A diretora da Nano Foundation, George Coxon, respondeu algumas perguntas à revista mensal Mosaic Magazine do Instituto Global de Tecnologia, Zigurat, sobre a participação da Nano na economia global e seu potencial como dinheiro digital – em uma edição especial sobre blockchain.
Instituto Global de Tecnologia – Zigurat
O “Zigurat Global Institute of Technology” é um instituto educacional de tecnologia com sede em Barcelona, mas com atuação também em universidades de Brasília, Madri, Londres e Dubai; com mais de 20 anos no mercado de pós-graduação e mestrado em tecnologia.
O instituto lançou recentemente um novo programa de mestrado em inglês com especialização em blockchain chamado “Global Master’s in Blockchain Technologies” em parceria com 4 outras instituições globais especializadas.
Entre elas, a GBI – Global Blockchain Initiative, com sede em Londres, da qual George Coxon é membro do conselho.
George Coxon, Nano Foundation e dinheiro digital
George Coxon é diretora da Nano Foundation, fundação cujo objetivo é liderar o projeto e colaborar com o desenvolvimento descentralizado do protocolo da Nano (XNO) – de código aberto -, bem como trabalhar em prol da adoção do protocolo como dinheiro digital global.
Coxon também é diretora da empresa Appia de integrações de pagamentos digitais com foco em descentralização e privacidade.
Saiba mais: Vale a pena comprar Nano? 100 dias de análise fundamentalista
Tradução da entrevista para a Mosaic Magazine
A reprodução abaixo é uma tradução na íntegra da entrevista realizada pela revista mensal do Instituto Zigurat, com as perguntas (da revista) e respostas (de George).
P – Nano é provavelmente a solução para muitos problemas, mas especialmente para transações e pagamento digital. Por que você escolheu este desafio?
R – Existem cinco bilhões de pessoas no mundo que não possuem endereço residencial e, portanto, não têm acesso ao sistema bancário que consideramos garantido aqui no mundo ocidental. Nano quer corrigir exatamente esse problema.
Através da nano cada pessoa no mundo pode ser seu próprio banco se tiverem um smartphone e uma conexão à internet. Estamos tentando democratizar a economia global para todos, de forma descentralizada, dando às pessoas, especialmente em mercados emergentes e economias emergentes, fácil acesso ao tão necessário dinheiro.
Nano é atualmente o dinheiro digital mais eficiente com taxas zero, confirmações de rede em 0,2 segundos em média e uma emissão de carbono insignificante.

Saiba mais: Wikipedia sofre pressão para deixar de aceitar doações em criptomoedas; um estudo completo
P – Você acha que o mundo ocidental é muito arrogante para adotar pagamentos em criptomoedas mais rapidamente e usar um melhor dinheiro digital, comparado a transações mais seguras?
R – É tudo uma questão de consertar um problema no mundo real e não criar uma solução para um problema que não existe. As criptomoedas foram projetadas: “to bank the unbanked” (para ser o banco de quem não tem banco).
Eu acho que o universo de criptomoedas perdeu o rumo do propósito para o qual foi projetado e do que poderia alcançar em escala global, devolvendo poder às pessoas.
Nós transformamos o mercado neste faroeste especulativo e bagunçado onde a utilidade não está em foco, mas apenas os ganhos financeiros rápidos.
No entanto, isso é esperado quando, com pouca educação sobre o tema, o comércio de ativos é aberto pela primeira vez ao mundo todo, sem fronteiras.
Ainda assim, acredito que, até que uma tecnologia forneça uma utilidade que supere os sistemas financeiros existentes, seja com velocidade, custo ou consumo de energia, não há uso real para que ativos cripto sejam abraçados por bancos e instituições financeiras tradicionais, exceto por um mercado especulativo, com maior risco.
Nano é uma ferramenta para ser usado como e quando você desejar usá-la.
No mundo ocidental, estamos mimados com diferentes alternativas para remessas financeiras e taxas competitivas. Nesse cenário, nano é mais uma opção a ser considerada.
Já em mercados emergentes, nano é uma necessidade. Corrigindo um problema do mundo real que é a acessibilidade bancária, taxas exorbitantes para remessas com grandes atrasos nas transações e riscos atrelados.
Ao ser uma tecnologia única, nano está aqui para ser usada globalmente da maneira que funcione melhor para cada um. Em todos os aspectos do que o dinheiro pode ser, nano consegue ser melhor.
P – Um argumento comum que sempre é colocado na mesa é que a alta volatilidade das criptomoedas é um desafio no momento de realizar seu valor na proposição de utilidade pretendida – como dinheiro. Qual é a sua opinião sobre isso?
R – Eu acho que é muito relevante e importante dizer que este é apenas o começo do dinheiro digital. No entanto, todas as moedas são voláteis.
Existem aquelas com grandes oscilações de oferta devido à políticas monetárias; e outras com grandes oscilações na demanda devido a uma baixa capitalização de mercado; sendo ambas mais voláteis – fiat e cripto respectivamente.
Já que a Nano tem um fornecimento fixo, fixando e limitando para sempre sua oferta monetária, a volatilidade decorrente da oferta é inexistente.
Restando apenas a necessidade de melhorar a demanda, através de um uso real mais amplo.

À medida que a utilidade das criptos venha para o primeiro plano e o mercado especulativo passe por uma queda nos próximos anos, será muito interessante ver quais moedas, tokens ou tecnologias vão sobreviver no longo prazo.
Acreditamos que essa utilidade está no cerne da longevidade.
No mundo ocidental, o mercado ainda depende de instituições bancárias e serviços terceiros para custodiar “nossas” chaves privadas, destacando não apenas que a questão fundamental de realmente usar criptomoeda seja sua usabilidade, mas que esse mercado atual foi projetado para um mundo ocidental especulativo.
Então a questão é: para quem é a utilidade? Se for para realmente “ to bank the unbanked” revolucionando a economia global, então a proposição de valor de mercado muda completamente sobre o que é hoje, refletindo na tecnologia que melhor entregue essa utilidade. No caso, Nano (XNO).
P – Mas você acha que podemos colocar o sistema financeiro “nas mãos do povo” com um dinheiro digital? Isso não é algo com que os governos podem se incomodar?
R – Nós vemos a moeda como uma ferramenta para toda a humanidade, não algo a ser dividido em regiões políticas. O papel histórico predominante dos governos sobre as moedas divide-se em três categorias: anti-falsificação (protegida contra gasto duplo), políticas monetárias e curso forçado.
Destas três, a única funcionalidade realmente necessária para uma moeda é ser anti-falsificação (resolvendo o gasto duplo). Enquanto essa tarefa é extremamente difícil, envolvendo a polícia e o judiciário, para dinheiro em papel, ela é resolvida facilmente com a tecnologia da nano.
Já as políticas monetárias e o curso forçado são necessidades inerentemente políticas, que, infelizmente, muitas vezes vão contra os desejos dos indivíduos para o uso do dinheiro.
Nós acreditamos que, ao retirar o fator político da moeda, ela vai se tornar uma melhor medida econômica de valor.
Existe uma grande diferença entre a transferência de valor de forma descentralizada, por uma vasta quantidade de pessoas ao redor do mundo, do que governos controlando políticas monetárias.
Um ótimo exemplo de um governo falhando com suas políticas monetárias e os efeitos colaterais sobre sua população, foi o que ocorreu em 2016 na Índia.
O governo removeu duas notas do sistema de rupias equivalente a 86% da oferta do dinheiro no país. A razão para isso era para combater a “corrupção” no país.
O governo então deu um prazo de 12 horas para que as pessoas entregassem estas notas e as trocassem por algo que pudesse ser utilizado.
Agora, quem isso realmente afetou não foram aqueles em posições de poder devido à corrupção, mas pessoas normais – em áreas de menor nível socioeconômico – especialmente na Índia rural e especialmente mulheres que se casaram jovens ou foram apanhadas na armadilha de práticas abusivas em relacionamentos e não têm direito sobre seu próprio dinheiro.
Essas pessoas tiveram que, fisicamente e pessoalmente, passar por filas nos bancos para trocar suas notas (isto é, se é que ao menos tenham sido notificadas sobre isso, já que estamos falando da Índia rural, onde pode haver muito pouca conectividade) que poderia significar uma sentença de morte dependendo da cultura.
Agora… É aí que uma moeda descentralizada se faz absolutamente necessária.
Porque ninguém pode desligá-la ou descontinuá-la. Ninguém pode restringir acesso ao dinheiro, como vimos acontecer recentemente durante a pandemia do Covid-19.
Ao utilizar Nano (XNO), você tem a garantia deste direito em seu próprio smartphone (desde que tenha uma conexão com a internet), para gastar ou guardar seu dinheiro, da forma como preferir e quando preferir, 24 horas por dia, 7 dias por semana e 365 dias no ano.
E ainda falando sobre a pandemia – existe um grave problema de impressão de dinheiro – que foi potencializado nos últimos dois anos – onde 40% de toda oferta do Dólar americano foi posta em circulação nos últimos 12 meses – pense sobre isso por um segundo.
No entanto, do outro lado da esfera de envolvimento governamental com o dinheiro, você tem El Salvador declarando Bitcoin (BTC) como curso forçado, o que é uma situação infeliz por muitos motivos.
Mesmo sendo uma rede monetária descentralizada – o bitcoin não se adequa à proposta de ser um dinheiro digital (com grandes atrasos nas transações, custos elevados e alto uso de recursos energéticos) e carteiras custodiais ou outras soluções complexas acabam com o propósito de um dinheiro digital acessível.
A infraestrutura colocada em prática pelo governo de El Salvador permite apenas transações loteadas que não são “on-chain”, com a solução mais divulgada sendo em segunda camada – a lightning network – ainda assim mantendo o limite de transações na rede do bitcoin em apenas 7 transações por segundo.
Além disso, para o uso da Lightning Network, ambos os lados da transação precisam estar online simultaneamente (a menos que se utilize um serviço centralizado) durante a transferência. Isso não é dinheiro digital – especialmente em um país onde em algumas áreas não haverá uma conexão de internet boa e estável.
Então mesmo que El Salvador esteja fazendo um movimento interessante em direção à adoção de dinheiro digital descentralizado que devolve poder às pessoas, os efeitos colaterais de uma mal entendimento sobre a apropriação tecnológica para propósitos específicos – bitcoin para dinheiro do dia-a-dia -, está fazendo com que, nesse caso específico, comerciantes mais pobres sejam obrigados a aceitar o bitcoin, mesmo sem estarem preparados para o fazer.
Leia mais:
Nano pode estar se preparando para entrar em mercado trilionário de Forex e Remessas