O Bitcoin nasceu com uma ideia encravada em seu primeiro bloco, nele a seguinte frase é escrita em código:
“The Times 03/Jan/2009 Chancellor on brink of second bailout for banks”
Satoshi Nakamoto, o criador do Bitcoin, estava protestando contra o uso de dinheiro público para socorrer instituições privadas. Grandes bancos e corporações estavam implorando por dinheiro dos pagadores de impostos para o Tio Sam.
As mesmas corporações que causaram a crise de 2008 foram socorridas, enquanto milhões de pessoas ao redor do mundo perdiam suas casas, empregos e vidas.
Criptoanarquia, a solução?
Timothy C. May criador do Manifesto Criptoanarquista
O dinheiro digital era o sonho dos chamados criptoanarquistas, ativistas que imaginavam um mundo em que a criptografia transformaria a sociedade.
Um desses ativistas é Timothy C. May, um engenheiro eletrônico que trabalhou como cientista sênior para a Intel, ele ficou famosos pelo seu Manifesto Criptoanarquista. Transcreverei aqui um trecho do manifesto e que vai ao encontro do que temos no bloco gênesis do bitcoin:
“Assim como a tecnologia da impressão alterou e reduziu o poder de guildas medievais e a estrutura do poder social, os protocolos de criptografia também vão alterar a natureza das interferências cometidas por empresas e governos nas transações econômicas.“
Acreditar no sucesso do bitcoin e de outras “criptoiniciativas” é apostar as fichas nessa mudança de sistema.
Não é por acaso que os primeiros usuários de bitcoin eram austro-libertários, um grupo de pessoas que acredita que a intervenção do governo na economia causa males para toda a sociedade. A ideia do uso do bitcoin inicialmente se baseava na ideia de libertar as pessoas das garras do estado.
Com o tempo, as opiniões foram mudando acerca do bitcoin. Perceberam que ele era um ótimo meio para transferências internacionais e que sua tecnologia poderia ser utilizada para diminuir custos de alguns processos.
Então a onda da cadeia de blocos (blockchain) começou, milhares de empresas entenderam e integraram essa tecnologia nos mais diversos processos.
Grandes investidores inundaram o mercado e no final de 2017 milhares de pessoas começaram a comprar bitcoin e outros criptoativos.
Mas todos eles estavam comprando pelos motivos errados, sem entender as implicações sociais descritas por Timothy, o que resta é apenas um ativo especulativo que serve mais ou menos para transações internacionais e à algumas funções “nerds”, que mostro no texto abaixo.
De repente todos estavam “investindo” no bitcoin, mas não aquele bitcoin que iria revolucionar a sociedade. Era o outro bitcoin, aquele ativo que faria você ficar rico do dia para a noite, essa era a promessa que se cumpria diariamente com o preço aumentando 15% em um dia, outros 5% em outro.
Todas essas pessoas compraram bitcoin, mas não compraram a ideia do Bitcoin. E não há nenhum problema nisso, entretanto, o sucesso do bitcoin está intimamente ligado ao seu gênesis, o que essa criptomoeda quer solucionar não é o problema de envio de transações internacionais, ela quer solucionar o problema dos bancos centrais.
Para você ter uma ideia do tamanho desse problema, a moeda que é a reserva de valor para todos esses bancos centrais e governos é uma grande fraude. Veja o texto abaixo para entender os motivos:
Como eu disse acima, não há problema se você não acredita na proposta de valor dessa criptomoeda. Há outras dezenas de projetos que se importam pouco com a descentralização (importante para manter o sistema resiliente a ataques governamentais) e a ideais.
Ethereum, Ripple e vários outros projetos preenchem a lacuna para aumentar a eficiência dos pagamentos internacionais, cortar custos na criação e execução de contratos, melhorar os processos logísticos. Assim como o Bitcoin, todos eles são projetos experimentais, muitos não completaram 5 anos de vida e estão sempre em constante evolução e melhoria.
Talvez você e milhares de outras pessoas tenham investido no “bitcoin errado”, ou nas funcionalidades que ainda não existem nele. Mas isso não muda o que Timothy C. May descreve em seu manifesto:
“O estado tentará, é claro, desacelerar ou deter a disseminação destas tecnologias …Mas isso não vai parar a propagação da criptoanarquia.”