Ontem a noite (21) o mercado de criptomoedas foi surpreendido com o anúncio de que a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA poderia processar a Ripple pela venda de XRP. O token, claro, desabou. Mas caiu atirando.
Um documento publicado no blog da empresa dá um panorama geral da situação do ponto de vista da Ripple. Logo na introdução a empresa afirma que “a teoria da SEC, de que XRP é um contrato de investimento, está errada sobre os fatos, o direito e as ações”.
A empresa argumenta que o XRP é “um ativo digital com um ecossistema totalmente funcional e um caso de uso real como uma moeda-ponte que não depende dos esforços da Ripple para sua funcionalidade ou preço”.
Segundo o CEO da Ripple, Brad Garlinghouse, a decisão da SEC beneficiaria a China no mercado de criptomoedas. No documento, a Ripple afirma que Bitcoin e Ethereum são moedas controladas pela China:
“O XRP está consistentemente classificado entre as três principais moedas virtuais por capitalização de mercado – ao lado de bitcoin e ether, duas moedas virtuais controladas pela China que a SEC declarou que não são títulos.”
Fundador do Ethereum: XRP é shitcoin
Vitalik Buterin, co-fundador do Ethereum e uma das figuras mais influentes do mercado cripto, foi rápido ao responder as alegações no Twitter. Segundo o desenvolvedor, a XRP é uma shitcoin (moeda horrível) da Ripple.
Looks like the Ripple/XRP team is sinking to new levels of strangeness. They're claiming that their shitcoin should not be called a security for *public policy reasons*, namely because Bitcoin and Ethereum are "Chinese-controlled". 😂😂https://t.co/ts02JqrTrB pic.twitter.com/mKwEzGIetk
— vitalik.eth (@VitalikButerin) December 22, 2020
“Parece que a equipe Ripple/XRP está se afundando para novos níveis de bizarrice. Eles estão alegando que sua shitcoin não deve ser chamado de security por “razões de política pública”, principalmente porque Bitcoin e Ethereum são “controlados pelos chineses”.”
Em forma de piada, Buterin tuitou para o Porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China:
“Por que você não nos enviou um pedido? Devemos usar nosso nó mestre para fazer um fork e imprimir um pouco de ether para você?”
Há cerca de um mês, o CEO da Blockstream e desenvolvedor do Bitcoin, Adam Back, chamou a XRP de golpe. Com a empresa possuindo a maior parte dos tokens por conta de uma pré-mineração, a XRP sempre foi um ativo polêmico e bem criticado no mercado de criptoativos.
A Ripple está certa? Bitcoin e Ethereum são controlados pela China?
De acordo com o Mapa de Mineração de Bitcoin, publicado pela Universidade de Cambridge, cerca de 65% do hashrate da rede estava concentrado na China em abril deste ano. Porém, por mais contraintuitivo que isso possa parecer, isso não quer dizer que o país tem controle sobre a criptomoeda.
Por gastar energia elétrica, a mineração tende a se concentrar geograficamente onde a energia é mais barata. Mas apesar das maiores pools de mineração terem sede na China, o poder sobre a criação de blocos se mantém descentralizada.
Acontece que as pools são compostas por diversos mineradores individuais, que possuem total autonomia para saírem do grupo e se juntarem a outro, ou mesmo minerarem sozinhos, a qualquer momento. Sendo assim, elas não são esse ponto único de falha que os críticos tentam ressaltar.
Mas é possível um cenário hipotético onde os próprios mineradores escolhessem por coletivamente atacar a rede, por exemplo, realizando gastos duplos. Isso certamente causaria uma confusão, uma bifurcação na rede e a desvalorização das moedas. E é exatamente por isso que o cenário é extremamente improvável.
Como emissores da moeda, os mineradores são os principais beneficiados por fazerem seu trabalho de forma honesta: garantir a segurança da rede. Esse design de incentivos econômicos não é por acaso, Satoshi Nakamoto o descreveu em seu white paper e permanece funcionando perfeitamente até hoje. O modelo de consenso do Ethereum, que assim como o Bitcoin utiliza a “Prova de Trabalho” para manter a rede, segue a mesma lógica.