O Presidente do Banco Central Roberto Campos Neto surpreendeu alguns entusiastas de criptomoedas com uma visão favorável ao mercado, resistente à regulamentações mais duras, uma posição otimista em relação ao supply (oferta) limitado do Bitcoin e questões relacionadas a demanda e escalabilidade de pagamentos.
Millenium Exclusive recebeu Presidente do BC
No dia 15 de agosto, segunda-feira, o Hotel Fasano, em São Paulo, sediou o Primeiro Millenium Exclusive, um evento exclusivo para apoiadores do Instituto Millenium, que recebeu o atual Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em uma entrevista.
Foram discutidos diversos assuntos relacionados com sua posição no BC, sobre a economia brasileira e mundial como um todo.
O presidente também comentou alguns pontos importantes relacionados ao mercado de criptomoedas, regulamentação, queda dos preços e o que seria preciso para que criptoativos como o Bitcoin (BTC), pudessem ser utilizados como moeda.
Inflação, juros, criptoativos, regulamentação e demanda
A entrevistadora trouxe uma pergunta de Cleiton Xavier, do Bradesco, sobre consequências econômicas e busca de rentabilidade de curto prazo, que abriu caminho para Roberto Campos Neto falar sobre o que está acontecendo com os criptoativos.
Pergunta: “Com o aperto monetário mundial, temos observado que algumas fintechs estão tendo problema em obter financiamento fácil como antes, o senhor imagina que esse mercado passará por uma consolidação? A busca de rentabilidade no curto prazo, passa a ser o principal desafio?”
O Presidente do Banco Central disse que é uma pergunta que também está relacionada às discussões no âmbito de regulamentação dos criptoativos, já que o aumento dos juros acabou re-precificando muitos ativos financeiros no mercado, inclusive as criptomoedas.
Ele também afirmou que o argumento dos entusiastas de Bitcoin (BTC) e outros criptoativos em relação a serem uma alternativa contra políticas monetárias inflacionárias, é legítimo e verdadeiro.
“(…) os Bancos Centrais não tratam o dinheiro muito bem (…) está todo mundo emitindo dinheiro achando que isso nunca vai gerar inflação. Pelo menos eu tenho um criptoativo aqui que eu sei que terá uma produção/lastro limitado máximo. Isso é verdade”.
– Roberto Campos Neto, Presidente do Banco Central
Mas também concluiu dizendo que essa verdade só é válida até o momento onde existe aumento dos juros. Já que esse aumento diminui a demanda pelos criptoativos, ao oferecer investimentos mais conservadores com melhor rentabilidade de curto prazo. A diminuição da demanda acaba afetando o desempenho de preço, por mais que exista uma oferta de inflação limitada e controlada.
Ele também comentou sobre discussões recorrentes no Banco Central e no meio político na necessidade de regular mais fortemente o mercado de criptoativos, já que muitas pessoas têm perdido muito dinheiro com as quedas causadas pela baixa demanda ou forte pressão vendedora, em um ambiente pouco regulado.
Roberto Campos Neto disse ser contra essa justificativa, já que todo mercado financeiro de risco também pode trazer perdas para os investidores e traçou uma comparação entre índices de criptoativos com índices de empresas de inovação, mostrando que ambos caíram em níveis muito parecidos. E já que essa queda não seria motivo válido para, por exemplo, fechar todas essas empresas de inovação, também não deve ser para os projetos e empresas de criptoativos.
O argumento do presidente do Banco Central sobre a queda de demanda, faz muito sentido, já que hoje, a principal demanda do Bitcoin e outros criptoativos, está na especulação financeira. Criando pouca ou nenhuma vantagem competitiva em relação a outros ativos financeiros especulativos – como ações da bolsa de valores, títulos, fundos de investimento ou índices de inovação.
É por isso que a adoção destas soluções como dinheiro, ou então para outros fins – como está começando a acontecer no mercado DeFi, NFTs, documentação, controle de cadeias de suprimento de grandes empresas e demais usos práticos da tecnologia blockchain – são muito importantes para criar uma demanda real que vai além da especulação pura.
A capacidade dos investidores assumirem total soberania sobre seus investimentos com bitcoin também é um diferencial muito grande, mas que ainda está sendo pouco aproveitado pela grande maioria dos hodlers, que preferem confiar a custódia de seus ativos a instituições centralizadas.
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Problemas de escalabilidade impedem as criptomoedas de serem moedas
Roberto Campos Neto também comentou sobre essa questão da demanda e uso como moeda, ao afirmar que uma moeda precisa ter duas características:
1 – Ser uma reserva de valor;
2 – Funcionar como meio amplo de pagamento
E ele não acredita que elas cumpram com a segunda função, já que hoje existe um problema claro de escalabilidade no ecossistema blockchain, mas que também já está sendo resolvido.
“Eu acho que essa inovação veio para ficar, as plataformas estão se aprimorando (…) hoje tem um problema de escalabilidade em tudo que é blockchain, esse problema de escalabilidade está sendo resolvido.” – disse Roberto Campos Neto.
Já existem uma série de projetos tentando solucionar os problemas de escalabilidade e capacidade de pagamento, como a Lightning Network (LN) para o Bitcoin, além de outras redes com diferentes tecnologias, focadas em eficiência como dinheiro digital descentralizado.
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Ele chamou a atenção para o The Merge, chegando no Ethereum (ETH), que permitirá a rede rodar sob um menor consumo de energia. Comentou também sobre os problemas da mineração nesse sentido e a existência de projetos que são mais eficientes no consumo energético e outros até mesmo que procuram colaborar diretamente com questões de sustentabilidade.
O Presidente do Banco Central afirma que essa tecnologia deve continuar crescendo e ela já está gerando inovações produtivas no mercado tradicional e que os problemas de financiamento de curto prazo, com as quedas de preço, fazem parte de um ciclo natural.
E aí, qual a sua opinião sobre essa entrevista do Roberto Campos Neto? Eu confesso que fiquei bastante surpreso com esse posicionamento do porta-voz do BC.
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