flags na Mt. Gox, o volume de negociação na plataforma continuou crescendo muito e chegou a dominar cerca de 70% de todas as negociações de bitcoin no mundo. Em dezembro de 2013, as receitas da empresa estavam em sua Alta Histórica (ATH).

Volume de negociação da Mt. Gox (em dólar).

Como medida comparativa, na semana passada (08 de julho de 2022) a Binance atingiu mais de 17% de todo o volume do ativo ao retirar as taxas operacionais de compra/venda, o que já significou uma porcentagem muito grande do mercado concentrada em apenas uma exchange.

Saiba mais: Volume de BTC negociado na Binance passa de $8 bilhões de dólares

O cisne negro do bitcoin: o que aconteceu na MTGOX?

Em fevereiro de 2014, após o melhor momento da Mt. Gox, com suas receitas quebrando recordes de entrada de capital e o Bitcoin sendo negociado por cerca de US $1.000 cada unidade – mil vezes mais do que quando Mark Karpelès comprou a empresa de McCaleb – o cisne negro começou a se formar.

Linha do tempo da Mt. Gox

Muitos clientes da MTGOX começaram a relatar dificuldades e grandes atrasos para sacar seus bitcoins das carteiras custodiais da exchange e no dia sete (07) os saques foram oficialmente interrompidos.

Três dias depois, em 10 de fevereiro, a equipe da exchange reportou ter encontrado um bug no software do Bitcoin, que permitiria alterar detalhes das transações, através do que foi chamado de: “transaction malleability” – “maleabilidade das transações”.

Nas duas semanas que se seguiram à reportagem, os clientes e usuários ficaram sem maiores notícias ou atualizações sobre o que estava acontecendo. Ainda impedidos de recuperar seus BTCs.

No dia 17 de fevereiro, o CEO (Mark) foi a público para dizer que:

“A Mt. Gox deve poder retomar os saques em breve (…) estamos comprometidos em resolver esse problema”.

Três dias depois, ele deixou seu cargo de conselheiro na Bitcoin Foundation, a MTGOX começou a apagar todo seu histórico de Tweets e comunicados públicos e o site da exchange de bitcoin saiu do ar.

Exchange de bitcoin fica insolvente

Saiba mais: Risco de insolvência no mercado cripto obriga transparência das exchanges

No dia 24 de fevereiro de 2014, um documento confidencial vazou para a imprensa, onde a Mt. Gox relatava que estava insolvente, após perder cerca de 850.000 BTC (~4% do supply total de 21M), que hoje valem cerca de R$85 bilhões.

No final do mês, quatro dias após o vazamento, a MTGOX oficialmente declarou falência e admitiu ter perdido 750.000 BTC de seus clientes, mais 100 mil BTC do caixa da empresa, confirmando os rumores do documento.

Investigações futuras descobriram que o roubo foi possível graças ao hack de 2011, onde os atacantes conseguiram, não só roubar os bitcoins, conforme reportado por Bishr Tabbaa, mas também as chaves privadas que davam acesso às carteiras da exchange.

Em março de 2014, a Mt. Gox divulgou um comunicado dizendo ter encontrado 200.000 BTCs, dos 850 mil roubados e em 2015, Nobuaki Kobayashi foi escolhido para representar os clientes da empresa que perderam dinheiro, no processo de reconciliação jurídica, tramitando na Tokyo District Court (Tribunal Distrital de Tóquio).

Em agosto do mesmo ano (2015), o ex-CEO Mark Karpelès foi preso por fraude, após encontrarem evidências de que ele vinha manipulando os computadores da Mt. Gox para forjar o saldo de seus usuários, enquanto roubava mais de US $2,6 milhões em fundos para uso pessoal.

Resolução do caso e 137 mil BTCs voltando em circulação

Em novembro de 2021 – no mesmo mês em que o Bitcoin atingiu nova Alta Histórica (ATH), em US $69.000 – o Tribunal Distrital de Tóquio formalizou o “plano de reconciliação” ao lado da Mt. Gox.

Comunicado da Mt. Gox, com o título em inglês: "Aviso de confirmação de ordem com plano de reconciliação".
E destaque no trecho em que afirma que o plano foi aprovado e confirmado no dia 16 de novembro de 2021.

No dia 06 de julho de 2022, os credores receberam um comunicado por e-mail, onde a equipe da MTGOX afirmou que os pagamentos do fundo de conciliação seriam iniciados dentro de um mês, em agosto deste ano.

Reprodução do e-mail com data de 06 de julho de 2022, da MTGOX para as vítimas que perderam bitcoin na exchange. Informando sobre pagamento.

São 137.890 BTCs, de acordo com o balanço do fundo, que equivalem a mais de 15 bilhões de reais na cotação atual de ~R$110.000,00 por bitcoin e os credores poderão receber os valores em Dólar (USD), Bitcoin (BTC) ou Bitcoin Cash (BCH).

Gráfico do Glassnode com informação do balanço da MTGOX em 07 de julho de 2022. 137.890,98034518 BTC no total. Em um preço de US $20.561,94 cada.

Possível despejo de BTC à mercado

A maioria das plataformas de notícias, portais cripto e influenciadores estão cobrindo o caso de forma negativa, pois existem possíveis efeitos econômicos de queda de preço que podem acontecer conforme estes bitcoins voltem em circulação, mas a verdade é que a resolução do caso é muito positiva e deveria ser comemorada.

Muitas vítimas terão acesso a uma parte de seu dinheiro perdido, oito anos atrás. Vidas foram arruinadas com o caso da Mt. Gox em 2014 e é extremamente positivo que uma parte das perdas estejam sendo restauradas.

Para o mercado, no entanto, isso pode significar impacto negativo para o preço no curto prazo, já que centenas de traders podem decidir por simplesmente vender os BTCs imediatamente após recebimento, para compensar pelas perdas passadas.

No longo prazo, o mercado se livra de um dos maiores cisnes negros de sua história. Ao eliminar esta “ameaça incerta”, isso também poderia trazer um cenário positivo de médio e longo prazo, com recuperação de preço mais saudável.

Cenários possíveis para o curto prazo

Alguns possíveis cenários do que pode ocorrer em agosto:

Traders que escolherem receber o pagamento da MTGOX em Bitcoin (BTC): Estes traders podem ter o objetivo de holdar para o longo prazo. Afinal, já são 8 anos de espera de um dinheiro que nem mesmo sabiam se algum dia iriam conseguir rever. Alguns podem interpretar estas quantias como “capital extra” e serem incentivados a holdar para o médio e longo prazo, melhorando a recompensa.

Outros podem escolher realizar seu lucro de forma parcial, vendendo as unidades gradualmente em uma espécie de DCA (preço médio) ao contrário, aproveitando pequenas altas de preço e criando uma “pressão de venda” mais diluída no tempo.

Traders que escolherem receber o pagamento em USD ou BCH: Estes traders criarão uma pressão de venda imediata, com o fundo de reconciliação tendo de trocar os BTCs a preço de mercado pela moeda escolhida. É a maior ameaça de curto prazo para o bitcoin, imediatamente no início dos pagamentos. Bitcoin Cash (BCH) pode ser beneficiado no curto prazo, devido à sua baixa capitalização de mercado em relação ao irmão-líder e à pressão compradora ao trocarem entre BTC-BCH.

Estes eventos de preço não necessariamente vão acontecer só em agosto, já que o mercado pode tentar precificar ambos os ativos com suas especulações já a partir desta primeira semana após-notícia (11 de julho), então vale observar os gráficos com a consciência de que os quase 138 mil BTC estão sendo precificados neste exato momento com o caso da Mt. Gox.

No momento de redação desta matéria, BTC/USD está sendo negociado em US $20.600,00.

E você, o que acha que vai acontecer? Se você estivesse entre os recebedores e pudesse escolher… Como gostaria de receber o pagamento? BTC, USD ou BCH?

Comente em nosso discord, no canal: #chat-cripto!

Leia mais:

Atualização (13 de julho de 2022)

Pesquisas têm demonstrado que 2 em cada 3 credores da Mt. Gox vão holdar seus bitcoins recebidos. Em uma conta rápida, isso poderia significar que, dos 137.890 BTC recebidos, poderíamos esperar a venda de pouco menos de 40.000 BTC no mercado de varejo.

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