O presidente do Banco Central afirmou que o real digital (CBDC) será lançado ainda este ano e terá supply limitado. Será?
Criação do Real Digital (CBDC)
Uma CBDC é uma Moeda Digital do Banco Central (Central Bank Digital Currency) e essa tecnologia está recebendo forte investimento de diversos países que querem continuar competindo com o crescimento de moedas digitais descentralizadas, como o Bitcoin (BTC), Bitcoin Cash (BCH), Monero (XMR), Nano (XNO), Dogecoin (DOGE), entre outras.
No Brasil, a criação da CBDC será realizada em parceria com a corretora brasileira, Mercado Bitcoin e também a equipe de desenvolvimento da plataforma AAVE.
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Para os entusiastas das criptomoedas, uma CBDC é muitas vezes interpretada como uma ameaça, pois elas oferecem ao governo uma possibilidade de controle ainda maior do que o dinheiro custodiado por bancos, ao centralizar de vez todo o poder sobre o sistema financeiro no Banco Central.
A tecnologia do real digital poderia, por exemplo, permitir ao BC coletar impostos na fonte, cobrar taxas sobre cada transação, congelar e confiscar fundos no alcançar de um botão e criar novas unidades com menor custo e maior agilidade, podendo aumentar drasticamente a inflação.
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Lançamento em 2022 e oferta limitada
Durante um evento realizado nesta segunda-feira, 11 de abril, Roberto Campos Neto – presidente do Banco Central do Brasil – afirmou que o Real Digital está pronto para ser lançado em um projeto piloto ainda em 2022.
Por ser uma versão de testes, ele não estará disponível para toda a população em um primeiro momento e o Banco Central terá total controle sobre quem poderá utilizá-lo ou não.
Diferente do que acontece com moedas descentralizadas que utilizam uma blockchain não-permissionada, e podem ser utilizadas por qualquer pessoa, sem a necessidade de autorização prévia.
A concessão de permissão já é uma bandeira vermelha suficientemente grande que mostra o poder que a instituição central terá sobre a CBDC (se eles podem limitar os participantes hoje, eles podem limitar os participantes em qualquer momento no futuro).
Além disso, o presidente do BC afirmou que o Real Digital terá um supply (fornecimento ou oferta) fixo e limitado, assim como o Bitcoin.
Caso isso fosse verdade, a CBDC brasileira seria uma moeda completamente livre de inflação, mas não é bem assim que as coisas funcionam.
Um código de software pode ser modificado a qualquer momento com atualizações e forks.
O que protege o BTC de um aumento no seu supply, não é uma pré-definição desta regra no código (como Roberto Campos Neto dá a entender que será feito com a CBDC do Real), mas o fato de que o Bitcoin é uma rede descentralizada, onde não existe um controle central das decisões, que precisam sempre atingir consenso baseado no proof-of-work e na decisão dos nodes.
O código em si do bitcoin poderia ser quebrado e modificado, desde que os participantes aceitem essa modificação e cheguem a um consenso, como já foi feito algumas vezes, gerando forks (garfos ou divisões) na rede.
Desta forma, mesmo que o real digital venha com um supply inicialmente limitado, como seu controle é centralizado e seu “consenso” depende de apenas uma instituição – o banco central, a qualquer momento seria possível aprovar um novo decreto que permitiria a atualização do supply da moeda, voltando ao mesmo problema (e talvez até pior) que temos hoje com o BRL.
Essa conversa não passa de história para boi dormir e nenhuma moeda controlada por um banco central jamais terá a garantia de fornecimento máximo e limitado como o BTC e outras criptomoedas descentralizadas.
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