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Michael Saylor quer regulamentação de todas as criptomoedas, menos do Bitcoin

Michael Saylor com um martelo e a palavra ban

Michael Saylor acredita que todas as outras criptomoedas que existem no mercado deveriam ser reguladas como “unregistered securities”. Além disso, pede que o governo tire fundos privados e exchanges cripto do jogo, enquanto apresenta sua empresa e outras relacionadas ao Bitcoin (Block, Square e Paypal) como intermediárias para seu uso como dinheiro.

Maximalismo de Michael Saylor

Existe um grupo de pessoas, com forte presença nas redes sociais, que se autodenominam “maximalistas de Bitcoin” e acreditam que o BTC seja a única criptomoeda legítima no mercadonão chame jamais o Bitcoin de ‘criptomoeda’ perto de um maximalista. “Bitcoin ≠ Cripto.

Um dos maximalistas mais vocais e reconhecidos pela grande mídia é o CEO da Microstrategy, Michael Saylor, que há alguns anos vem comprando a moeda com o capital de sua empresa, apostando nas características que podem fazer do bitcoin uma boa reserva de valor.

Propriedade digital “para sempre”

Saylor possui uma posição clara em relação à utilidade do BTC como uma propriedade digital colecionável, que nunca deve ser vendido ou trocado por produtos e serviços, afirmando inúmeras vezes que o dólar, ou stablecoins como o USDC são melhores moedas para o uso como dinheiro.

Saiba mais: Michael Saylor acredita que Bitcoin é melhor reserva, mas dólar é melhor moeda

Apesar da documentação da tecnologia criada por Satoshi Nakamoto em 2008 dizer outra coisa: “Bitcoin: um sistema de dinheiro eletrônico ponta-a-ponta”.

Em uma entrevista para o canal NorthmanTrader, o empresário e investidor reafirma sua posição, ao dizer que:

“Eu acredito que o Bitcoin é um destes ‘ativos para sempre’, como uma fazenda da família, ou  como um troféu. Como se você tivesse comprado um do New England Patriots, ou de outro time de futebol. Sabe?”.

– Michael Saylor, 00:06:36
recorte do vídeo de Michael Saylor: "uh I buy I don't sell"
Saylor diz: “Eu compro, eu não vendo” (00:54:50)

Contradições regulatórias – baseadas em interesse próprio

Ao oferecer um conselho (muito válido) para outras pessoas que, diferente dele, não vêem o bitcoin como algo “para sempre”, é de que tenham uma visão mais de longo prazo ao investir na moeda digital. Pelo menos de quatro a dez anos.

Na mesma entrevista, Saylor critica a política monetária do Federal Reserve (FED), dizendo que eles estão “forçando indivíduos não-profissionais [em investimento] a assumir riscos” ao elevar as taxas de juros e a oferta monetária do dólar de tal maneira que 99% da população precisa, obrigatoriamente, se transformar em traders, ou perderão valor sobre seu capitalo que eu também concordo como sendo um crime contra estes indivíduos.

Michael Saylor também mostrou como o Bitcoin é superior a outras formas de commodities, como ouro, prata, madeira, etc. Ao possuir um aumento da oferta previsível, diferente do ouro (XAU), por exemplo – que recentemente encontraram uma mina na Uganda onde análises mostram que poderia aumentar o supply de XAU em ~2,5 vezes o que tem hoje.

São posicionamentos válidos e a maioria dos entusiastas da nova economia digital descentralizada provavelmente concordam com o empresário, neste sentido, mas a conversa que segue traz outros argumentos que podem ser interpretados como ou (a) ingenuidade e falta de conhecimento sobre outros projetos legítimos – seja por falta de tempo ou interesse; ou (b) desonestidade de um monopolista que quer impulsionar seu próprio único investimento, agora passando por perdas milionárias.

Isso aparece a partir do 01:00:40, quando Saylor afirma que “Bitcoin é diametralmente o oposto de todo o restante do mercado cripto”. O entrevistador então diz que “neste caso é quando regulamentações passam a ser algo positivo para o bitcoin” e o maximalista concorda “é verdade”.

Ele acrescenta dizendo que as regulamentações teriam um peso positivo ainda maior se feita sobre os fundos de investimentos privados e exchanges que emitem “unregistered securities” e oferecem ou realizam alavancagens de “20x”. Tudo isso colaborando para uma maior volatilidade do BTC.

O que acaba sendo uma contradição, já que em 00:26:19 ele havia dito que:

“Nós vimos em um período de intervenção governamental sem precedentes e a intervenção monetária é mais frequente e mais extrema em todos os lugares, do que provavelmente já foi antes (…) e isso coloca o FED e Bancos Centrais em controle dos preços de todos os ativos, quando o que nós realmente queremos é que eles definam uma taxa de juros justa e caiam fora”.

Então Saylor parece entender a intervenção sobre o livre mercado e sobre as políticas monetárias como algo negativo, mas ao enxergar que o Bitcoin é a única commodity digital escassa legítima e todo o restante apenas “unregistered securities”, a regulamentação é uma “necessidade” para impedir que o preço do bitcoin caia ou seja volátil.

É um posicionamento claramente protecionista sobre o investimento que ele escolheu fazer (que não deveria ser regulamentado), garantindo o monopólio através da regulamentação sobre todas as outras tecnologias, protocolos e redes “concorrentes”.

“Se realmente regulassem tudo isso [unregistered securities] e proibissem todos os fundos privados cripto e exchanges de criptomoedas que exercem ‘influência indevida’ sobre o preço do bitcoin, isso faria muitas coisas. Isso imediatamente diminuiria a volatilidade”.

Não é preciso ser um especialista para saber que existem outros projetos legítimos, descentralizados e que possuem as características que Michael Saylor considera positivas no Bitcoin.

Alguns deles como Bitcoin Cash (BCH), Monero (XMR) e Nano (XNO), por exemplo. O universo de finanças descentralizadas é riquíssimo em variedade e inovação de diferentes soluções que seriam prejudicadas pela solicitada intervenção do maximalista, em prol de sua carteira e do caixa de sua empresa – Microstrategy.

É interessante notar que, na sequência (01:05:00), o empresário afirma que o grande ‘use case’ (caso de uso) do Bitcoin não está na rede do Bitcoin, mas em segundas ou terceiras camadas, como a rede da Lightning Network, promovidos por intermediários como Block, Square e Paypal ou até mesmo “minha companhia [microstrategy] trabalhando em ofertas sobre a lightning”estes não deveriam ser regulamentados, de acordo com Saylor.

recorte do vídeo com Michael Saylor e o entrevistador: "companies like my company is working on lightning offering".
Fonte: 01:05:14

Conforme ele continua falando, o maximalista tenta descrever de forma positiva um dinheiro rápido e eficiente através da Lightning, superando a capacidade da Visa, por exemplo.

O que sabemos que é incorreto, já que com a limitação de 7 transações por segundo do BTC, aberturas e fechamentos de canais na segunda camada jamais conseguiriam alcançar uma escalabilidade sequer semelhante ao de serviços centralizados como a Visa – fato este reconhecido no próprio whitepaper da lightning.

Fonte: 01:06:00

Michael Saylor então acaba, sem querer, citando características de outras criptomoedas mais rápidas e sem taxas, como a Nano (XNO).

“(…) que posso movimentar dinheiro cem vezes por segundo, sem nenhum custo (…) então quando as pessoas virem que é um dinheiro programável de alta frequência e também dinheiro de reserva de valor (…)”.

Dinheiro programável este, sem a necessidade de intermediários, como a própria empresa de Saylor.

Assista o vídeo completo da entrevista (em inglês)

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