Na terça-feira, dia 12, a Wikipedia recebeu a proposta da colaboradora – Molly White – com boa reputação na comunidade, para encerrar a aceitação de doações em criptomoedas, o que mobilizou diversos outros colaboradores com diversas opiniões sobre o tema.
Wikipedia e Molly White
Wikimedia é uma fundação sem fins lucrativos cujo objetivo é “trazer conteúdos educativos gratuitos para o mundo” através de projetos colaborativos como Wikipedia, Wiktionary, Wikiquote, Wikibooks, entre outros.
A fundação é mantida por doações e também com o trabalho de voluntários ao redor do mundo.
Um destes voluntários é Molly White, colaboradora de longa data na Wikipedia que edita sob o pseudônimo GorrilaWarfare.
Foi GorrilaWarfare quem submeteu a proposta para que a fundação encerre as doações em criptomoedas, e elencou 3 motivos para isso:
Primeiro, ela afirma que “aceitar criptomoedas sinaliza o endosso do universo de criptomoedas pela Wikimedia Foundation e membros do Wikimedia Movement”, acrescentando que ela acredita que a Wikipedia está “integrando o uso de ‘investimentos’ e tecnologia que são inerentemente predatórios”.
Ela também afirma que as criptomoedas “podem não estar alinhadas com o compromisso da Wikimedia Foundation com a sustentabilidade ambiental” e que a Wikimedia Foundation “corre o risco de prejudicar sua reputação ao participar disso”.
Wikipedia e as doações em criptomoedas
A organização sem fins lucrativos começou a aceitar doações de Bitcoin em julho de 2014, 8 anos atrás.
“Sempre foi importante para a Fundação garantir que a doação seja o mais simples e inclusiva possível”.
Disse Lisa Seitz Gruwell, diretora financeira, em comunicado, que continua: “Atualmente, aceitamos 13 métodos de pagamento diferentes que permitem doações de quase todos os países do mundo e, hoje, estamos adicionando mais um: Bitcoin.”
Nos anos seguintes, Wikimedia passou também a aceitar doações em Bitcoin Cash (BCH) e Ethereum (ETH), juntamente com o Bitcoin (BTC).
É interessante, pois existem muitos benefícios que justificam qualquer organização a aceitar criptomoedas como doações.
Para organizações globais e colaborativas, a adoção cripto é ainda mais benéfica, principalmente por eliminar barreiras fronteiriças e de câmbio, que envolvem questões legais, tempo de processamento e custos das transações, bem como sua conversão para a moeda local do país sede da organização.
As criptomoedas solucionam estes e outros problemas – algumas mais do que outras – e seu uso normalmente é muito positivo. Além de aumentar a quantidade de pessoas que poderiam fazer uma doação.
A nova proposta (de encerramento das doações em cripto) está sendo votada e discutida neste momento e a fundação já deixou claro que a decisão não será tomada baseada no número de votos, mas no mérito dos argumentos.
Uma grande parte dos comentários que demonstram apoio à proposta de Molly White são compostos por pessoas que não gostam do mercado de criptomoedas por motivos pessoais, políticos ou por preconceitos infundados, em sua maioria subjetivos.
O que não significa que estas pessoas tenham que gostar ou aceitar criptomoedas, mas que sua opinião não deveria interferir na aceitação ou não de doações por parte de uma organização.
Os outros argumentos são relacionados à características predatórias do mercado especulativo e de danos ao meio ambiente, devido à alta emissão de CO2 decorrente da mineração.
Mercado predatório
É evidente que existem muitos projetos fraudulentos, outros que são esquemas de pirâmide, outros que são piadas especulativas sem fundamentos e/ou participantes que tentam manipular o mercado, mas a generalização é igualmente predatória, pois projetos legítimos são “colocados na mesma cesta” que os golpistas.
Os golpes existem, mas o mercado não se resume a isso.
Existe uma série de criptomoedas que buscam solucionar problemas reais através de inovações tecnológicas. Saber filtrar é importante e não generalizar, também.
Além disso, o mercado é voluntário. E por voluntário me refiro à não ser coercitivo.
As pessoas são livres para decidir participar, utilizando seus próprios recursos e tirando suas próprias conclusões de pesquisas realizadas por elas mesmas.
Muito diferente de esquemas financeiros predatórios que atuam por meio da coerção, onde os participantes não têm poder de decisão e acabam sendo prejudicados por decisões de terceiros em seu nome.
Como é o caso da arrecadação pública por meio de impostos ou do uso de moedas de curso forçado que, normalmente, fazem parte de esquemas de pirâmide e sofrem manipulação dos participantes que detém seu controle, através da emissão de novas unidades (inflação real), lobby e políticas externas.
Em sua essência, as criptomoedas solucionam esse sistema monetário predatório que ainda prevalece por décadas.
Preocupações de sustentabilidade ambiental
Existem muitas abordagens possíveis sobre esse tema, vamos tentar cobrir as principais.
“Sustentabilidade ambiental é mentira inventada para cumprir com uma agenda progressista”.
Há quem acredite nisso e existem algumas evidências que defendem este argumento, apesar de existirem um número maior de evidências que o refutam.
Para aqueles que acreditam nisso, existe pouca ou nenhuma margem de discussão e ele também acaba sendo vinculado a algumas questões pessoais, políticas e subjetivas.
É inegável que existe uma pressão sobre a opinião pública a respeito de preocupações ambientais – muitas vezes hipócritas – e que muitas corporações e governos utilizam essa pressão para cumprir com agendas pessoais de controle, mas isso, por si só, não prova que não exista realmente uma ameaça de deterioração do meio ambiente.
O fato de uma pessoa má apoiar determinada pauta, não necessariamente transforma a pauta em algo ruim. Da mesma forma como um criminoso usar e apoiar o Bitcoin, não necessariamente transforma o Bitcoin em algo criminoso.
“A preocupação ambiental é legítima, mas hipócrita, pois existem coisas mais prejudiciais ao meio ambiente que o Bitcoin que continuam sendo utilizadas”.
O que faz bastante sentido. O Bitcoin tem sim uma alta emissão de CO2 e gasto de energia, mas ele não é o único.
Indústrias, produtos, mineração de ouro e até mesmo a impressão de notas de dinheiro são prejudiciais ao meio ambiente.
Existem longos e completos estudos que cobrem cada um destes pontos com propostas de soluções, métricas e comparações. Na própria proposta do Wikipedia é possível encontrar alguns destes.
Como por exemplo o fato de que cartões de crédito/débito, internet banking, ouro e pagamentos via carta gastam duas vezes mais energia que o Bitcoin.
Mas a defesa deste argumento não muda o fato de que algumas criptomoedas realmente são prejudiciais ao meio ambiente, ele só defende que elas não são as únicas.
“Existem soluções para minimizar o impacto ambiental”.
O maior impacto ambiental estaria em moedas que utilizam a prova de trabalho e dependem da mineração para se manterem seguras. Sendo que o uso e a adoção delas influenciam no tamanho do impacto.
O Bitcoin, líder em capitalização de mercado e com o ecossistema mais robusto em número de participantes, mineradores e nodes, acaba sendo o grande protagonista entre as outras criptomoedas em relação ao impacto ambiental.
O site Digiconomist mede algumas estimativas relacionadas à emissão de carbono, uso e gasto energético das criptomoedas.
De acordo com a plataforma, atualmente a rede do Bitcoin emite em CO2 por ano a mesma quantidade que o Kuwait – país árabe com 4,27 milhões de habitantes – 97,14 milhões de toneladas de CO2.
Em uso de energia elétrica, a rede distribuída globalmente consome o mesmo que toda a Tailândia, com 69,80 milhões de habitantes, usando 204,50 TWh para se manter em funcionamento.
O desperdício eletrônico é comparado com o desperdício de pequenos equipamentos de TI da Holanda.
Então se existe um consumo significativo de recursos escassos e a emissão significativa de substâncias nocivas ao meio ambiente e aos seres humanos, mesmo que outros sistemas também causem um ou outro efeito parecido, não seria errado tentar encontrar soluções para esses problemas.
Pelo contrário, passa a existir uma demanda real por soluções que minimizem ou solucionem os problemas por completo.
Em relação ao consumo energético, a comunidade do Bitcoin argumenta que, sendo o bitcoin algo realmente importante para a sociedade e cujo consumo energético está diretamente atrelado ao ganho monetário, isso gera incentivos para a exploração de energias alternativas e renováveis.
Resolvendo o problema da escassez energética e os efeitos negativos de um alto consumo.
Já vemos algumas soluções sendo aplicadas pelo mercado, como uso de energia solar, ou mineradores utilizando material orgânico (inclusive fezes) para produzir energia e sustentar os equipamentos de mineração.
Existe a aplicação proposta para a Bitcoin City em El Salvador, de utilizar energia vulcânica, também. Entre outras tantas.
Criptomoedas que não prejudicam o meio ambiente
Mas também não podemos nos esquecer que o universo das criptomoedas não termina no Bitcoin (BTC), nem no Ethereum (ETH), que, inclusive é muito citado como alternativa sustentável, principalmente com a vinda da nova atualização – The Merge – que deverá transformar a blockchain em POS (proof-of-stake), eliminando a necessidade de mineração e os problemas decorrentes dela.
Ethereum realmente poderia ser uma ótima alternativa, mas sua blockchain não foi desenhada para ser dinheiro. Ether é o token nativo e de governança de uma plataforma de contratos inteligentes e aplicativos descentralizados.
Que pode sim ser utilizado como transferência de valor e doações, mas ao não ter sido desenvolvido para isso, ele acaba sendo menos eficiente que projetos cujo objetivo é o de ser dinheiro.
Como foi o caso do Bitcoin (BTC) em sua criação e como é o caso de criptomoedas como Bitcoin Cash (BCH), Monero (XMR) e Nano (XNO).
Bitcoin Cash consegue ser uma melhor alternativa ao Bitcoin, por resolver alguns problemas de escalabilidade, aumentando o tamanho dos blocos e, com isso, conseguindo processar um maior número de transações por segundo, por um custo reduzido. O que favorece sua adoção por negócios e também diminui seu consumo energético e emissão de CO2 usado por transação.
Mas ele ainda depende da mineração e, portanto, também não é a melhor escolha caso o foco seja conseguir os mesmos resultados (transferir valores) com o menor consumo de recursos possível.
O mesmo vale para a Monero, que possui a grande vantagem de oferecer transações cujo foco está na privacidade dos usuários. Impossível de ser rastreada, sua solução e eficiência acaba sendo dependente da mineração – troca justa – e pode trazer os mesmos resultados de consumo com o aumento do número de transações.
Nano, por outro lado, consegue resolver o problema da escalabilidade e consumo de recursos ao apresentar uma solução diferente de tudo o que existe no mercado, através de uma metodologia de consenso chamada ORV (open representative voting), que não é nem proof-of-stake, nem proof-of-work.
O protocolo é simples e, às vezes, até considerado “sem graça”, por não contar com dezenas de funcionalidades. Seu objetivo é claro: Ser dinheiro digital eficiente.
Seu consumo energético é incrivelmente menor que o do Bitcoin – conforme comparação gráfica abaixo – e poderia ser uma alternativa interessante para o Wikipedia.
Além disso, nano também possui características que a fazem uma ótima escolha para ser aceita como doações por qualquer organização sem fins lucrativos.
Ao não possuir taxas, contar com transações que se completam de forma irreversível em menos de 1 segundo e não ter soluções de privacidade no protocolo, doadores podem fazer contribuições sem taxas; a ONG pode receber os valores integrais, sem perdas para terceiros; e ainda é possível auditar essas doações, alcançando uma transparência sobre o uso dos recursos maior do que qualquer outro meio de pagamento existente.
A nano é uma das preferidas por muitas instituições de caridade, como a @newstorycharity, por exemplo:
we ❤️ nano. thanks for the shoutout!
— New Story 🏡 (@NewStoryHomes) January 12, 2022
Saiba mais: Vale a pena comprar Nano? 100 dias de análise fundamentalista
Preocupação ambiental é uma tendência de mercado e não uma exclusividade da Wikipedia
Independente de nossa opinião política, a preocupação ambiental é uma tendência em constante crescimento em todos os mercados globais.
Das menores às maiores empresas, por parte dos consumidores, da mídia ou de apoiadores. Para empresas bilionárias – como a Tesla, que deixou de aceitar Bitcoin por questões ambientais – até projetos colaborativos de código aberto – como a Mozilla que passou por algo parecido com o que a Wikipedia está passando.
Não podemos ignorar que a pauta ambiental é cada vez mais recorrente e, cada vez mais, afeta as decisões de negócios.
Devemos ver uma constante como essa e projetos que foquem seus esforços em apresentar alternativas sustentáveis, devem ganhar holofote nos próximos anos.
Nano vem se posicionando neste sentido, bem como a Avalanche (AVAX), concorrente do Ethereum para contratos inteligentes e aplicativos descentralizados.