A Flipper obteve um enorme sucesso em seu financiamento coletivo, mas enfrentou dificuldade com o PayPal após ter US $1,3 milhão preso com a instituição financeira. Bitcoin conserta isso?
A startup Flipper está desenvolvendo uma ferramenta portátil chamada de Zero, ela é direcionada para pentesters e geeks de hardware e parece um brinquedo. O Flipper Zero é de código aberto e pode ser usado para engenharia reversa de acesso a protocolos de rádio, hardware e sistemas, como TVs e portas de garagem.

Dezenas de milhares de entusiastas arrecadaram mais de US $4,8 milhões para o projeto, que está à venda ao público desde julho deste ano. Mas, embora as vendas estejam indo bem, a empresa não está recebendo boa parte desse dinheiro, graças ao PayPal.
“Foi um lançamento bastante grande, pois ficamos sem estoque por muito tempo até aquele momento e muitas pessoas correram para comprar o Flipper imediatamente após o anúncio”, disse Alex Kulagin, diretor de operações da Flipper Devices, a empresa que fabrica o Flipper Zero.
O Flipper Zero rapidamente se tornou popular, tanto como um dispositivo educacional como um que poderia fazer alguns truques. O pequeno dispositivo de hacking permite que as pessoas destravem carros e liguem e desliguem TVs. Kulagin negou que o Flipper Zero é uma ferramenta maliciosa de hacking e disse:
“Não damos nenhuma ferramenta ofensiva que permita aos usuários fazer coisas ruins, e com certeza não damos nada mais do que você pode com o Arduino e um par de módulos”.
O “Tamagochi de hackers” não foi bem recebido pelo PayPal?
Pouco antes do lançamento, a Flipper Devices decidiu dar a seus clientes mais opções de pagamento, inclusive através do PayPal. “Tivemos alguma experiência com o PayPal até aquele momento, e estava tudo bem – cobramos cerca de US $100.000 durante dois a três meses usando sua solução de pagamento e a retiramos com sucesso”, disse Kulagin.
O uso do PayPal foi uma grande oportunidade para a Flipper Devices, o que lhes permitiu vender seu produto a uma gama mais ampla de indivíduos”.
Cerca de dois terços dos clientes escolheram usar o PayPal para comprar o Flipper Zero. Em 24 horas, US $700.000 haviam desembarcado na conta da Flipper Devices no PayPal.
Mas logo o cenário positivo mudou. No mesmo dia, o PayPal colocou os fundos em espera, citando um “aumento anormalmente grande em sua atividade de vendas”.
“No início foi suave”, disse Kulagin sobre o congelamento do PayPal. “Eles deram acesso a parte dos fundos (tínhamos US $26.400) e [disseram que] liberariam o resto quando fornecido os números de rastreamento [o que acontece automaticamente através da integração do Shopify]. Não nos preocupamos muito nesse ponto”.
Porém, embora eles tenham fornecido todas as informações solicitadas, segundo eles, o PayPal continuou congelando os fundos.
A Flipper Devices foi então solicitada a fornecer uma série de informações, incluindo informações dos beneficiários, comprovante de identidade, comprovante de endereço, extratos bancários da empresa, comprovante de compra de mercadorias e comprovante de cumprimento de 10 pedidos aleatórios.
“Nós submetemos tudo o que eles pediram”, disse Kulagin, “mas eles continuaram rejeitando por diferentes razões. Primeiro, eles não gostaram do comprovante de endereço, depois do comprovante de compra de mercadorias, etc.”.
A Flipper então deixou de aceitar o PayPal como forma de pagamento, mas nesse ponto eles já tinham US $1,3 milhão em valores bloqueados na plataforma.
Em agosto, o cenário para a empresa era preocupante, e veio a notícia de que a conta estaria bloqueada por 6 meses, piorando a situação ainda mais.
“Descobri que nossa conta está totalmente bloqueada, [e] o dinheiro ficará em espera por 180 dias sem uma explicação clara do motivo, apenas: ‘Sua conta é inconsistente com nosso Acordo de Usuário’. Portanto, temos $1,3 milhão de dólares presos na conta PayPal, sem uma maneira clara de recuperar nosso dinheiro”.
E Flipper foi a público no dia 6 de setembro, criando uma thread no Twitter sobre o caso:
PayPal has blocked our business account and is holding $1.3M for more than 2 months without explaining what exactly they are not happy with. Even @PayPal support doesn't know what's going on. ⚠️This endangers the production of Flipper Zero in general. More details in thread 1/5 pic.twitter.com/vK4kBAyb0X
— Flipper Zero (@flipper_zero) September 6, 2022
Bitcoin conserta isso?
Muitos paralelos com a solução de pagamentos criada por Satoshi Nakamoto podem ser feitos com essa história. O primeiro, obviamente, é relacionado ao risco de custódia.
Quando seguramos dinheiro fiduciário em qualquer aplicativo, temos a certeza de que ele está ao alcance de um terceiro de confiança. E, infelizmente, até mesmo os maiores bancos já traíram a confiança de seus clientes, tanto por problemas internos quanto por termos de uso que não são claros o suficiente ou que podem ser mal interpretados.
O Bitcoin introduziu em 2009 a primeira forma de manusear valores pela internet sem a necessidade de um intermediário de confiança. Rapidamente, se tornou uma solução para a censura de soluções financeiras centralizadas. Diversos casos, inclusive, levam o nome do PayPal.
De fato, o Bitcoin ganhou notoriedade quando o PayPal congelou a conta do jornalista ativista pela liberdade de expressão Julian Assange. Isso aconteceu em 2010 e, curiosamente, acabou tornando Assange mais tranquilo financeiramente com milhares de bitcoins acumulados.
No Brasil, em 2020, o PayPal também fechou a conta do filósofo Olavo de Carvalho, que faleceu no início deste ano.
Agora, ironicamente, o PayPal é um dos grandes aplicativos de finanças que oferecem a negociação de criptomoedas para seus clientes.
Vale notar que existem soluções bitcoiners para financiamento coletivo, como a plataforma não custodial Tallycoin usada pelos caminhoneiros canadenses que foram censurados pelo GoFundMe. E ferramentas para receber inclusive com uma privacidade maior, como PayNym da Samourai Wallet.
Porém, como citamos anteriormente, o PayPal foi em parte responsável por um grande aumento nas vendas do aparelho hacker, e o bitcoin ainda não é tão utilizado para pagamentos. É uma questão de adoção para que a criptomoeda de fato comece a consertar esses problemas.
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