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Crítica | Netflix – Explicando: Criptomoedas

menina assistindo televisão

A mais nova série da Netflix é a Explicando. A série documental é produzida em parceira com o site jornalístico Vox. Toda semana um assunto novo é tratado em um episódio exclusivo. Dentre os escolhidos, estão alguns temas relevantes como mercado de ações, desigualdade econômica, etc.

No dia 06 de junho, a Netflix lançou o episódio “Criptomoedas”, um assunto que está em alta nos últimos tempos. Achei que seria um trabalho um pouco mais elaborado, por se tratar de uma série original da Netflix, mas a abordagem teve um teor muito negativo, semelhante à maioria das reportagens que saem nas grandes mídias do Brasil.

Nesse post compartilharei algumas impressões que tive enquanto assistia ao episódio. Vou buscar explicar algumas partes que ficaram um pouco distorcidas – talvez por falta de conhecimento ou incentivos perversos.

Este texto conterá spoilers a respeito da série, então é recomendável que você assista ao episódio antes de ler (são só 15 minutinhos). Quando terminar, você pode voltar aqui, ler minha opinião e compartilhar as suas impressões nos comentários.

Anonimato

A escolha de abertura do programa já foi a questão do anonimato, uma curiosidade muito grande de todo mundo que escuta falar sobre criptomoedas. A abordagem foi ao estilo clássico jornalístico – “comprar Bitcoin é muito simples, basta colocar seu cartão de crédito, adquirir suas primeiras frações e utilizar como a grande maioria dos usuários, com serviços ilegais”.

cena do documentário da Netflix sobre bitcoin
Segundo o documentário produzido pela Netflix, a maior parte dos usuários utiliza Bitcoins para fins ilícitos.

Quando eu li a palavra anonimato já sabia do que se tratava e previa o gancho para a questão da ilegalidade, dois erros muito comuns ao abordar sobre o tema.

Comprar Bitcoin não é tão simples assim quanto dito no texto – boa parte das negociações ocorrem em Exchanges, espécies de bolsas de Bitcoins, que oferecem um ambiente seguro e ágil para compradores e vendedores consigam negociar com tranquilidade. Todas essas bolsas possuem processos de KYC (know your customer), com o objetivo de identificar quem são as pessoas que estão negociando na plataforma.

Mais brasileiros em criptos do que ações

Quanto ao uso para atividades ilícitas, também não passa de um sensacionalismo falso. A Elliptic, empresa britânica voltada à prevenção e detecção de atividades criminais envolvendo criptomoedas, soltou recentemente um relatório mostrando que menos de 1% das transações envolvendo Bitcoin são para fins ilícitos. O estudo completo pode ser baixado neste link.

Hoje em dia, muitas pessoas compram Bitcoin como um modo de diversificação da carteira de investimentos, remessas internacionais e uma alternativa de reserva de valor. Por ser um ativo sem relação com qualquer governo ou país, é uma ótima alternativa para se prevenir contra instabilidades econômicas e políticas.

Por que alocar parte do seu capital em bitcoin?

Aposta

O segundo tópico escolhido pela Netflix foi a questão da especulação. O exemplo dado foi a Dogecoin, criptomoeda criada na brincadeira, que hoje possui um marketcap superior a R$ 1 bilhão.

dogecoin netflix
A série se refere ao ecossistema de criptoativos como uma “aposta” – tentativa de denegrir a imagem do mercado.

De fato há muita especulação envolvendo criptomoedas, mas isso é natural em qualquer mercado que tenha uma capitalização alta. A especulação, apesar do nome pejorativo, exerce um papel fundamental que é o de fornecer liquidez ao ativo.

Em defesa da especulação

Muito fácil

Quando chegou na parte da valorização do Bitcoin em 2017, a Netflix não perdeu a oportunidade de tentar atingir mais uma vez o público das criptomoedas. A série diz que “nos últimos anos tem sido muito fácil vender na alta”, mostrando uma sequência de jovens ostentando carros, artigos de luxo e vários YouTubers.

valorização do bitcoin e jovens sorrindo
Jovens ricos e ostentação foi a escolha da série para retratar os investidores de criptomoedas.

Não é e nem nunca foi “muito fácil”. O mercado de criptomoedas é extremamente volátil. A mesma “facilidade” de se vender na alta é a de ter prejuízo com uma queda. O risco deste mercado é muito elevado. É necessário um controle emocional muito alto para não vender nesses períodos de baixa, e aplicar seu capital consciente dos riscos. Não existe dinheiro fácil.

O modo como o investidor típico de criptomoedas é retratado tem um claro objetivo de denegrir a imagem do mercado. Temos sim diversos jovens que encontraram nas criptomoedas uma ótima forma de investir com mais praticidade e em um ambiente que já estão acostumados, a internet. Por outro lado, temos também diversos fundos de hedge e investidores tradicionais que aplicam em criptomoedas seja para especulação ou seja como uma alternativa de reserva de valor.

A queda da cotação também é abordada no episódio. Ao mesmo tempo, aproveitam para explicar os múltiplos meios de se perder dinheiro com Bitcoin – hackers, perda de senha, etc. É verdade que há hackers no meio, assim como há ataques em sites bancários, etc. Qualquer usuário que tenha cuidados básicos estará com seus fundos 100% seguros.

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Pontos Positivos

Não só de ataques ao Bitcoin foi feito o documentário da Netflix. Algumas explicações ficaram bem didáticas e estavam corretas. A explicação a respeito de Blockchain e todo protocolo de confiança criado por Satoshi Nakamoto é muito bem feita. De fato esta foi a motivação de criação do Bitcoin – criar um sistema eletrônico de dinheiro que pudesse ser negociado sem a necessidade de um intermediário, seja ele um banco, governo ou quem quer que seja.

Em geral, no que tange o Blockchain, as explicações foram muito bem feitas e brandas. O contrário do que fizeram com o Bitcoin. A impressão que me passa é que a produção da Netflix em parceria com a Vox seguiu a “moda” de alguns bancos e governos de tratar o Bitcoin como “doença” e vangloriar o Blockchain. E isso não poderia estar mais errado.

Blockchain sim, Bitcoin não – Julgamento equivocado

Netflix: Bitcoin vs Blockchain | Nota do material

Pela proposta da série, que como o próprio título diz, tem o intuito de explicar sobre determinados assuntos, achei que o episódio sobre criptomoedas foi muito fraco. Muito do que foi dito sobre o Bitcoin pode-se considerar como desinformação. Falta de conhecimento ou abordagem tendenciosa com outros interesses? Fica a questão. Para uma pessoa que vai buscar explicação sobre o assunto, é uma catástrofe. Provavelmente sairia pensando que é a pior coisa do mundo, ou coisa de bandido.

O sucesso recente das criptomoedas vem incomodando muita gente importante. Isso é evidente. A briga com os bancos é dura, e muitos portais de notícias têm interesse em denegrir a imagem das criptomoedas. Não é raro vermos casos de bancos fecharem, de repente, contas de usuários ou negócios que se envolvam com criptomoedas.

https://cointimes.com.br/videos/minuto-cointimes-bitcoin-proibido-banco-central-usdt-e-sec/

Por outro lado, a explicação a respeito de Blockchain foi bem feita, além das animações didáticas para abordar certos conceitos. A avaliação que faço é que o documentário Explicando – Criptomoedas, da Netflix, é nota 5. Todos os possíveis lados negativos do Bitcoin você sairá sabendo, mas não encontrará um lado positivo sequer.

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