Apenas uma pequena parcela da população usa ou sabe sobre o bitcoin, já imaginou se o mercado mundial começasse a adotar o bitcoin em massa?
Quais serão os movimentos do mercado brasileiro de criptomoedas se ele seguir a mesma tendência que o japonês? Vamos fazer uma análise completa do cenário e mostrar algumas projeções de preço e número de usuários.
Qual o potencial do mercado de bitcoin?
Bom, em uma análise mais básica o bitcoin seria um substituto do dinheiro comum, pelo menos era essa a ideia de Satoshi Nakamoto descrito no whitepaper – A Peer-to-Peer Electronic Cash System, o Cash não está ali por enfeite. Hipoteticamente se o bitcoin substituísse todo as moedas, notas e depósitos em cheque no mundo, qual seria o seu valor atual?
Precisamos ver qual é esse valor no mundo, por isso pegamos alguns dados do final de 2017. Vamos lá.
Cada quadradinho acima equivale a pouco mais de 100 bilhões de dólares em moedas. A soma de todos os valores equivale a aproximadamente 7,6 trilhões de dólares. Se pegarmos o total supply do bitcoin e dividirmos por esse valor teremos o equivalente a ~361.904,00 dólares/ bitcoin.
Ok, mas você pode achar que o bitcoin nunca dará certo como uma moeda e que ele será uma espécie de reserva de valor para o mundo. A melhor reserva de valor por milênios foi o ouro, vamos ver qual o valor do ouro mundo?
Há cerca de 7,7 trilhões de dólares em ouro no mundo, se apenas 5% desse mercado fosse direcionado ao bitcoin teríamos um marketcap de 380 bi, um pouco mais do que a capitalização na maior alta histórica do bitcoin (representada pela linha azul no gráfico).
Você poderia dizer – Ok Neto, essas são suposições maravilhosas, mas você realmente acha que a sociedade irá digitalizar sua riqueza? Confiar em algo que nem existe materialmente?
Não apenas acho que a digitalização do dinheiro irá acontecer, ela já é uma realidade. A maior parte do dinheiro no mundo está digitalizado, a imagem abaixo mostra isso, em verde temos o “dinheiro real” e em preto os valores digitalizados.
A maior questão não é se nossa moeda será digital, ela já é! E sim quem irá controlá-la, será a população ou os demiurgos do Banco Central?
O dinheiro estatal já perdeu a batalha contra criptomoedas
Uso do Bitcoin no mundo
Para respondermos a questão acima precisamos saber se a população e os atores econômicos têm dado suporte ao bitcoin. Para iniciarmos nossa análise precisamos levantar alguns dados, o primeiro indicador é a quantidade de wallets já criadas.
Claro, eu mesmo tenho dezenas de endereços, aliás, essa é a recomendação e o que as wallets modernas fazem. Elas geram novos endereços para cada transação. Ou seja, os 24 milhões de carteiras não significa que temos 24 milhões de usuários de bitcoin. Mesmo analisando os números da base de usuários das exchanges vemos que a maior exchange do mundo tem pouco mais de 20 milhões de usuários.
Com uma população mundial de ~7 bi e tendo como base o número máximo de 24 milhões de usuários, issso significa que menos de 0,34% da população mundial já utilizou bitcoin.
Se formos comparar com o crescimento da internet, estaríamos no ano de 1994.
Ainda estamos por ver o surgimento de um novo Jeff Bezos, não sabemos ainda quem será a “Amazon” das criptomoedas. Temos algumas alternativas na América Latina, mas o jogo está muito aberto:
Blockchain: Uma nova geração de startups
Entretanto nós já observamos alguns hubs se formando, no gráfico abaixo da Morgan Stanley Research podemos ver o volume de trade em criptomoedas por local. Podemos ver que alguns paraísos fiscais são os locais escolhidos para o trade de criptomoedas. Há sim incentivos fiscais nessa escolha, mas mesmo assim podemos notar que o Brasil fica muito atrás de países com economias menos desenvolvidas.
Temos uma visão mais clara sobre a divisão de capitais alocados por país quando analisamos as moedas envolvidas no trade de bitcoin. O Dólar divide espaço com o Yen japonês como a moeda mais utilizada no par btc/fiat.
Como a Coindesk indicou em sua pesquisa The State of Blockchain 2018 e como os dois últimos nos mostram, o framework legal influencia o volume de trade. É o caso do Japão que após a regulamentação viu uma enorme expansão no uso e trade de bitcoin, em contraste vemos a China, que apesar de ser a segunda economia mundial viu o volume de bitcoins negociados evaporar após regulamentação governamental negativa.
Perspectivas para o Brasil
É muito difundido na mídia que o Brasil tem mais investidores no mercado de criptomoedas do que na Bolsa de Valores, por mais que essa afirmação possa ser real, os números que a baseiam talvez não sejam exatos.
O motivo da falta de exatidão é que o cálculo para chegar ao número de 1 milhão de clientes em corretoras de bitcoin foi a simples soma de todas as bases de dados das principais corretoras. Conheço pessoas que têm conta na maioria das exchanges nacionais, é provável que esse número seja um pouco menor do que é anunciado.
Mais brasileiros em criptos do que ações
Mas talvez o número de usuários dentro das exchanges não importe tanto quando falamos de volume de trade e perspectivas de preço, pelo menos no curto prazo.
Assim como no Japão, é mais provável que com a entrada de grandes investidores institucionais, e, portanto a criação de uma regulamentação favorável, o mercado cresça de forma exponencial. Isso se deve a grande concentração de renda, no Brasil 1% da população conta com ~28% da renda.
Se o mesmo efeito da regulamentação positiva vista no Japão for aplicado ao ambiente brasileiro, levando em consideração o tamanho do PIB, desconsiderando fatores culturais assim como nível de poupança e renda, teríamos um volume 192.830,00 bitcoins negociadas diariamente, quase 500x maior do que o atual. Claro, esse é um cálculo simples que não leva em consideração diversos fatores, porém, podemos ver a importância do âmbito legislativo e dos investidores institucionais.
A regulamentação de criptomoedas ainda divide opniões nos governos
Perspectivas para além dos usos normais
Além de reserva de valor e moeda, o Bitcoin pode ser usado para diversas outras utilidades. Será possível utilizar um conjunto de tecnologias para, em apenas um blockchain, agregar diversos serviços em setores diferentes da economia.
Isso será possível com o desenvolvimento de novas tecnologias como a Lightning Network, RingCT, Bulletproofs e outras.
Por dentro da Lightning Network
Como exemplo de possível utilização temos a emissão de títulos de dívida, hoje o total da dívida global, acumulada por pessoas, governos e empresas é de 215 trilhões de dólares.
Em teoria seria possível utilizar contratos inteligentes e colored coins na segunda layer do bitcoin para tornar o processo de emissão de títulos mais transparente. Processo parecido foi feito pelo Banco Mundial, emitindo 110 milhões de dólares em blockchain.
Parte do total agregado do que consideramos dinheiro, cerca de 96 trilhões de dólares, pode ser transportado para o blockchain do bitcoin ou para uma segunda layer. Claro, a penetração nesses mercados envolve diferentes fatores, regulamentação, ambiente político, econômico e diversas variáveis macroambientais.
Portanto, é possível que o bitcoin cresça exponencialmente nos próximos anos, adicionando funções que nós não esperaríamos que ele fosse usado. O número de pessoas que o bitcoin já alcançou é minúsculo, menor ainda é o capital alocado nesse mercado. Veja o gráfico abaixo até o final, na última linha está o tamanho do mercado de criptomoedas, só dessa forma você terá noção do enorme potencial do bitcoin:
Courtesy of: Visual Capitalist