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Corrida aos bancos no Canadá; entenda o que está acontecendo

Homem correndo de uma marca mão com uma folha de mapple símbolo do canadá

Em muitas plataformas na internet estamos vendo especulações sobre uma possível corrida aos bancos no Canadá. Entenda por que existe essa possibilidade, quais as consequências e quais as soluções que as pessoas têm para proteger seu dinheiro de casos como este.

Ato Emergencial por Trudeau: Bancos podem congelar fundos

No dia 14 de fevereiro, o primeiro-ministro do Canadá – Justin Trudeau – invocou o Ato Emergencial, que é um ato de exceção para aplicação de medidas legais que seriam consideradas ilegais em uma situação normal, por violar alguns direitos humanos naturais básicos, normalmente protegidos por constituições.

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Como efeito imediato do Ato Emergencial, bancos estão autorizados a congelar contas bancárias de qualquer pessoa com qualquer suposta relação aos protestos, sem necessidade de comprovação ou julgamento jurídico.

Nas comunidades de criptomoedas, muitas vezes vemos o bordão “exchange não é carteira”, para ensinar às pessoas que armazenar seus ativos digitais em contas de intermediários (como exchanges) cria um risco a mais de perda dos fundos ou falta de liquidez, caso travamentos aconteçam por decisão da empresa ou de governos.

Poderíamos dizer, neste caso, que “Banco não é carteira”.


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Banco não é carteira e Fernando Collor demonstrou isso

Em 1990, o então presidente do Brasil, Fernando Collor de Mello, anunciou que os valores depositados nos bancos acima de 50 mil cruzados novos seriam confiscados.

Fernando Collor de Mello conversando com Fernando Henrique Cardoso

O valor na época seria proporcional a algo em torno de R$5.000, segundo estimativas do Banco Central.

Muitas pessoas se viram em situação de desespero e impotência ao assistir o sequestro de seu dinheiro, sem poder fazer nada a respeito.

São muitos os casos contados de pessoas que perderam tudo por conta disso, e até mesmo de mortes decorrentes de tratamentos médicos interrompidos. Uma tragédia nacional que demonstra a fragilidade em manter seus fundos sob a custódia de terceiros.

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Corrida aos bancos

Está se falando de uma possível corrida aos bancos por parte de canadenses que passaram a entender os riscos de perderem a liquidez financeira por uma decisão arbitrária anti-ética.

O que é uma corrida aos bancos

Corrida aos bancos – ou “bank run”, no inglês – é uma ato insurgente onde uma quantidade massiva de pessoas “corre” até os bancos para realizar saques em um curto espaço de tempo. Normalmente motivados por medos, dúvidas e incertezas sobre a segurança de seu dinheiro ou ante uma possibilidade de crise ou conflito armado.

Poster ilustrando uma corrida aos bancos - bank run

No mercado de cripto, uma “corrida aos bancos” é realizada todos os anos com o Proof of Keys Day (dia da prova de chaves), onde investidores são incentivados a retirar seus fundos das exchanges no mesmo dia – 03 de janeiro – para testar a liquidez e a honestidade destes serviços.

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O temor de uma “corrida aos bancos”, faz com que as instituições sejam obrigadas a realmente ter a liquidez dos fundos das pessoas – se mantendo honestas, garantindo que todos consigam acessar seu dinheiro caso desejem. 

Quais os efeitos de uma corrida aos bancos

Mas as grandes instituições bancárias no mercado financeiro tradicional nem sempre respeitam esta regrinha básica e dificilmente terão os fundos de forma líquida para que as pessoas saquem. Por mais absurdo que isso possa parecer.

Pense bem: Para fazer um saque de grandes quantias, você precisa avisar o banco com antecedência, assim ele pode liquidar os investimentos próprios realizados com o seu dinheiro para permitir seu saque.

Desta forma, caso realmente aconteça uma corrida aos bancos no Canadá, é muito possível o início de uma situação caótica onde os últimos a chegarem talvez não consigam acessar seus fundos, mesmo que eles não tenham sido “congelados”.

Bancos poderão fechar – até mesmo falir, dependendo da intensidade e volume da corrida – e podem haver complicações mais sérias.

Isso também poderia fazer com que mercados sejam afetados com variação negativa de preço já que os bancos estariam liquidando suas posições usando patrimônio de terceiros para conseguir entregar a demanda.

Criptomoedas auto-soberanas e ponta a ponta solucionam este problema

Um dos (muitos) problemas do dinheiro fiduciário, é que ele exige uma dependência muito grande de intermediários.

Guardar seu próprio patrimônio de forma digital é impossível sem uma empresa que faça essa custódia e a única forma de realmente ter total soberania sobre seus fundos é através do dinheiro em espécie, mas que oferece problemas de segurança, transporte e armazenamento dependendo da quantidade (além de deterioração das notas em papel).

Então as pessoas ficam sem opção e se vêem completamente dependentes de bancos e de instituições centrais como governos ou bancos centrais.

Caso estas instituições sejam honestas, não existe tanto problema assim, mas a situação fica extremamente grave quando elas são desonestas. E isso é o que ocorre em grande parte das vezes.

E é isso que está acontecendo no Canadá, atualmente.

Bitcoin (BTC) e outras criptomoedas auto-soberanas (self sovereign) e ponta-a-ponta (peer-to-peer) solucionam este problema.

Alguns exemplos são: Monero (XMR), Nano (XNO), Bitcoin Cash (BCH), Litecoin (LTC), Dogecoin (DOGE), entre outros.

Até mesmo tokens de plataformas de contrato inteligente são uma melhor alternativa, mesmo não tendo sido criados para ser dinheiro, como Ethereum (ETH), Cardano (ADA), Avalanche (AVAX), Fantom (FTM), entre outros.

Outras corridas ao bancos na história

1866

Overend, Gurney and Company sofreu uma corrida aos bancos em 1866. Foi constituída como uma sociedade limitada em 1865, mas com os baixos preços das ações ferroviárias, sofreu perdas.

A assistência do Banco da Inglaterra foi recusada e os pagamentos foram suspensos em 10 de maio de 1866. Seguiu-se um pânico. As pessoas ficaram desapontadas por não conseguirem tirar dinheiro dos bancos.

Corrida aos bancos na década de 1920, 1930 e 1970

A crise financeira de Shōwa foi desencadeada em janeiro de 1927, quando o Banco do Japão propôs resgatar títulos com desconto que havia emitido para bancos sobrecarregados após o terremoto do Grande Kantō.

A notícia resultou em rumores de que os bancos detentores desses títulos iriam à falência. As corridas bancárias que se seguiram levaram à queda de 37 bancos em todo o Império do Japão e à renúncia do primeiro-ministro Wakatsuki Reijirō.

Na década de 1930 diversas corridas aos bancos ocorreram no mundo todo graças à “Grande Depressão” ocasionada na crise financeira que se seguiu.

Em 1973 houve o incidente do Toyokawa Shinkin Bank. Quando em dezembro daquele ano, ocorreu uma corrida bancária no Toyokawa Shinkin Bank por causa de um boato de que o banco entraria em falência.

Corrida aos bancos na década de 1990

No início de 1994, milhares de clientes correram para os bancos na Espanha para sacar seu dinheiro.

O Banesto foi assumido pelo Banco de Espanha quando descobriu um rombo de capital de 450.000 milhões de pesetas (€ 2.704 milhões) nas finanças do banco.

Em 1999, ocorreu uma corrida bancária na Malásia, onde o Bank Negara Malaysia (o banco central da Malásia) teve que assumir o controle da MBf Finance Berhad, a maior empresa financeira da Malásia na época. Muitas das 120 filiais da companhia financeira tiveram seus depósitos executados, totalizando cerca de 17 bilhões de Ringgit (US$ 4,49 bilhões).

Corridas aos bancos do segundo milênio

  • Em 11 de dezembro de 2011, um boato foi espalhado via Twitter de que os bancos suecos Swedbank e SEB estavam tendo “problemas” e havia uma histeria menor na Letônia. As pessoas esvaziaram suas contas e, de acordo com a mídia local, havia longas filas de pessoas nos caixas automáticos.
  • Em 24 de março de 2014, o Jiangsu Sheyang Rural Commercial Bank em Yancheng, China, sofreu uma corrida bancária de três dias depois que surgiram rumores de o banco recusar uma transação de saque em dinheiro.
  • Em 20 de junho de 2014, o Banco Comercial Corporativo na Bulgária foi colocado sob vigilância especial pelo banco central após uma corrida bancária de uma semana, desencadeada pela acusação de 3 pessoas muito relacionadas ao banco por tentativa de assassinato de Delyan Peevski, um magnata da mídia e político.
  • Em 13 de junho de 2015, quando os bancos gregos reabriram após duas semanas de feriado, longas filas foram formadas em todas as agências bancárias.
  • A partir de 19 de abril de 2017, o Home Capital Group no Canadá começou a sofrer uma corrida bancária em seus depósitos depois que um relatório da Ontario Securities Commission foi apresentado que acusava o credor subprime de enganar seus investidores em 2015 com suas práticas de empréstimo. No início de maio de 2017, a corrida aos bancos ainda estava em andamento.
  • Em 13 de maio de 2019, um falso boato espalhado por meio de uma postagem do WhatsApp levou a uma corrida ao banco nas agências do Metro Bank no Reino Unido.
  • Em 14 de fevereiro de 2022, após uma declaração de lei marcial no Canadá devido ao Freedom Convoy, foi convocada uma corrida bancária nacional espalhada por toda a Internet e houve relatos não confirmados de caixas eletrônicos ficando sem dinheiro.

Uma questão que fica é, após uma corrida aos bancos e com o dinheiro em mãos, como as pessoas irão proteger seu patrimônio?

É possível que o Canadá perceba ainda mais a importância do Bitcoin e outras criptomoedas e, inclusive, direcionem seu dinheiro para estas alternativas mais seguras e soberanas.

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